Com o crescente interesse em práticas agrícolas de baixo impacto ambiental, os produtos biológicos têm se destacado como uma alternativa viável para uma produção mais sustentável.
Na safra 2023/24, houve um aumento de 15% em comparação à safra anterior, com uma comercialização de R$ 5 bilhões.
Nos últimos três anos, o mercado cresceu a uma taxa média anual de 21%, quatro vezes acima da média global. Os principais cultivos beneficiados por bioinsumos no Brasil são a soja (55%), milho (27%), cana-de-açúcar (12%) e outros, como algodão, café, citros e hortifruti (6%).
Segundo Gisele Perjessy, Coordenadora Regulatório de Bioinsumos na CropLife Brasil, a seleção, edição e melhoramento genético dos microrganismos são as principais inovações. “Essas técnicas avançadas permitem criar produtos que controlam pragas e doenças, promovem o crescimento das plantas, melhoram a fertilidade do solo e aumentam a resistência das plantas em condições adversas”.
Entre as inovações, ela menciona a aplicação de raios ultravioleta e radiação para acelerar mutações em bactérias e fungos, facilitando a seleção de microrganismos com características agronômicas desejáveis. “Utilizamos microrganismos com mutações pontuais para aumentar a fixação de nitrogênio nas plantas, o que é um avanço significativo para a produtividade agrícola.”
Além disso, o uso de DNA recombinante em leveduras tem aumentado a eficiência dos processos de fermentação, enquanto os metabólitos produzidos por microrganismos geneticamente modificados oferecem novas possibilidades para a agricultura sustentável.
Para Gisele, as soluções bacterianas continuarão a dominar o mercado na próxima década, embora os produtos derivados de vírus e fungos aumentem a participação no mercado.
Mercado global
O mercado global de bioinsumos agrícolas em 2023 foi avaliado entre US$ 13 e 15 bilhões, incluindo todos os segmentos: controle, inoculantes, bioestimulantes e solubilizadores. A estimativa é que a taxa anual de crescimento global até 2032 seja entre 13% e 14%, o que corresponde a US$ 45 bilhões, valor três vezes maior que o atual.
O segmento mais representativo entre os bioinsumos são os produtos de controle biológico, estimados em 57% do valor acima. A previsão é que eles devem continuar como representantes da maior fatia desse mercado.
A projeção de crescimento é apoiada pela expectativa de EUA e Europa aumentarem a taxa de adoção de bioinsumos na produção de grandes culturas, a exemplo do Brasil, que tem uma das maiores taxas do mundo.
Vantagens e desafios dos bioinsumos
Os produtos biológicos de nova geração não apenas aumentam a produtividade, mas também são uma alternativa sustentável. “Esses produtos são mais compatíveis com outras misturas, têm maior validade e estabilidade, e não necessitam de câmara fria para armazenamento”, explica Gisele. Isso facilita o transporte e os trâmites de importação/exportação.
Além disso, as políticas públicas, como o Plano Safra, incentivam práticas sustentáveis com juros reduzidos. Além disso, alguns estados têm solicitado a priorização de crédito para essas mesmas práticas, reforçando o compromisso com a sustentabilidade na agricultura.
Entretanto, há desafios a serem superados. A liberação de microrganismos geneticamente modificados no ambiente requer avaliações de risco rigorosas e regulação específica. Além disso, a segurança jurídica e a proteção das patentes são cruciais para evitar a reprodução não autorizada das cepas.
Pilares dos bioinsumos
Quatro grandes fatores contribuem e devem sustentar o crescimento do mercado de bioinsumos no Brasil para os próximos anos:
- A contínua profissionalização e a expansão da indústria;
- O manejo integrado de defensivos químicos e produtos biológicos com efeito positivo para o controle de pragas e doenças cada vez mais resistentes na agricultura tropical;
- O aumento da adoção entre os produtores;
- Novas formulações e tecnologias em produtos biológicos, contendo cada mais múltiplos microrganismos e uma ampla gama de alvos.
Taxa média de adoção
Um fator de destaque é o crescimento da taxa média de adoção de bioinsumos por área, da safra 2022/2023 para a safra 2023/2024, que subiu de 22% para 23% incluindo todos os segmentos: controle, inoculantes, bioestimulantes e solubilizadores.
Em biofungicidas saiu de 11% para 12%, bioinseticidas de 19% para 21%, bionematicidas de 24% para 25%, bionoculantes de 61% para 63% e solubilizadores de nutrientes de 3% para 4%, nos principais cultivos.
Entre as culturas, destaque para os bionematicidas para o algodão e a soja; os bioinseticidas para cana-de-açúcar e milho; os biofungicidas para soja e milho; e os bionematicidas e os biofungicidas para hortifruti (HF).
Futuro dos bioinsumos na agricultura
Os bioinsumos estão caminhando para uma nova era, impulsionada por tecnologias como a mutagênese e a edição genética. “Essas tecnologias permitem desenvolver bioinsumos de segunda e terceira gerações, focados em melhorar a fixação de nitrogênio e outras funcionalidades”, destaca Gisele.
A expectativa é que essas inovações aumentem a eficiência e a adaptabilidade dos microrganismos, tornando-os mais eficazes e econômicos para os agricultores.
Nos próximos cinco a 10 anos, o mercado de bioinsumos no Brasil deverá crescer substancialmente, impulsionado pela adoção crescente entre os produtores e pela demanda por práticas mais sustentáveis. “Esperamos que os produtos biológicos de segunda e terceira gerações ganhem maior aceitação devido à sua capacidade de oferecer soluções mais precisas e eficazes”, prevê Gisele.
A entrada de grandes players internacionais também promete acelerar o desenvolvimento e a comercialização desses bioinsumos avançados.
Com políticas públicas incentivando práticas sustentáveis e uma indústria cada vez mais profissionalizada, o mercado de bioinsumos no Brasil deverá movimentar bilhões nos próximos anos, contribuindo significativamente para a agricultura brasileira e global.