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Ameaça de falta de insumos já é motivo de preocupação

Soja – Créditos: shurtterstock

O plantio da safra 2021/22 já está no fim na maior parte do Brasil, mas a ameaça de falta de insumos é motivo de preocupação. A Aprosoja ressalta que a falta destes produtos pode comprometer a produção rural brasileira, que é o principal alicerce da economia do País na atualidade. Isso porque a não aplicação de insumos no momento correto do plantio de soja e de milho reduzirá o volume e a qualidade da safra de grãos produzidos no País

De acordo com os dados do Agrostat, MAPA, o Brasil já superou, no mês de setembro, mais de US$ 90 bilhões de exportação no setor do agronegócio, como mostra a figura a seguir, e as expectativas para o próximo ano são animadoras.

Espera-se um ano próspero, com muitas oportunidades e com a retomada das atividades em geral, que foram impactadas com a pandemia. Mas, mesmo durante a pandemia o setor da agricultura continuou crescendo, enquanto várias áreas da economia foram afetadas.

A escassez de insumos

A previsão na safra 2021/22, somando os valores de custeio e área de cada cultura é de R$ 53,6 bilhões, entre fertilizantes, defensivos e despesas do produtor para as culturas de primeira e segunda safra: soja, milho e algodão.

Os insumos são considerados elementos essenciais para a produção agrícola, visto que em determinados locais a sua ausência impede uma produtividade adequada. Esses, por sua vez, são compostos por defensivos agrícolas, para o controle das pragas; fertilizantes para nutrir os solos e vegetais; e equipamentos e máquinas, para viabilizar o plantio e o cultivo.

Dessa forma, Celson Braga, engenheiro agrônomo e doutorando em Biocombustíveis, avalia que essas atividades rurais compostas por várias cadeias produtivas acabam dependendo de diferentes insumos que, na sua maioria, são fornecidos por outros países, o que encarece a produção e pode gerar preocupações, como é o caso atual.

No último mês de outubro, a comissão de agricultura e diferentes órgãos ligados ao setor realizaram debates e apresentaram números preocupantes em relação à disponibilidade de insumos para safra 2021/22.  

Recentes notícias dão conta de que o País sofrerá um “apagão” de insumos na próxima safra. Mesmo que mais de 90% dos defensivos agrícolas já estejam vendidos ou provisionados para o próximo ciclo, as indústrias não descartam atraso ou mesmo o cancelamento dessas entregas por falta de matéria-prima chinesa.

Segundo o deputado Jerônimo Goergen, dados recentes de importação desses produtos apontam uma redução de 40% do mesmo volume importado no ano anterior. “Com a escassez de ofertas, os preços dos produtos têm triplicado, onerando ainda mais os produtores rurais, o que pode afetar diretamente a produção de alimentos”.

Projeção

O superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleiton Gauer, tem uma projeção inicial bastante otimista, principalmente por conta da semeadura antecipada em relação aos últimos anos. “As chuvas que vêm acontecendo de uma forma mais constante e antecipada, comparado ao ano passado, trazem a possibilidade de cultivo mais precoce e, principalmente, as perspectivas até a virada do ano darão destino para a produção de soja. Então, neste momento temos uma previsão de 37,4 milhões de toneladas, considerando a quantidade média histórica”, calcula.

O superintendente observou uma comercialização muito antecipada da safra 2021/22, que começa a atenuar ao longo dos últimos meses por conta do incremento dos custos, levando à desaceleração da produção, travando custos para safra e deixando a comercialização em aberto para avaliar a tomada de decisão daqui para frente.


Alguns problemas que acarretam as dificuldades na produção agrícola brasileira:

• Altas de preços dos insumos;

• Baixa oferta de insumos;

• Escassez de matéria-prima;

• Produtos adulterados;

• Incertezas de mercado;

• Logística e acessibilidade no campo.

O que fazer em um cenário desses?

• Buscar novas alternativas;

• Realizar um levantamento das perspectivas para o mercado em geral;

• Buscar uma assessoria jurídica em relação aos contratos existentes;

• Incentivar pesquisas e produções de novos materiais no Brasil;

• Trazer a discussão de novos debates políticos.


O que pode ter ocasionado a falta de insumos agrícolas

“Os insumos agrícolas, em especial os fertilizantes, são fontes muito utilizadas no nosso País. Recentemente o produto ficou deparado com preços altíssimos, no caso das fontes nitrogenadas, em especial a ureia, que apresentou um incremento de quase 50%, resultando no aumento do preço dos grãos, principalmente do milho, o que capitalizou os produtores para comprar mais insumos agrícolas. Logo, outras culturas que demandaram nitrogenados de janeiro a julho foram milho, cana-de-açúcar, algodão e trigo”, destaca Celson Braga.

Quando se trata do nitrogênio, que é o insumo mais utilizado para a produção de milho, de gramíneas, trigo, arroz e feijão, o vice-presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber, explica que o principal insumo utilizado é o gás natural, que na Europa teve um acréscimo de mais de 600% em um ano. “Isso fez com que em todo o Hemisfério Norte houvesse uma desaceleração na produção desses nitrogenados, e a China, o maior produtor mundial, também necessita do gás natural e do carvão, que são insumos para essas fábricas, e para o aquecimento no inverno”, detalha.

Isso também fez com que desacelerasse a exportação da China, e para garantir a sua segurança alimentar, ela optou por diminuir ou até mesmo deixar de fazer exportações de nitrogênio para garantir o abastecimento interno. Como este é o maior produtor mundial, isso influencia todo o mercado mundial, apesar de o Brasil ser consumidor de nitrogênio e importar praticamente a totalidade dele do Oriente Médio.

Mas, Lucas Beber diz que leva a uma falta no mercado internacional, devido à atitude da China, fazendo com que tenha um aumento nos preços do nitrogênio.

Para o MAP, também foram registrados aumentos ocasionados pela falta de matéria-prima e elevação de seu preço. Além disso, houve mudanças políticas em países estratégicos que levaram à adoção de novas medidas, como é o caso dos EUA, quando o governo decidiu taxar as importações russas e marroquinas, o que gerou um expressivo aumento de preços no País e no mercado internacional.

Já o KCl, assinala o especialista, houve um aumento de 100%, ocasionado por sanções comerciais, financeiras e de transporte aéreo aplicadas à Bielorrússia pela União Europeia, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos, acarretando em incertezas dos preços, além de:

• Atrasos na cadeia logística com congestionamento de portos estratégicos;

• Atrasos de entrega;

• Escassez de matérias-primas;

• Questões políticas e altas demandas.

Alternativas

Como alternativa à escassez dos adubos estão os orgânicos, que suprem uma pequena parte, especialmente os remineralizadores de rochas, mas nem todos os Estados têm abundância de rochas ricas em fósforo e potássio, que são os principais nutrientes. “Assim, sobram poucas alternativas, e o produtor acaba optando por diminuir o uso dos fertilizantes. A diminuição racional pode ser favorável, claro, mediante análise do solo para verificar o teor de fertilizantes, percentual de areia, argila, de silte, matéria orgânica e recomendações agronômica para fazer o uso correto da adubação”, ensina Lucas Beber.

Ainda, no recorrer dos anos, as frustações de safras trazem uma sobra de reserva de fertilizantes no solo, a qual pode ser utilizada pelo produtor em anos de crise. “Seria como usar a poupança que há no solo. Mas, para o potássio é um pouco mais complicado, porque o elemento tende a aprofundar no solo devido à chuva. O milho é um grande reciclador de potássio, então, ele pode entrar com culturas alternativas, como mileto e braquiária, que também reciclam essas coberturas verdes e ajudam a aumentar o teor de potássio na superfície do solo, diminuindo também a demanda pela quantidade do nutriente”, expõe.

A cultura da soja é privilegiada por ser uma das que mais consome nitrogênio, até mesmo em relação ao milho. “Porém, todo o nitrogênio que a soja usa pode ser fornecido por bactérias fixadoras (FBN), que em troca recebem açúcares e enzimas da planta, ou seja, a soja não depende de nitrogênio. Já o milho é grande dependente do nitrogênio, porém, quando o produtor planta soja, e cuida bem da lavoura, fica no solo uma boa palhada. Para cada saca de soja produzida, ela fornece 1,0 kg de nitrogênio, ou seja, uma lavoura que produz 60 sacas por hectare teria mais ou menos 130 kg de ureia, beneficiando a safrinha”, esclarece o vice-presidente da Aprosoja.

Há, ainda, outras alternativas, como o uso de crotalárias, mas quando se emprega a safrinha não é possível. A alternativa não é diminuir o nitrogênio, mas talvez as áreas menos produtivas, que são mais arriscadas, ou até mesmo a época de plantio.

Lucas Beber recomenda apostar nas áreas que produzem mais e, claro, sempre fazer as contas, buscando a viabilidade econômica. O importante é o produtor ter o pé no chão – ao adquirir os fertilizantes, buscar também travar o grão. “Como o produtor tem um histórico do preço dos fertilizantes nos últimos anos, basta pegar uma média e fazer a conta para saber se a conta fecha ou não. É bom lembrar que, em ano de crise e de preços altos, o produtor que tem a poupança do solo terá maior viabilidade econômica, diminuindo a adubação dentro das boas práticas agronômicas e podendo até ter uma lucratividade maior”, ressalta.

Já nos anos de paridade melhor dos custos, o produtor pode voltar a investir, buscando a melhor produtividade, lembrando que nem sempre produtividade significa mais lucratividade.

Escassez não só no setor de nutrição

Segundo Marcelo Prado, CEO da MPrado Consultoria Empresarial, os defensivos agrícolas também sofreram elevações de preços significativas, como pode-se ver no caso do glifosato, que foi de janeiro a setembro superior a 126,8%, principalmente pela menor oferta da China e Índia dos princípios ativos.

“Para a safra de verão, os problemas deverão ser pontuais, mas para a safrinha, que é plantada em fevereiro, esta merece uma atenção redobrada. Para mitigar os riscos, o agricultor deve antecipar as compras para evitar falta dos insumos no plantio. Todos os fatos citados impactarão fortemente no aumento dos custos de produção da safra 2021/22, que serão de 35 a 40% maiores do que o ano anterior”, considera Marcelo Prado.

Para o economista e professor da ESPM Porto Alegre, Rodrigo Feix, “o risco de desabastecimento de insumos é mais alto para a safra 2023, caso os países exportadores não regularizem a oferta e o Brasil não consiga desenvolver outros fornecedores ou estabelecer acordos preferenciais. Na prática, essa incerteza tende a continuar inflando os preços no médio prazo”.

Preços dos insumos agrícolas disparam com alta do dólar

“Durante a safra 2020/21, vimos uma grande valorização das commodities agrícolas, produtos agrícolas com preços nunca vistos no mercado, e alinhado a essa situação estava a alta do dólar. Para tal efeito de comercialização de seus produtos, é um momento louvável, quando o produtor rural tem seu retorno financeiro, com resultados dos seus investimentos. No entanto, ele deve estar preparado para uma nova safra que vem cheia de desafios, entre eles o preço dos insumos, que no último ano passou por uma variação muito grande. Adubos, em especial, tiveram um aumento de mais de 100%, como constam em dados da GlobalFert”, destaca Celson Braga.

Outro fator que contribuiu para esses elevados preços foram os altos custos de frete marítimo e rodoviário, que têm um impacto negativo para o consumidor final, fator que pode ser visualizado pelo índice de relação de troca que mede o poder de compra do produtor.

Alimento, um bem precioso e direito de todos

Conforme dados do IFA, 2020, dois bilhões de pessoas sofrem déficits no consumo de micronutrientes, tanto por alimentação insuficiente quanto por dietas desequilibradas. Para Celson Braga, tal situação se torna preocupante com os inúmeros fatores quem vêm acontecendo. “A falta de insumos, bem como seu elevado preço, poderá afetar diretamente o alimento que chega à sua mesa, preços elevados e a sua própria ausência por falta de produção, visto que alguns produtos agrícolas necessitam excepcionalmente de determinados insumos para atingir sua produção”.

Esse consumo se dá pelas atividades agrícolas, e para atender essa demanda, no Brasil mesmo esses fertilizantes são importados a produção atual é insuficiente para atender todo o setor. Na contramão dessa exportação, o profissional diz que estamos vivenciando uma crise econômica, sanitária e humanitária.

No caso do Brasil, a situação tem sido ainda mais desfavorável em razão da alta importação de fertilizantes. Indústrias da China, do Canadá e da Rússia, que são as principais exportadoras, têm passado por dificuldades operacionais e colocado a cadeia de suprimentos mundial em risco.

Análise macro

O impacto na queda de produção, na opinião do pesquisador da Fundação MT, Leandro Zancarano, é que se os conhecimentos forem usados adequadamente, haverá uma parcela significativa das áreas cultivadas já no Cerrado que, devido ao tempo e aos vários anos de cultivo, sem perda de produção.

“Claro que, para o potássio, o ajuste é mais fino, mas se manejar o conhecimento de forma adequada, não creio que isso poderá impactar em produtividade. Isso vai variar de produtor pra produtor. Aquele que tiver mais consciência e critério se sairá bem, e o potencial da lavoura poderá ser mantido”, avalia o pesquisador.

Para ele, tecnologia não se mede pela quantidade de insumos, e sim pelo grau de conhecimento aplicado. “O que vai acontecer é que neste ano teremos que usar mais conhecimentos e a tecnologia está aí para resolver problemas e dificuldades. Então, a expectativa é manter a mesma produtividade dos últimos três anos”, opina.

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