Leandro José Grava de Godoy
Doutor e professor – Unesp e líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Bananicultura: Adubação e Nutrição (GEBAN)
leandro.godoy@unesp.br
Os fertilizantes de liberação controlada fazem parte de um grupo de fertilizantes desenvolvidos, inicialmente, nos Estados Unidos e na Europa, denominados de Fertilizantes de Eficiência Aumentada (Increased Efficiency Fertilizer) e que, no Brasil, comumente são chamados de fertilizantes especiais.
Outros adubos que fazem parte deste grupo são os fertilizantes de liberação lenta, pouco comuns no Brasil, cuja liberação dos nutrientes dependem do tamanho da molécula e da ação do microbioma do solo e, portanto, das condições edafoclimáticas (e que, muitas vezes, são confundidos com fertilizantes de liberação controlada); e os fertilizantes estabilizados, que possuem aditivos capazes de inibir a transformação da ureia em amônia, ou do amônio em nitrato, reduzindo perdas de N para o ambiente e aumentando a eficiência de uso do nutriente.
Como atuam?
Como o próprio nome diz, a liberação de nutrientes é controlada por uma camada de revestimento que recobre, de maneira uniforme, o grânulo do fertilizante e que proporciona que os nutrientes sejam disponibilizados gradualmente em função da temperatura e, logicamente, da disponibilidade de água.
O tempo de liberação pode ser determinado pela indústria, em função da espessura da camada de revestimento utilizada no grânulo do fertilizante, podendo variar de 3, 4, 6, 8, 9, 12 ou 16 meses.
Camadas mais espessas aumentam o custo e limitam o uso em produção de mudas ou em paisagismo. Na cultura da banana, é mais comum a utilização de fertilizantes com liberação de quatro a seis meses.
Também, para reduzir o custo e ajustar a velocidade de liberação com a demanda da cultura, são produzidos “blends”, ou seja, a mistura de fertilizantes convencionais com os de liberação controlada, em diferentes proporções.
Nutrientes utilizados
Os nutrientes mais comumente utilizados na liberação controlada são o nitrogênio e o potássio, para reduzir as perdas por lixiviação de ambos, e as perdas, na forma gasosa, para a atmosfera, no caso do nitrogênio.
Também o P pode ser utilizado com o intuito de reduzir o processo de adsorção aos coloides, o que torna o P não lábil e indisponível para as plantas. Para que se tenha um revestimento do grânulo mais perfeito, as matérias-primas devem ser selecionadas ou preparadas, como no caso da ureia, em que se analisa o grau de esfericidade.
A banana agradece
Na cultura da banana, o uso dos fertilizantes de liberação controlada é muito interessante, por se tratar de uma cultura semi-perene, com um sistema radicular pouco superficial (80% das raízes se concentram na camada superficial de 0 a 30 cm do solo), portanto, com baixa eficiência de uso dos nutrientes, em que a adubação deve ser parcelada de setembro a abril, no estado de São Paulo.
A aplicação de um fertilizante de liberação controlada em seis meses pode ser utilizada para substituir a adubação parcelada em quatro aplicações, levando a uma economia de mão de obra e redução nos riscos de perdas por lixiviação.
Além disso, em regiões mais chuvosas, como no Vale do Ribeira, muitas vezes o bananicultor atrasa a adubação pela falta de dias sem chuva para fazer a operação. Este atraso não ocorre com o fertilizante de liberação controlada, pois ele já estará no solo, aplicado no início da época de adubação.
Em bananais fertirrigados, o fertilizante de liberação controlada pode ser utilizado nas épocas chuvosas, onde a quantidade de fertilizante aplicada via irrigação é facilmente lavada do solo.
Opções
Existem três principais tipos de fertilizantes de liberação controlada disponíveis no mercado: recoberto por uma camada de enxofre (geralmente ureia recoberta com enxofre), pouco disponível no Brasil; recoberto por uma camada de enxofre mais polímero; e recoberto somente com polímero.
Cada indústria tem sua tecnologia, utilizando um tipo de polímero natural ou sintético (polietileno, resina plástica, etc.). Recentemente, uma indústria lançou um revestimento biodegradável, que após seu tempo de liberação a cobertura é degradada no sistema solo.
A aplicação da camada de recobrimento do grânulo reduz o teor total de nutriente do fertilizante, por exemplo, a ureia convencional possui 45% de N e quando recoberta para liberação do N e cinco a seis meses, o teor pode ser reduzido para 42% de N, devido ao peso da camada de recobrimento.
Sustentabilidade
Os fertilizantes de liberação controlada estão em consonância com os anseios da Agenda 2030, pois, devido à maior eficiência de uso, possibilita a aplicação de doses até 50% menores de nutrientes, especialmente o N, que pode ser perdido para o ambiente por diversos meios.
O modo de liberação gradual dos nutrientes, em sincronia com as demandas das plantas, faz com que pouco N fique disponível para ser perdido, reduzindo as perdas por lixiviação e a possibilidade de contaminação de águas, assim como as perdas por volatilização também são minimizadas.
Além da cultura da banana, o uso viável dos fertilizantes de liberação controlada já está bem comprovado na cultura do café e, provavelmente, poderá ser utilizado em outras culturas perenes.
Dicas importantes
Como, geralmente, a aplicação do fertilizante de liberação controlada na cultura da banana é feita em uma única aplicação em substituição as quatro parcelas, a dose aplicada acaba sendo muito maior e os grânulos revestidos com polímeros permanecerão por meses na superfície do solo.
Assim, a distribuição desta maior quantidade de fertilizantes por planta precisa ser pensada. Alguns polímeros utilizados no revestimento fazem com que o grânulo do fertilizante boie na água.
Assim, em locais com declividades acentuadas, estes grânulos devem ser incorporados ou mantida uma palhada no local de adubação. Outro cuidado a ser tomado quando do uso de fertilizantes de liberação controlada é no momento de fazer a amostragem de solo.
Como os grânulos revestidos pelos polímeros podem permanecer por meses no solo, a amostragem não poderá ser realizada no local de adubação enquanto forem observado estes grânulos.
Assim, o uso de fertilizantes de liberação controlada na cultura da banana parece ser uma alternativa interessante, devido à redução na mão de obra, na dose utilizada e maior eficiência de uso, diminuindo os riscos de poluição ambiental, garantindo o suprimento contínuo de nutrientes em sincronia com a demanda planta, sem ocorrer atrasos na adubação, acidificando menos o solo, mantendo altas produtividades, com frutos de qualidade adequada.