19.1 C
Uberlândia
segunda-feira, novembro 25, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosGrãosAnálise foliar: Ferramenta para o diagnóstico do estágio nutricional da cana

Análise foliar: Ferramenta para o diagnóstico do estágio nutricional da cana

Autor

Renato Passos Brandão
Gerente do Deptº Agronômico – Grupo Vittia

Experimentos realizados na Inglaterra de longa duração com culturas produtoras de grãos comprovaram que a adubação balanceada é responsável por 40% da produção agrícola. Baseado nos resultados obtidos na Inglaterra, surge um questionamento: Quais são os nutrientes e as respectivas doses que devem ser aplicadas no solo e via foliar para maximizar o potencial produtivo da cana, mantendo a sustentabilidade do sistema de produção agrícola?

O manejo nutricional da cana pode ser resumido em quatro técnicas: análise química do solo, histórico do manejo nutricional, diagnose visual e diagnose foliar ou análise foliar.

Análise química do solo

A avaliação da fertilidade do solo por meio da análise química do solo é a etapa inicial e o mais importante dos programas nutricionais em cana. É considerada por muitos pesquisadores agrícolas como uma das práticas culturais mais importantes para a produção agrícola e a sustentabilidade dos sistemas de produção agrícola.

A análise química do solo indica os teores de nutrientes no solo e demais parâmetros que afetam o desenvolvimento da cana – matéria orgânica (MOS), pH, saturação por bases (V), teor de alumínio trocável, a saturação por alumínio (m) e capacidade de troca catiônica (CTC).

As informações da análise química do solo e do histórico do manejo nutricional da cana são essenciais para a determinação dos nutrientes e o estabelecimento das quantidades de corretivos agrícolas e fertilizantes a serem aplicados em cana.

Entretanto, em muitas situações, por mais bem realizada que seja a amostragem do solo e por mais completo que seja o histórico do manejo nutricional, podem ocorrer deficiências ou excessos de um ou mais nutrientes na cana.

Com o intuito de verificar se o manejo nutricional surtiu os efeitos desejados – teores dos nutrientes na faixa adequada da cana – é importante utilizar mais duas técnicas: diagnose visual e diagnose foliar.

Diagnose foliar

É uma técnica baseada no fato de as plantas com deficiência acentuada ou toxicidade de um nutriente, normalmente, apresentarem sintomas definidos e característicos dos distúrbios nutricionais causados por deficiência ou toxicidade (Figura 1).

Foto 1. Deficiência de boro em cana.

Fonte: IPNI Brasil.

Segundo Malavolta (1980), a manifestação externa da deficiência ou toxicidade de um nutriente é o último passo de uma sequência de eventos metabólitos que ocorrem nas plantas. Entretanto, a diagnose visual tem limitações: exige profissionais treinamentos para a distinção dos sintomas visuais e com o surgimento dos sintomas de deficiência ou toxicidade, a produtividade da cana já foi comprometida.

O que é análise foliar?

O termo “análise foliar” refere-se à análise química das folhas da cana. Segundo o Instituto da Potassa & Fosfato (1998), a análise química do solo e a análise foliar devem caminhar lado a lado. Uma técnica não substitui a outra.

É uma técnica utilizada para a avaliação do estágio nutricional da cana. Consiste na amostragem de determinadas folhas da cana e a análise dos teores dos nutrientes. Posteriormente, comparar os teores dos nutrientes na folha de cana com uma folha padrão.

Objetivos

A avaliação do estado nutricional da cana via análise foliar é uma ferramenta importante para elucidar problemas nutricionais que muitas vezes não podem ser esclarecidos pela análise química do solo e/ou diagnose visual.

A análise foliar auxilia na avaliação do estado nutricional identificando “fome oculta” e probabilidade de resposta às adubações, verificação do equilíbrio nutricional, confirmação de deficiências nutricionais ou toxidez de nutrientes; acompanhamento, avaliação e auxílio no ajuste do programa de adubações.

Fundamentos

Existe uma relação bem definida entre o crescimento, a produção da cana e o teor dos nutrientes nos tecidos vegetais. Essa relação caracteriza-se por uma curva em que se distinguem cinco regiões (Figura 2).

Relação entre o crescimento ou a produção e os teores de nutrientes em tecidos vegetais. Fonte: Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999.

A utilização da análise foliar na avaliação do estado nutricional das plantas baseia-se na premissa da existência de uma estreita correlação entre o suprimento de nutrientes pelo solo e seus teores nas folhas, o que, por sua vez, estará associado com as produções agrícolas (Figura 3) (Fageria et al., 2009; Raij, 2011).

Relação esquemática entre o teor de um nutriente no solo e seu teor nas folhas. Fonte: Mengel e Kirkby (1987) citado por Raij (2011).

Assim como na análise química dos solos, uma das fases mais críticas da análise foliar é a amostragem das folhas da cana.

Amostragem das folhas da cana

A diagnose foliar exige uma rigorosa amostragem das folhas da cana, seguindo procedimentos pré-estabelecidos.  A composição da cana varia com a idade, parte amostrada, condição da planta, a variedade, as condições edafoclimáticas, dentre outros.

O maior potencial de erro da análise foliar é a amostragem das folhas da cana. Poucas folhas de cana devem representar o estágio nutricional de um talhão.

Inicialmente, separar a cana em talhões uniformes quanto ao tipo de solo – arenoso ou argiloso, vermelho ou amarelado –, manejo nutricional, variedade, produtividade, sistema de colheita e o número de cortes. Na definição dos canaviais homogêneos, levar em consideração também a utilização de vinhaça e outros subprodutos da produção de açúcar e etanol.

Amostrar as folhas recém-maduras da cana. São folhas que apresentam maior estabilidade em relação a fatores que afetam os teores dos nutrientes e ao mesmo tempo devem ser sensíveis o suficiente para refletir variações no teor decorrente de diferenças de suprimento.

Os solos são heterogêneos, ocorrendo reações químicas complexas, intensificadas pelas calagens, gessagens e adubações. Portanto, a heterogeneidade química do solo reflete também na composição da cana, aumentando o erro da amostragem.

Normalmente, quanto maior é o número de folhas de cana amostradas, menor será o erro da amostragem. Amostrar pelo menos 30 folhas de cana. Com a finalidade de padronizar a amostragem das folhas de cana, seguir a orientação abaixo:

Época: período de maior absorção e crescimento da cana – estação das chuvas – novembro a janeiro;

Folha: coletar a folha +1 (corresponde à 3ª folha a partir do ápice onde a bainha é visível). Utilizar somente parte mediana da folha, desprezando a nervura central e os extremos da folha – ponta e a bainha.

Cuidados após amostragem das folhas de cana

Após a coleta, as folhas devem ser imediatamente encaminhadas ao laboratório de sua confiança, preferencialmente verdes, para facilitar a lavagem. Caso não seja possível o envio imediato das folhas verdes ao laboratório, o material deve ser lavado e seco a 65ºC sempre que possível, ou ao sol, pois a secagem ao ar é insuficiente para evitar a decomposição enzimática do material.

A lavagem pode ser realizada com solução de detergente a 0,1% (1 mL/L), seguida de enxague em água limpa. Evitar a utilização de saco plástico para o envio das folhas da cana para o laboratório. Utilizar saco de papel poroso para facilitar a troca gasosa.

Interpretação dos resultados da análise foliar

Um dos critérios mais utilizados no Brasil para a interpretação da análise foliar de cana baseia-se nas chamadas faixas de suficientes dos nutrientes (Tabela 1).

Tabela 1. Faixa adequada de nutrientes nas folhas da cana.

N P K Ca Mg K
– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – g/kg – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –
18-25 1,5-3,0 10-16 2,0-8,0 1,0-3,0 1,5-3,0
 
B Cu Fe Mn Mo Zn
– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – mg/kg – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –
10-30 6-15 40-250 25-250 0,15-0,30 15-50

Fonte: Raij et al. (1996).

Análise química do solo vs. análise foliar

É usual imaginarmos que há uma estreita correlação entre os teores de nutrientes no solo e a quantidade absorvida pela cana. Entretanto, em muitas situações não ocorre essa correlação.

A absorção dos nutrientes é afetada por um ou mais fatores de solo e a própria influência da planta na rizosfera. Plantas que absorvem grande quantidade de N-amídico (N-NO3) aumentam o pH da rizosfera, reduzindo a absorção dos micronutrientes catiônicos. Ocorre a formação de hidróxidos metálicos – baixa solubilidade em água.

Em solos alcalinos com alto teor de fósforo, o teor deste nutriente nas folhas da cana pode ficar abaixo da faixa adequada. Ocorre a fixação do fósforo pelo cálcio, formando sais com baixa solubilidade em água, inibindo a sua absorção. Em solos com camadas compactadas, as raízes da cana também têm difícil absorção do fósforo.

Em solos com alto teor de potássio, ocorre redução na disponibilidade de magnésio à cana, induzindo deficiência deste nutriente – inibição competitiva.

Cuidados na amostragem:

• Realizar os procedimentos antes e após a amostragem das folhas da cana para evitar a sua contaminação;

• Coletar sempre a folha recomendada pela pesquisa;

• Evitar a amostragem de folhas em canaviais sob déficit hídrico. Ocorre redução momentânea na absorção de nutrientes, mascarando a real capacidade do solo em fornecê-los à cana.

Considerações gerais

A adubação equilibrada é responsável por até 40% do aumento de produtividade das culturas. A análise química do solo é insubstituível para a avaliação da fertilidade do solo e de possíveis problemas, tais como baixos teores de nutrientes, solos muito ácidos ou muito alcalinos, altos teores de elementos tóxicos e salinidade.

A análise foliar pode e deve ser utilizada pelos produtores para o monitoramento do estado nutricional da cana e a realização de possíveis ajustes no manejo nutricional. Entretanto, há a necessidade de seguir as etapas da análise ou diagnose foliar para maximizar os benefícios desta técnica: amostragem das folhas da cana e cuidados após amostragem das folhas de cana.

Quer saber mais?

Para mais informações, consulte o site do Grupo Vittia – www.vittia.com.br -, nossos representantes comerciais ou os profissionais do departamento agronômico.

ARTIGOS RELACIONADOS

Cooxupé realiza feira para produtores de café do cerrado mineiro

Quinta edição do evento acontecerá no Núcleo de Monte Carmelo, nos dias 11 e 12/03 Depois de a FEMAGRI receber os cooperados do sul mineiro e...

Ácidos húmicos melhoram a germinação do feijoeiro

Fernando Simoni Bacilieri Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Agronomia - Universidade Federal de Uberlândia (UFU) ferbacilieri@zipmail.com.br Eli Carlos Oliveira Engenheiro agrônomo, doutor e professor - Universidade...

Safra de grãos 2022/2023 pode atingir 313 milhões de toneladas

Em segunda estimativa, especialistas apontam possível crescimento de 15,5% em relação à primeira pesquisa

Qual a ação e reação do silício nas plantas?

Autores Rodrigo Vieira da Silva Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e professor - IF Goiano - campus Morrinhos rodrigo.silva@ifgoiano.edu.br Brenda Ventura de Lima e...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!