Marina Scalioni Vilela – Engenheira agrônoma, mestra e doutoranda em Agronomia/Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) – marinasv3p@gmail.com
A ureia é a principal fonte de nitrogênio (N) utilizada na cafeicultura. Entretanto, essa fonte é sujeita a perdas no campo, principalmente por volatilização. Como alternativa para contornar esses problemas, surgiram, então, os fertilizantes nitrogenados estabilizados, de liberação lenta e controlada.
Esses tipos de fertilizantes possuem como característica a liberação gradual do N no solo, com algumas diferenças entre eles. Nos fertilizantes nitrogenados estabilizados a ureia é tratada com aditivos para a inibição da urease ou da nitrificação, com a finalidade de estabilizar o N.
Os fertilizantes de liberação lenta, os quais não são revestidos, consistem na redução da solubilidade do N de sua composição devido aos polímeros de carbono (C) e N formados em seu processo de produção.
Portanto, sua liberação depende da decomposição dessas cadeias de C e N por microrganismos presentes na matéria orgânica do solo (MOS), podendo ser mais lenta ou mais rápida de acordo com condições que afetam a atividade microbiológica, como a temperatura, umidade, pH, teor de MOS e textura.
Já os fertilizantes de liberação controlada são aqueles nos quais a ureia, por exemplo, é revestida por materiais que promovem uma barreira física e controlam a liberação do N. Essa liberação ocorre de maneira gradual e em sincronia com as demandas do cafeeiro, não sendo dependente da atividade microbiológica do solo.
Benefícios
Esses fertilizantes de eficiência aumentada, devido à liberação gradual do N, otimizam a nutrição do cafeeiro por minimizarem as perdas e, por consequência, proporcionam ganhos no crescimento, desenvolvimento e produtividade. O nitrogênio é importante nesse sentido, visto que esse é o nutriente requerido em maiores quantidades pela cultura, sendo essencial para otimizar o potencial produtivo do cafeeiro.
Como implantar a técnica
A utilização desses fertilizantes segue a recomendação normal de acordo com a necessidade nutricional das plantas. Assim, a quantidade de N fornecida tanto por fertilizantes convencionais quanto de eficiência aumentada será a mesma.
Desse modo, a dose aplicada irá variar somente de acordo com a concentração de N no produto utilizado, com diferenças no modo de aplicação e parcelamento desses fertilizantes. A utilização de fertilizantes de eficiência aumentada pode ser realizada em apenas uma aplicação, com os riscos de volatilização minimizados, enquanto o fertilizante convencional, à base de ureia, deverá ser parcelado de três a quatro vezes, dependendo da lavoura.
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Produtividade
Os fertilizantes nitrogenados de liberação controlada disponibilizam o nutriente de forma gradual, reduzindo assim perdas por lixiviação e volatilização. Além disso, em função da forma de liberação, evita que se tenham picos de absorção na cultura, o que pode desregular o seu metabolismo.
Desse modo, o cafeeiro absorve de forma mais eficiente e em quantidade adequada o nitrogênio disponibilizado, favorecendo o melhor desenvolvimento das plantas, reduzindo o ataque de doenças com cercosporiose, que ocorre em função de desbalanços nutricionais, e proporcionando assim ganhos em produtividade.
Comparativo
De acordo com alguns trabalhos realizados, esses fertilizantes, em comparação com os convencionais, tem diferença de produtividade dependendo do manejo adotado, podendo chegar a até oito sacas de café beneficiado por hectare.
Porém, isso não é uma regra, depende de vários outros fatores produtivos para que ocorra esse aumento de produtividade. Além disso, com a utilização desses fertilizantes, mesmo apresentando custo mais elevado que os convencionais, tem-se o benefício de reduzir a mão de obra, pois são aplicados uma única vez, o que pode reduzir o custo de produção da saca do grão.
Em campo
Os resultados para a cultura do cafeeiro, devido à utilização dos fertilizantes de liberação controlada, demonstram que a adubação com eles pode ser feita em uma única dose, sem afetar a produtividade da cultura.
Além disso, disponibiliza o nitrogênio de forma gradual para a cultura e também alguns pesquisadores observaram que as perdas por volatilização são reduzidas quando comparados aos fertilizantes convencionais, principalmente a ureia, além de emitir menor quantidade de gases de efeito estuda para a atmosfera.
Há, também, relatos de ganho econômico em se utilizar fontes de fertilizantes nitrogenados mais eficientes, por haver melhor aproveitamento do nutriente aplicado pela cultura e também uma relação entre o melhor aproveitamento de N com o maior teor do elemento no tecido foliar.
Mesmo esse teor, assim como dos fertilizantes convencionais avaliados, se apresentou dentro da faixa crítica da cultura.
Nos limites
Dentre os erros mais comuns na utilização dessa tecnologia se destaca a redução da dose do fertilizante, pois muitos técnicos recomendam que se reduza em 30% em relação a determinados fertilizantes nitrogenados, o que é um erro, tendo em vista que a planta ainda continua necessitando da mesma quantidade do nutriente, independente da fonte.
Logo, as reduções da dose só poderão ser adotadas por meio do acompanhamento da lavoura e da calibração com auxílio da análise foliar da lavoura, pois é muito arriscado, principalmente no primeiro ano de uso desses fertilizantes, já fazer essa redução de dose, podendo afetar o vigor e produtividade das lavouras.
Outro fator importante em relação a esses fertilizantes é que cada cultura tem os fertilizantes específicos, com a camada de proteção da ureia maior ou menor. Assim, se for feita a adoção de um fertilizante de uma cultura anual e aplicar no cafeeiro, provavelmente essa disponibilização do nitrogênio será feita de forma mais rápida, não atingindo os períodos de maior demanda da cultura e fazendo com que ocorra perdas do nutriente também.