Iniciativa inédita para conservação dos polinizadores no Brasil, o Programa Observatório Brasileiro de Abelhas foi lançado, no último dia 12, em um workshop voltado para técnicos de defesa agropecuária do País.
O projeto, que tem coordenação conjunta da Embrapa Meio Ambiente e do Ministério da Agricultura e Pecuária, foi criado em resposta a demandas de diversos setores da sociedade. Seu objetivo é conduzir e apoiar ações voltadas para a redução da mortandade de abelhas no Brasil, em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas para 2030.
A iniciativa está sendo construída com parcerias governamentais e da iniciativa privada, a exemplo da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.). O programa opera em colaboração com agências estaduais de defesa agropecuária, visando superar a falta de dados padronizados e confiáveis sobre incidentes relacionados a abelhas.
O Observatório está desenvolvendo um sistema de informações para registrar sistematicamente esses incidentes, identificar possíveis causas de morte e reunir dados consistentes em uma plataforma nacional oficial.
A sistematização e consolidação dessas informações permitirão análises técnicas e científicas dos possíveis fatores causais, capacitando as autoridades públicas e outros setores da sociedade a adotarem medidas para minimizar a perda de polinizadores.
Avanços significativos foram alcançados desde o início do Programa, em agosto de 2022, e foram compartilhados durante o workshop. O evento também incentivou a interação entre os colaboradores do Programa, fortalecendo ainda mais o Observatório de Abelhas do Brasil.
Lançamento
O workshop de lançamento foi transmitido ao vivo pelo canal da Embrapa no YouTube (onde ainda está disponível). O evento online ofereceu um panorama sobre o novo Programa e consistiu em três painéis centrais: 1. Ideação e Execução do Programa Observatório de Abelhas do Brasil; 2. Estrutura e funcionalidades 3. Atuação dos órgãos estaduais de defesa animal integrados ao Observatório.
Durante a abertura do evento, o chefe de Pesquisa & Desenvolvimento da Embrapa Meio Ambiente, Cristiano Menezes, expressou que a organização das informações disponíveis poderá fornecer dados sólidos para a tomada de decisões relacionadas ao risco de redução populacional dos polinizadores. “Os beneficiados serão o setor público, os apicultores, os agricultores e a indústria agrícola, que poderão implementar as melhores práticas para conservar os polinizadores”, disse Menezes.
Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), enfatizou a necessidade de um compromisso ético e de uma abordagem abrangente para a conservação das abelhas, destacando o papel crucial que esses polinizadores desempenham em nossos ecossistemas e na produção de alimentos. Ele ressaltou que a criação do Observatório é um passo crucial, especialmente considerando os desafios enfrentados pelas abelhas devido ao uso inadequado de produtos químicos no campo.
Agostinho expressou o otimismo de que a criação do Observatório, com sua abordagem colaborativa, incentivará a formação de parcerias para estabelecer um banco de dados confiável, que servirá como base para o desenvolvimento de políticas eficazes de conservação das abelhas. “A urgência em conservar todas as espécies vivas é inquestionável. No entanto, quando se trata de insetos polinizadores, especialmente abelhas, essa responsabilidade deve transcender o ordinário, devido à sua grande importância no equilíbrio ambiental”, afirmou.
Ana Assad, diretora-executiva da A.B.E.L.H.A., acredita que a conexão com produtores de pequeno, médio e grande porte trará benefícios para a sociedade como um todo. “O Observatório tem o potencial de unir e profissionalizar a apicultura e meliponicultura, integrando a atividade de criação de abelhas com a agricultura por meio dos serviços de polinização. Essa coexistência será muito bem-vinda para o desenvolvimento sustentável do Brasil”, afirmou Assad.
A bióloga Betina Blochtein, da coordenação executiva do Observatório, destacou que o Programa beneficiará aspectos importantes do sistema relacionado às abelhas, incluindo o aumento do número de registros de apicultores e a profissionalização do setor, além de promover capacitação em convivência harmônica e boas práticas agropecuárias e apícolas.
Ela explicou que o Programa também está comprometido em estabelecer uma rede integrada de laboratórios dedicados à saúde animal e detecção de agentes causadores dos incidentes com abelhas. Por fim, a plataforma de dados e o site informativo do Observatório trarão maior visibilidade ao tema e medidas práticas para reverter o cenário de mortandade de abelhas.
Flávia Viana Silva, do Departamento de Qualidade Ambiental do Ibama, ressaltou a importância de ter acesso a fontes oficiais de informações, uma vez que há poucos dados sobre as abelhas e sua mortandade. Por sua vez, Lucia Gatto, coordenadora de Produção Animal do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), acredita que trabalhar de forma mais rápida e colaborativa com informações que impactam as abelhas proporcionará sustentabilidade para aqueles que dependem dessa cadeia, com efeitos em todos os outros setores.
O software AgroTag-Abelhas, apresentado pelo pesquisador Luiz Vicente, da Embrapa Meio Ambiente, é um sistema abrangente e integrado de monitoramento que preencherá a lacuna de informações oficiais. Inspetores de órgãos sanitários oficiais poderão registrar ocorrências rapidamente durante a coleta, com base nas necessidades regionais.
Defesa agropecuária
Durante o terceiro painel, representantes de agências de defesa animal compartilharam suas perspectivas a partir de seus respectivos Estados. Renata Taveira, de São Paulo, enfatizou que, com o Observatório, será possível dar os encaminhamentos corretos às ocorrências.
Representante do Paraná, Ricardo Vieira destacou que a mortandade está acontecendo por uma série de fatores, como perda de habitats naturais, aquecimento global e uso inadequado de defensivos, e, por isso, é preciso usar dados confiáveis para chegar a soluções mais eficazes.
Já Antonio Amaral, de Goiás, comentou que o Observatório tornará possível dar respostas aos produtores, além do cadastro georreferenciado dos criadores do Estado. Noirce Lopes, do Mato Grosso do Sul, vê possibilidades de avanços do Programa em todo o País, com capacitações para apicultores e agricultores trabalharem com mais confiança e veracidade de dados. Por último, Aruaque Lotufo, representante do Mato Grosso, destacou a importância da conscientização do produtor para o cadastramento no órgão de defesa estadual, para possibilitar a investigação e o fortalecimento da rede diagnóstica.
Finalizando o evento, Cristiano Menezes enfatizou que acredita que é possível existir uma agricultura sustentável por meio da polinização sem morte de abelhas.