Emanuele Possas de Souza
possasemanuele@gmail.com
Jolinda Mércia de Sá
jolinda.sa@unesp.br
Engenheiras agrônomas e doutorandas em Agronomia/Horticultura – UNESP
Antonio Ismael Inácio Cardoso
Professor titular do Departamento de Produção Vegetal – UNESP
antonio-ismael.cardoso@unesp.br
A alface é uma cultura de ciclo curto, variando de 28 a 65 dias, dependendo da variedade. Por isso, é necessário utilizar fontes de nutrientes prontamente disponíveis para que a planta consiga absorver esses nutrientes no período ideal.
Por outro lado, algumas fontes de nitrogênio (N) são facilmente lixiviadas ou volatilizadas antes que o nutriente seja absorvido pela planta, gerando sintomas de deficiência.
Consequências da escassez nutricional
A falta de N resulta em colapso e distúrbios na formação de cloroplastos, o que pode comprometer totalmente o desenvolvimento da cultura, deixando-a com aspecto amarelado. Para contornar a situação, os produtores tendem a realizar o fornecimento de N em abundância, excesso que também acarreta prejuízos à cultura, ao meio ambiente e ao produtor.
Por ser a alface uma hortaliça onde a parte comercializável são as folhas, é essencial o fornecimento de nitrogênio (N) para o incremento na produção de massa verde, já que este macronutriente é um importante componente estrutural de aminoácidos, proteínas, enzimas e participa de processos como a fotossíntese, respiração e multiplicação celular.
Atenção ao nitrato
Tendo em vista que as raízes absorvem o nitrogênio principalmente na forma de nitrato, nos casos de desequilíbrio entre sua absorção e a assimilação haverá um estoque deste íon, que ficará acumulado no tecido e reduzirá a produção de alface, por seu efeito tóxico.
Os efeitos diretos na alface vão desde a queima das folhas e aumento da suscetibilidade a doenças até o atraso ou comprometimento da colheita. Na questão ambiental, o acúmulo de nitrato causa a degradação do solo, lençol freático, rios e lagoas, nestes casos, podendo levar à eutrofização dos mananciais.
Por fim, haverá prejuízo financeiro para o produtor, que terá seus custos ampliados, ao aplicar maiores quantidades de adubos nitrogenados.
Nutrição na medida certa
Associado ao fato de ser um elemento facilmente perdido por lixiviação, volatilização ou desnitrificação, é imprescindível que o nitrogênio seja fornecido de maneira correta, adequando a quantidade e o tempo em que será disponibilizado, uma vez que afetará a qualidade final do produto.
Considerando que os preceitos da agricultura moderna são baseados na sustentabilidade dos sistemas, a maior produção em uma mesma área pode ser obtida a partir da incorporação de tecnologias e práticas que equilibrem a esfera econômica e ambiental, mantendo a boa qualidade do produto final.
Nesse sentido, o destaque são os fertilizantes de liberação lenta. Diferentemente dos fertilizantes de rápida liberação, como a ureia ou nitrato de amônio, que são muito conhecidos e utilizados pelos produtores, os fertilizantes de liberação lenta são aqueles em que o nutriente é disponibilizado de forma gradual, se estendendo por mais tempo, e assim consequentemente possibilitando que a liberação seja sincronizada com as necessidades da cultura.
Por meio deste mecanismo, é possível uma menor perda de nutrientes, aumentando assim a eficiência de seu uso.
Mais sustentabilidade
Pode-se atrelar o uso dos fertilizantes de liberação gradual à otimização da adubação, devido às menores perdas por lixiviação, reduzindo a poluição da água por excesso de nitrogênio e fósforo, além de contribuir para a preservação da biodiversidade aquática.
Isso porque a poluição da água por nutrientes em excesso pode prejudicar os ecossistemas aquáticos e os organismos que dependem deles.
Como os fertilizantes de liberação lenta são aplicados com menos frequência, isso também contribui com menos embalagens e resíduos associados à sua produção e uso, reduzindo a geração de resíduos sólidos e, consequentemente, promovendo a maior preservação de recursos naturais.
Eficácia dos fertilizantes de liberação lenta
De forma geral, assim como qualquer outro fertilizante, a eficácia dos fertilizantes de liberação lenta também está associada ao bom manejo do solo. Práticas agrícolas que contribuem com a estruturação física, química e biológica do solo, como consorciação, rotação de culturas, uso adequado dos fertilizantes, incorporação de matéria orgânica, cultivo mínimo, plantio direto, entre outras, devem ser priorizadas em busca do melhor aproveitamento dos nutrientes pelas plantas e melhora do sistema como um todo.
Nota-se que o uso de fertilizantes de liberação lenta é uma tecnologia, dentre as várias disponíveis para que a cultura possa demonstrar o seu máximo potencial em campo, sendo crucial que o produtor faça uma análise completa da área e adote práticas em conjunto, visando o manejo consciente.
Análise de solo, antes de tudo
A aplicação de fertilizantes na alface deve ser feita com base na análise do solo, que normalmente estima o teor de N de acordo com a quantidade de matéria orgânica. Para o cálculo da necessidade nutricional, é interessante consultar boletins e outros manuais de recomendações de adubação e calagem para a região de produção.
Ademais, existem estudos de curvas de crescimento da cultura que são uma ótima ferramenta para a identificação da necessidade de nutrientes em cada etapa de desenvolvimento da alface. Eles permitem a programação da adubação para o fornecimento no período correto.
Todavia, é importante relembrar que há diferenças entre o acúmulo de nutrientes na alface entre cultivares distintas. Para a adequação de todas estas informações e a indicação mais apropriada para área, o produtor deve sempre consultar um engenheiro agrônomo.