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Amora preta: opção de diversificação de plantio

Givago Coutinho
Doutor em Fruticultura e professor efetivo – Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)
givago_agro@hotmail.com

O cultivo comercial da amoreira-preta (Rubus spp.) no Brasil começou nos anos 1970, quando houve a introdução de variedades melhoradas pelo até então Centro Nacional de Pesquisa em Fruticultura de Clima Temperado (CNPFT), atual Embrapa Clima Temperado.

O cultivo da amoreira preta tem ocupado áreas até então consideradas inaptas para sua produção, como áreas de altitude na região nordeste e Chapada Diamantina (BA), considerada região não tradicional de cultivo. Contudo, sua produção tem maior destaque no Rio Grande do Sul.

A cultura tem apresentado crescimento expressivo de área cultivada nos últimos anos no Rio Grande do Sul (principal produtor brasileiro) e tem elevado potencial para regiões com microclima adequado, como Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Sul de Minas Gerais.

A área plantada tem aumentado de forma lenta, mas hoje se relata que haja mais de 1.000 hectares cultivados com essa espécie no Brasil. A produtividade média alcançada no Brasil é até 20 t/ha.

Adaptação

As amoreiras são consideradas rústicas e adaptam-se a diversas regiões brasileiras. Além disso, os cultivos podem, inclusive, ser implantados em sistema orgânico de produção, com certa facilidade.

A amoreira preta apresenta vários fatores, que variam entre econômicos e até os fatores sociais, além de suas qualidades fitoquímicas, que podem trazer benefícios à saúde, a partir da busca por uma alimentação mais saudável, o que explica o aumento no interesse pelo seu cultivo.

É considerada uma cultura com características que a torna uma opção viável para a pequena propriedade, mostrando-se promissora para produtores como os da região da encosta do sudeste do Rio Grande do Sul, com grande número de pequenas propriedades nas quais é impraticável outra forma extensiva de exploração agrícola.

Os fruticultores podem comercializar os frutos na forma in natura ou congelados para sorvetes e iogurtes, e ainda industrializados, como geleias, sucos, doces em pasta, etc.

Características para o cultivo

As amoreiras pretas são espécies de clima temperado. Como as demais espécies desse grupo, elas necessitam de horas de repouso hibernal no inverno para reiniciar o ciclo de produção na primavera.

Devido à grande diversidade de espécies, existem cultivares comerciais com ampla variabilidade em relação às exigências climáticas, que vão desde mil horas de frio (abaixo de 7,2°C), necessárias para a adequada quebra de dormência e assim, uma produção comercial satisfatória, até outras espécies que necessitam de pouco mais de 100 horas de frio.

Outro fator importante a ser observado é a exigência de grande número de horas de calor para estimular a brotação e, neste sentido, o florescimento e a produção, que pode dar ao material genético extensa capacidade adaptativa ao local.

Cultivares com esta característica, mesmo quando são atingidas as exigências em horas de frio, continuam em dormência quando ocorre elevação de temperatura por curto período, voltando a esfriar, novamente, em seguida.

Essas cultivares podem ser recomendadas para regiões com pouca ou elevada ocorrência de frio.

Recomendações

Os fatores climáticos são importantes para definição das regiões para o cultivo da amoreira-preta no Brasil. Esta influência pode maior ou menor, dependendo do estádio de desenvolvimento da planta.

A amoreira preta se adapta bem em regiões com temperaturas moderadas no verão, sem intensidade luminosa elevada, com chuvas frequentes, mas não excessivas durante o período de frutificação e temperaturas baixas no inverno, suficientes para atender à necessidade de frio. A amoreira preta, de modo geral, é considerada resistente à geada.

A ocorrência de baixas temperaturas é um fator importante durante o período de dormência, para proporcionar um bom índice de brotação de gemas. Entretanto, a ocorrência de frio fora dessa fase pode ocasionar danos graves às gemas, flores e frutos em desenvolvimento, principalmente se ocorrerem geadas tardias de primavera.

Durante a fase vegetativa, a temperatura e a precipitação influenciam na qualidade das gemas, fator crucial ao potencial de produção para o ano seguinte. O cultivo da amora-preta, quando bem conduzido, pode se prolongar por até 15 anos. Assim, a vida útil de plantas bem conduzidas varia entre 12 e 15 anos.

Desafios

A cultura destaca-se pela grande demanda por mão de obra e pela alta rentabilidade por área, tornando-se apropriada para a agricultura familiar. Um dos principais entraves enfrentados pelos produtores é a alta perecibilidade dos frutos, pois eles apresentam elevados picos de taxa respiratória e de produção de etileno, apresentando reduzida vida pós-colheita.

Neste caso, ocorre rápida perda de qualidade pós-colheita, o que acaba limitando, em grande parte, a comercialização de frutos in natura.

Portanto, são de grande importância o desenvolvimento e a utilização de técnicas e ferramentas que ampliem o tempo de armazenamento, mas sem ocasionar alterações significativas nas características físicas, organolépticas e nutricionais.

Manejo fitossanitário

A mosca-das-frutas (A. fraterculus) (Diptera: Tephritidae) é a espécie mais comum associada à amoreira preta. Os frutos maduros tornam-se atrativos a esta praga. O ataque tem demonstrado aumento nos últimos anos, causando grandes perdas de produção.

O principal dano pelo inseto é devido à oviposição realizada nos frutos. Neste local, ocorre extravasamento de líquido, escurecimento e apodrecimento dos frutos, o que inviabiliza o consumo.

Além disso, quando o fruto é colhido com a presença de larvas da mosca, estas tendem a se dirigir para a superfície no fruto em baixas temperaturas (câmaras frias de transporte, por exemplo). Neste caso, não apenas ficam comprometidos os frutos onde as larvas estão presentes, mas toda a carga, principalmente quando destinada ao mercado internacional.

Período de colheita

Nos cultivos convencionais, podem-se encontrar amoras disponíveis desde o mês de setembro até meados de abril. É possível observar, na maturação, boa relação entre a mudança de cor, sólidos solúveis e acidez.

As amoras pretas devem ser colhidas quando atingirem o estádio de maturação preto-brilhante, uma vez que a colheita em estádios anteriores a esse implica em frutas imaturas e com pouca aceitabilidade pelo mercado consumidor, e nos estádios de maturação mais avançados (preto-opaco), implica em maior fragilidade das frutas e menor conservação pós-colheita.

O sistema utilizado na colheita é determinado em função da finalidade do fruto:

Consumo in natura: a colheita deve ser seletiva, isto é, de frutos homogêneos tanto em maturidade quanto em qualidade, classificando-os por tamanho, forma e cor e agrupando-os por variedade. – Indústria: as normas para frutos destinados à industrialização são menos exigentes e, geralmente, não há classificação. Frutos de vários tamanhos e em estágios diferenciados de maturação podem ser colhidos e enviados juntos à indústria. Isso, inclusive, permite que a colheita seja bem mais rápida.

Oportunidades de mercado

A produção de amora preta no Brasil estende-se de meados de outubro a fevereiro, sendo que durante o restante do período não há oferta nacional desse fruto. Ainda é uma espécie pouco expressiva no Brasil, mas pode representar uma ótima opção para diversificação de pequenas propriedades, por ser rústica e produtiva.

Devido ao baixo custo de implantação e de manutenção do pomar e, principalmente, pela reduzida utilização de defensivos agrícolas, essa cultura se apresenta como boa opção para a agricultura familiar.

O cultivo da amoreira preta caracteriza-se pelo retorno rápido, pois já no segundo ano pós-plantio tem início a produção, proporcionando, ao pequeno produtor, opções de renda, pela destinação do produto ao mercado in natura, e também como matéria-prima para indústrias alimentícias processadoras, como indústrias de produtos lácteos, de congelados e conservas.

Genética

O programa de melhoramento genético de amoreira preta da Embrapa Clima Temperado tem incentivado o desenvolvimento de novas cultivares, com frutos de sabor menos ácido, relação açúcar/acidez mais elevada, focando no mercado in natura. Entretanto, uma parcela significativa da produção de amora preta é utilizada para processamento.

Entretanto, grande parte da produção é destinada ao processamento nas agroindústrias. Neste sentido, é importante que a cultivar seja altamente produtiva, pois o preço pago pela indústria é inferior ao que é pago para frutos frescos.

Além disso, quando o foco da produção for a agroindústria, é fundamental ter uma cultivar altamente produtiva, uma vez que o valor pago pela indústria é inferior ao que se obtém no mercado de fruto fresco.

A falta de informações, ou mesmo a carência de tecnologia, causa, muitas vezes, a escolha de cultivares com potencial produtivo inferior. Os produtores devem ficar atentos às cultivares que sejam mais adaptadas às suas regiões de cultivo, sejam regiões temperadas, subtropicais ou mesmo tropicais.

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