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Nilva Teresinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora do Curso de Engenharia Agronômica do Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal (UNIPINHAL)
Os ácidos húmicos e fúlvicos são componentes das chamadas substâncias húmicas, que são naturalmente encontradas em solos, sedimentos e na água, trazendo resultados na transformação de resíduos.
Tais compostos influenciam em inúmeros processos químicos e bioquímicos, como a capacidade de retenção de nutrientes, transporte de cátions e reações fisiológicas em microrganismos e plantas.
Os ácidos húmicos e fúlvicos
O uso de produtos à base de ácidos húmicos e fúlvicos na produção agrícola vem crescendo expressivamente nas últimas décadas em todo o mundo e, mais recentemente, no Brasil. Existem hoje no mercado nacional inúmeros produtos que contêm ácidos húmicos, extraÃdos de depósitos minerais (leonardita, lignita, etc.), solos orgânicos (turfeiras) ou obtidos por humificação de resíduos vegetais.
A matéria orgânica compõe-se de dois grupos fundamentais. O primeiro constitui-se de compostos, a maioria simples, de baixo peso molecular, utilizado geralmente pelos microrganismos como substrato. Entre esses compostos se encontram proteínas e aminoácidos, carboidratos simples e complexos, resinas, ligninas, álcool, auxinas, aldeÃdos e ácidos aromáticos e alifáticos.
Esses compostos constituem, aproximadamente, de 10 a 15% da reserva total do carbono orgânico nos solos minerais. O segundo é representado pelas denominadas substâncias húmicas, que são a fração insolúvel em meio alcalino ou em meio ácido diluÃdo – os ácidos húmicos – fração escura solúvel em meio alcalino, precipitando-se em forma de produto escuro e amorfo em meio ácido.
Quimicamente são muito complexos, formados por polímeros compostos aromáticos e alifáticos com elevado peso molecular, e grande capacidade de troca catiônica.
Combina-se com elementos metálicos formando humatos, que podem precipitar (humatos de cálcio, magnésio, etc.) ou permanecer em dispersão coloidal (humatos de sódio, potássio, amônio, etc.), finalmente, os ácidos fúlvicos – fração colorida que se mantém solúvel em meio alcalino ou em meio ácido diluÃdo.
Quimicamente são constituÃdos, sobretudo, por polissacarÃdeos, aminoácidos, compostos fenólicos, etc. Apresentam um alto conteúdo de grupos carboxÃlicos e seu peso molecular é relativamente baixo. Combina-se com óxidos de Fe, Al, argilas e outros compostos orgânicos. Possuem propriedades redutoras e formam complexos estáveis com Fe, Cu e Ca.
Influência direta nas plantas
As substâncias húmicas podem afetar diretamente o metabolismo das plantas por meio de mecanismos ainda não muito claros. São efeitos positivos no transporte de íons, na absorção de nutrientes, na respiração e na velocidade das reações enzimáticas do ciclo de Krebs, resultando assim em maior produção de energia metabólica.
Considera-se, ainda, que tais substâncias promovem incremento no conteúdo de clorofila, de ácidos nucleicos e de proteínas. Acredita-se que os ácidos húmicos absorvidos pela planta, em estágios avançados do seu desenvolvimento, são uma fonte de polifenóis, que funcionam como catalizadores da respiração.
O resultado é o aumento da atividade metabólica do vegetal; aceleração dos processos enzimáticos e da divisão celular, crescimento mais rápido da raiz e aumento de matéria seca.
No solo
Os ácidos húmicos, ainda, interferem diretamente na qualidade física do solo, por promoverem uma aproximação das partículas e, consequentemente, sua união, gerando, dessa forma, uma maior agregação dos solos, o que influi, diretamente, em outras características do solo, como, por exemplo, a densidade, porosidade, aeração, capacidade de retenção e infiltração de água no solo.
Algumas observações na literatura têm demonstrado os benefícios da introdução das substâncias húmicas na agricultura: tais substâncias apresentam efeitos positivos na germinação de sementes, desenvolvimento e crescimento das raízes e biomassa total, cor do solo, capacidade de retenção de água e nutrientes, complexação e quelação, além de ação fitohormonal.
Exercem, também, forte estímulo no crescimento radicular em plântulas de várias espécies, aumentando o número de sÃtios de mitose e de raízes laterais emergidas e a área superficial. Na cultura de soja, observações na literatura têm demonstrado efeitos positivos na produção, quando a aplicação ocorre no estágio vegetativo V4.