A agricultura não é uma simples atividade que oferece ao produtor alimentos para oferecer a outros, na verdade, é uma ciência. Um fenômeno científico que continua mudando a cada alteração no processo produtivo.
Portanto, é essencial manter um canto da mente aberto a todas as sugestões relativas à produção agrícola e às técnicas de cultivo. Sob este aspecto, a utilização de microrganismos para as mais diversas finalidades não é novidade.
Estes estão entre os principais produtores de enzimas, como amilases, lipases e proteases. Existem reações químicas que só são possíveis na presença de enzimas, pois são catalisadores biológicos, participando de decomposição de macromoléculas de gorduras, amidos e proteínas, por exemplo.
A aplicação de enzimas é uma alternativa aos processos químicos convencionais por se tratar de uma tecnologia mais limpa, que consome pouca energia e gera mínimo impacto ambiental.
A novidade é que estas aplicações chegaram ao campo, e são tidas como a próxima onda de revolução dos biológicos. A pouco mais de três décadas pesquisadores da Embrapa Agroindústria de Alimentos identificam, catalogam e preservam microrganismos produtores de enzimas de interesse industrial.
As linhagens foram isoladas e selecionadas a partir de amostras de solo, água e outras fontes da natureza.
Metabólitos e enzimas de origem microbiana
Para que um microrganismo possa ser utilizado na produção de enzimas deve ser, preferencialmente, seguro sob o ponto de vista biológico (status GRAS – generally recognized as safe); apresentar elevada capacidade de síntese e excreção da enzima; suportar condições ambientais adversas relacionadas com a pressão osmótica, a temperatura e a força iônica do meio; e ser tolerante à presença de substâncias tóxicas, que podem ser geradas no processo de tratamento da matéria-prima ou pelo próprio metabolismo celular.
Enzimas de origem microbiana
As pesquisas avançam no sentido de identificar quais são os metabólitos, exsudatos, e enzimas de origem microbiana, que através de sua iteração com o sistema rizosfera-planta-hospedeiro possam trazer ganhos e potencializar a produtividade, a sanidade de planta e sanidade de solo.
“Além de explorarmos os microrganismos já utilizados, e conhecidos na agricultura, é preciso testar o potencial de produção de enzimas de cada um deles em diversas condições nutricionais e ambientais, para evidenciar alterações positivas. Após este passo, é necessário o entendimento de quais são os exsudatos e enzimas que fizeram a diferença, e sob quais condições e meios estes se apresentam. O trabalho é exaustivo, mas os resultados são superiores a simples utilização do próprio microrganismo!”, afirma o engenheiro químico Jean Marcel Ragugnetti Furlaneto.
Esses estudos relacionados à produção e ao uso das enzimas, como a escolha do meio de cultivo, das condições de fermentação e tipos de reatores; bem como estudo de variáveis que conduzam à otimização do processo de produção e imobilização das enzimas podem levar a resultados inimagináveis.
Sabemos de algumas empresas dos agroquímicos tradicionais que já estão se utilizando das enzimas para potencializar a ação dos seus produtos”, posiciona Jean Marcel.
Exemplos dos resultados
Os processos enzimáticos representam ainda uma fronteira de conhecimento pouco explorada pela indústria. A expectativa é que as enzimas exerçam, em um futuro próximo, um papel fundamental e transformador em todo sistema agroindustrial.
“O que podemos afirmar é que em linhas gerais a simples adição de adjuvantes enzimáticos aos sistemas de manejo tradicionais, ou manejos integrados de pragas, potencializa minimamente em 20% a performance destes”, pondera o engenheiro químico.
Atualmente, tem-se resultados que vão desde a melhor eficiência na absorção nutricional, melhor eficiência no controle biológico de pragas, melhor eficiência no controle de doenças. “A presença por exemplo de quitinases de origem microbiana, auxiliam no controle e na eficiência do controle de insetos, as carboidrases, por exemplo, podem melhorar a retenção e biodisponibilização nutricional, as quitinases por exemplo desempenham papel importante no sistema de resistência a patógenos” conclui Jean Marcel.
Cenário nacional
No país, temos a única empresa da América latina a produzir enzimas e metabólitos através de microrganismos OGM, sendo pioneira e com habilitação no MAPA para trabalhar com adjuvantes enzimáticos.
Em escala global, estes produtos têm até nomenclatura própria (Enzyme Comission – EC 3.2.1.6/ 3.2.1.8 e 3.2.1.15), e já são sucesso em suas aplicações a campo. Atualmente, é possível encontrar nas prateleiras bons produtos adjuvantes enzimáticos de origem microbiana, e que além de possuírem a vantagem de apresentarem baixa incompatibilidade com os demais produtos do manejo, inclusive biológicos, ainda são biodegradáveis, de baixa dosagem e baixo custo.