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Ação e reação em nutrição e sanidade

Lucas Antonio BensoEngenheiro florestal e doutorando em Ciência Florestal – UNESPbenso.florestal@gmail.com

Lisandro de Proença PieroniEngenheiro florestal e doutorando em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESPlisandro.pieroni@hotmail.com

Cristiane de PieriBióloga, doutora em Ciência Florestal e docente do Curso de Engenharia Florestal – FAEF, Garça (SP)pieri_cris@yahoo.com.br

Floresta – Foto: Shutterstock

Dentro de um programa de manejo fitossanitário de plantios florestais, a nutrição mineral deve ser tida como elemento fundamental, visto seu impacto no crescimento das plantas e na redução dos prováveis danos ocasionados por doenças ou pragas.

Deve-se sempre preconizar que os nutrientes sejam fornecidos em quantidade e em formas químicas adequadas para a absorção pela planta, resultando em um bom estado fisiológico. Plantas bem nutridas respondem melhor contra estresses, tanto ambientais quanto ocasionados pelo ataque de fitopatógenos.

Demanda nutricional

As espécies vegetais possuem diferentes demandas nutricionais, estando essas necessidades associadas às suas características fisiológicas. Alguns elementos são essenciais ao desenvolvimento de determinada espécie, enquanto outros são considerados apenas como benéficos.

Entre os elementos considerados como benéficos para o desenvolvimento da maioria das espécies vegetais está o silício (Si), que não apresenta papel fundamental em processos fisiológicos, contudo, conforme diversos estudos têm demonstrado, esse elemento pode promover diversos efeitos positivos nas plantas.

Dentre esses efeitos, pode-se citar: maior resistência ao ataque de fitopatógenos (principalmente de fungos), a herbivoria por insetos-pragas, redução da fitotoxidez por metais pesados, maior tolerância a ambientes salinos e também maior tolerância ao estresse hídrico.

Ainda não é totalmente claro quais são os mecanismos associados ao aumento da resistência contra fungos promovido pela adubação contendo silício, porém, duas teorias são discutidas. A primeira relata a formação de uma barreira física promovida pelo acúmulo deste elemento logo abaixo da cutícula e junto à parede celular das células da epiderme da planta.

Essa barreira promove o aumento da resistência do tecido contra a ação de enzimas sintetizadas por parte dos fitopatógenos, dificultando assim a degradação e a colonização do tecido vegetal por esses microrganismos. Tal barreira também dificulta a penetração do fungo antes do início do processo infeccioso, reduzindo, além da severidade, a incidência da doença nos plantios.

A segunda teoria é sobre a formação de uma barreira química nos tecidos vegetais. A mesma usa como base a maior lignificação dos tecidos, alta atividade enzimática e acúmulo de compostos antimicrobianos, como os fenóis e as fitoalexinas (metabólitos secundários produzidos pelas plantas em respostas a diferentes tipos de estresse, como o químico, o biológico e o físico, agindo sobre os fitopatógenos, como a desorganização dos conteúdos celulares, inibição de enzimas fúngicas, ruptura da membrana plasmática, etc.) nas plantas tratadas com esse elemento.

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Diversas dessas substâncias têm a síntese aumentada após o contato da planta com o patógeno, porém, em plantas tratadas com silício, a produção dessas substâncias ocorre antes mesmo do fitopatógeno chegar na planta, prevenindo e protegendo contra a ação de microrganismos fitopatogênicos.

Esse mecanismo recebe o nome de indução de resistência. Assim, segundo inúmeras pesquisas em diferentes espécies, quando adubadas com silício, observa-se a indução tanto na formação de uma barreira física quanto química contra o ataque por fitopatógenos, consideravelmente os fungos.

Ação e reação do silício

O silício é o segundo elemento mais abundante na natureza (após o oxigênio), compondo aproximadamente 28% da crosta terrestre. Tendo o dióxido de silício (SiO2) a forma mais encontrada, possui como principais fontes o silicato de sódio e o silicato de potássio.

No entanto, esse elemento só se encontra disponível para assimilação pelas plantas na forma de ácido monossilícico (H4SiO4), presente naturalmente no solo em concentrações de 0,6 a 0,1 mM.

A absorção dessa molécula acorre principalmente através das raízes por meio de fluxo de massa, sendo transportando junto à seiva do xilema até a parte aérea da planta, se concentrando mais em folhas adultas do que em jovens. Ao longo do seu trajeto e nos tecidos foliares, o Si se deposita na parede celular, formando complexos orgânicos com os tecidos condutores, dessa forma, aumentando a sua resistência e estabilidade.

Normalmente, tecidos com alta concentração silício tendem a ser menos flexíveis e mais resistentes contra a degradação por fungos.

Manejo

A adubação com uso de silício é feita principalmente via solo, porém, pode ser feita também via foliar. Dentre as principais fontes desse elemento se destacam, devido ao potencial para uso agrícola, a escória de siderurgia, metassilicato de cálcio ou sódio, termofosfato e silicato de magnésio, potássio ou cálcio.

Devido ao potencial corretivo desses materiais, sua aplicação deve ser feita sempre levando em conta o pH do solo. Outro cuidado a ser tomado é o risco de contaminação do solo por metais pesados, como ferro (Fe), alumínio (Al), manganês (Mn), cobre (Cu), zinco (Zn), boro (Bo), dentre outros elementos que compõem os materiais tipicamente usados na adubação de Si.

Esses elementos, considerados como impurezas, podem ter um efeito negativo no desenvolvimento da cultura, limitando-a. A composição básica das fontes de Si citadas são principalmente o silicato de cálcio (CaSiO3) ou magnésio (MgSiO3), sendo utilizados na adubação via solo, enquanto que o silicato de potássio (KSiO3) é aplicado também via foliar.

A ação do silicato de magnésio e cálcio vai além do simples fornecimento de silício, visto que proporciona um destino ao resíduo industrial, promove a correção do pH do solo, aumenta a soma de bases (V%), a disponibilidade do fósforo, capacidade de troca catiônica (CTC) e os teores de cálcio (Ca) e magnésio (Mg) trocáveis, ainda auxiliando na redução da toxidez do Fe, Mn e Al no solo. De forma geral, os silicatos de magnésio e cálcio apresentam ação semelhante aos carbonatos no solo.

Nas florestas

As espécies vegetais diferem grandemente quanto ao acúmulo de silício em seus tecidos, podendo ser classificadas como acumuladoras, intermediárias ou não acumuladoras. O eucalipto, espécie florestal mais cultivada comercialmente no Brasil, é classificada como não acumuladora de silício, contudo, apresenta comportamento responsivo à aplicação desse elemento.

Diversos estudos já demonstraram a capacidade do eucalipto em absorver e acumular Si nos tecidos foliares, indicando a sua translocação. Nessa cultura, a adubação com silício empregando resíduos industriais, como a escória de siderurgia, pode ser uma alternativa economicamente viável, levando em conta o provável aumento da produtividade proporcionado tanto pela redução no ataque de pragas e fungos fitopatogênicos, quanto pela melhoria das propriedades químicas do solo.

Estudos demonstraram a eficácia da aplicação de Si via foliar ou radicular no manejo do psilídio de concha (Glycaspis brimblecombei) na cultura do eucalipto, sendo observado que a população do psilídeo foi menor nos tratamentos com aplicação de silício.

Resultados em campo

Já em relação aos fitopatógenos, a adubação com Si resulta na redução da severidade de doenças foliares, como exemplo, o oídio e a ferrugem do eucalipto. Propicia ainda maior enraizamento e produtividade em mini estacas e mudas de eucalipto.

Por aumentar a tolerância a situações de estresse, como deficiência hídrica e toxidez por metais pesados, a adubação com Si pode também reduzir a ocorrência de infecções por microrganismos aproveitadores.

Em mudas, a aplicação via foliar de ferro e silício promoveu o incremento em altura de 20% em mudas do cruzamento Eucalyptus grandis x Eucalyptus urophylla. No entanto, outros autores observaram a não resposta de mudas tratadas com adubação à base de silício ou o efeito negativo no seu crescimento devido à aplicação foliar ou incorporado ao substrato.

Os autores ressaltam que na adubação de mudas, assim como no campo, deve-se sempre levar em conta o potencial corretivo dos produtos à base de Si, reduzindo o risco da elevação do pH do solo ou substrato até níveis não favoráveis à cultura. Verificou-se, também, que o Si proporciona aumento da taxa fotossintética, consequentemente, podendo aumentar a matéria seca e produtividade do eucalipto.

Estudos em campo ainda são escassos sobre o impacto da adubação de Si no desenvolvimento das plantas, contudo, foi demonstrado que a escória de siderurgia é tão eficaz quanto o calcário dolomítico no fornecimento de Ca e no incremento do crescimento de árvores de eucalipto, podendo ambos serem aplicados em conjunto para suprir a necessidade de Mg e servir de fonte de Si.

Estudos têm indicado também que árvores de eucalipto toleram melhor solos contaminados por metais pesados após receberam adubação à base de silício, com incremento de até 80% em altura em relação às plantas não tratadas.

Cuidados essenciais

A adubação em campo com silício deve ser feita seguindo o cálculo do potencial corretivo do tipo adubo empregado, evitando-se desvios indesejáveis do pH. Deve-se levar em conta também a reatividade do adubo.

Normalmente, adubos mais finos têm maior reatividade do que aqueles de maior granulometria, sendo esses aplicados com maior antecedência em relação ao plantio das mudas para alcançar o efeito desejado.

Custos

Quanto aos custos, deve-se sempre levar em conta o frete do adubo até a seu plantio, de forma que seja viável o seu uso. Recomenda-se a aplicação de 0,8 t de Si por ha de eucalipto, sendo o custo da tonelada variável de acordo com a sua fonte e composição.

Levando em conta o custo de aplicação e o preço do insumo, o produtor pagaria, em média, R$ 80,00/ha, com um retorno de R$ 240,00/ha devido ao aumento da produtividade.

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