Givago Coutinho – Doutor em Fruticultura e professor efetivo do Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado) – givago_agro@hotmail.com
No estabelecimento do programa de adubação do cafezal, muitos fatores devem ser observados, dentre eles a fertilidade do solo, variedades, espaçamento, vigor, carga pendente, ou seja, fatores indicativos do potencial produtivo e as necessidades do cafeeiro a ser adubado, além, claro, da análise foliar (Pereira et al., 1996).
Neste sentido, para a correta indicação de adubação, o cafeicultor conta com duas importantes ferramentas como critério de decisão para melhoria do estado nutricional do cafeeiro: as análises de solo e foliar.
A amostragem correta do solo para realização de análise química possibilita o diagnóstico da situação atual do solo no que concerne seu potencial de fornecimento nutricional para as plantas (Chaves, 2002).
Já a análise foliar é uma prática importante a ser realizada todos os anos nos cafezais, uma vez que ela permite a diagnose do estado nutricional da planta. Entretanto, ela não deve ser usada em substituição à análise de solo, e sim como uma complementação e, dessa forma, auxiliar na tomada de decisão para as próximas adubações.
Assim, a utilização conjunta dessas ferramentas auxilia o produtor na tomada de decisão sobre o que, quanto e quando aplicar os adubos, potencializando a produção e evitando prejuízos com uma adubação racional e preservando os atributos de qualidade da produção.
Por que a análise de folha é fundamental?
Análises de solos e foliares realizadas em laboratórios de qualidade proporcionam segurança aos cafeicultores no momento de emissão de diagnósticos corretos e recomendações mais racionais. Diagnósticos corretos permitem proceder à escolha das doses e tipos de calcário e fertilizante ideais para o cafezal.
A avaliação do estado nutricional das folhas é uma importante ferramenta na identificação e correção de deficiências e desequilíbrios nutricionais, monitorando, avaliando e corrigindo o programa de adubação (Fundação Procafé, 2020).
Manejo
Segundo Mesquita et al. (2016), a amostragem para correta análise foliar do cafeeiro pode ser feita da seguinte forma:
ð Época:
” Cafeicultura de sequeiro – é realizada na fase de chumbinho/chumbão, antes da fase de expansão rápida dos frutos e da granação (geralmente de novembro até meados de dezembro). Importante que seja respeitado um intervalo mínimo de 30 dias desde a última adubação realizada na área, seja via solo ou foliar.
” Cafeicultura irrigada – recomenda-se a sua realização em intervalos menores, como bimestralmente, por exemplo.
ð Divisão da área: a divisão deve ser feita em talhões, semelhante à que é feita para a amostragem de solo, no caminhamento em zigue-zague.
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ð Metodologia de coleta: a coleta é feita no mínimo em 25 plantas, coletando-se no mínimo 100 folhas por talhão, retirando-se as folhas nos dois lados da planta.
ð Seleção das folhas: seleção, ao acaso, do ramo situado no terço médio da planta coletando-se o 3º ou 4º par de folhas a partir da extremidade. Importante desconsiderar o 1° par da contagem quando este não apresentar menos que 2 cm de comprimento.
ð Acondicionamento das folhas coletadas e envio ao laboratório: deverão ser acondicionadas em sacos de papel para envio imediato ao laboratório. Caso o envio seja feito posteriormente à coleta, lavar as folhas em água corrente, enxaguando com água filtrada e secar cuidadosamente, deixando na parte inferior da geladeira até o até o dia seguinte.
ð Identificação da amostra: devem constar na amostra informações como o nome do produtor, da propriedade e da lavoura ou talhão, bem como outras informações de interesse do agrônomo para interpretação e recomendações técnicas (número de plantas, espaçamento e produção esperada).
De posse do resultado, os valores devem ser interpretados pelo profissional habilitado, com a correta indicação dos adubos. A tabela 1 mostra valores referenciais médios para avaliação de resultados de análises foliares do cafeeiro.
Tabela 1. Padrões referenciais médios para avaliação de resultados análise foliar na cultura do café
Nutrientes | Escala Nutricional | ||
Deficiente (c/ Sintomas | Limiar | Adequada | |
N (%) | < 2,5 | 3,0 | 3,0 – 3,5 |
P (%) | < 0,05 | 0,12 | 0,12 – 0,15 |
K (%) | < 1,2 | 1,8 | 1,8 – 2,3 |
Mg (%) | < 0,2 | 0,35 | 0,35 – 0,5 |
Ca (%) | < 0,5 | 1,0 | 1,0 – 1,5 |
S (%) | 0,05 | 0,15 | 0,15 – 0,20 |
Zn (ppm) | < 7 | 10 | 10 – 20 |
B (ppm) | < 30 | 40 | 40 – 80 |
Cu (ppm) | < 4 | 10 | 10 – 50 |
Mn (ppm) | < 30 | 50 | 50 – 200 |
Fe (ppm) | < 50 | 70 | 70 – 200 |
Mo (ppm) | – | 0,1 | – |
Fonte: Fundação Procafé
Porteira adentro
Em termos práticos, a análise foliar é fundamental como complemento à análise de solo, pois o teor de nutrientes presente no solo pode variar de acordo com a acidez, podendo a concentração de determinado elemento ser diferente após uma elevação de pH, devido à calagem, por exemplo.
Equívocos
Erros de interpretação das análises, quando estas não são realizadas por profissionais capacitados, podem levar a problemas na produção, qualidade e, sobretudo, podem acarretar problemas ambientais, levando ainda ao prejuízo para o produtor.
Além disso, Matiello et al. (2020) relatam que, no caso do enxofre (macronutriente secundário para o cafeeiro), foi observada diferença entre os resultados desse elemento em amostras de solo e foliares de cafeeiros em Botelhos (MG). Nas amostras de solo seu teor apresentou variação de 2-10 ppm, com média de 5,1 ppm, níveis considerados baixos. Já nas folhas, teores variaram de 0,20 a 0,27%, níveis elevados, estando inclusive acima dos níveis considerados adequados pela literatura.
Assim, deve-se prestar atenção especial a este nutriente, pois não foi observada correlação entre seu teor no solo e nas folhas e, em caso de dúvidas, a análise foliar deve ser feita.
O caminho certo
A correta amostragem, realização das análises foliares e interpretação de resultados proporcionam informações que favorecem o uso racional de insumos, evita desperdício, melhora o equilíbrio nutricional das plantas e, consequentemente, proporciona aumento da produtividade, uma vez que interpretações errôneas ou infundadas colocam em risco todos os esforços realizados até o momento, refletindo possivelmente no insucesso da produção.
Portanto, preconiza-se a utilização de métodos que disponibilizem subsídios para um diagnóstico nutricional eficiente e prático, a partir de resultados da análise das folhas de uma planta e, por conseguinte, da lavoura.
Além disso, vale ressaltar que, conforme a lei do mínimo, formulada por Justus von Liebig por volta de 1840, a produção fica condicionada ao fator de produção que for mais escasso à planta (Kreuz et al., 1995), ou seja, o nutriente requerido em menor quantidade é limitante à produção tanto quanto aquele requerido em maiores quantidades.
Custo envolvido Os preços variam de R$ 28,00 a R$ 45,00, podendo ultrapassar este limiar de acordo com o laboratório. Cabe ao produtor decidir por aquele que melhor atende ao esperado, seja no valor ou na qualidade de realização das análises e idoneidade do laboratório