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Bicudo do algodoeiro tem tratamento

Crédito Paulo Degrande
Crédito Paulo Degrande

O bicudo causa sérios prejuízos à cultura do algodoeiro, sendo os principais danos nos botões florais e maçãs, onde os insetos adultos fazem orifícios de alimentação e oviposição, e as larvas eclodidas se alimentam e se desenvolvem dentro dessas estruturas. Com o ataque, provocam a queda anormal dos botões florais, flores e maçãs.

Os botões atacados apresentam perfurações externas, ficam com as brácteas abertas e pode-se notar a presença de excremento amarelado; as flores ficam com aspecto de “balão“ devido à não abertura das pétalas; as maçãs apresentam perfurações externas; fibras e sementes são destruídas, causando a abertura anormal da maçã (carimã) e escurecimento interno.

A pesquisadora e entomologista da Fundação MT, Lucia Vivan, ressalta a importância de se realizar várias estratégias de controle do bicudo, como: utilização de armadilhas de feromônio antes do plantio, baterias de aplicações com inseticidas no período de botão floral, aplicações de inseticidas na fase de cut out, controle no momento da desfolha e destruição da soqueira após a colheita.

“Não há outra cultura hospedeira que possibilite a reprodução do bicudo além do algodoeiro. Nem mesmo no refúgio, onde ele pode se manter no período de entressafra, pois lá ele não conseguirá se reproduzir“, explica a pesquisadora.

O que houve

Quando o algodão entrou como segunda safra, após a cultura da soja, houve uma manutenção maior dessas plantas de algodão dentro da área de soja. “Em um primeiro momento, a impressão é que a pragaestá bem controlada, porque a soqueira é destruída, mas as raízes muitas vezes não estão mortas, fazendo a planta rebrotar. E depois que a cultura da soja fecha, não se consegue visualizar muito bem, ou ter o controle dessas plantas de algodão com herbicida“, alerta Lucia Vivan.

O que acontece em seguida é que as plantas de algodão acabam se desenvolvendo, chegando à parte reprodutiva (flor), que é o alimento para o bicudo e onde ele realiza a oviposição, ou seja, o produtor terá mantidoo algodão dentro da lavoura de soja, que por sinal não recebe aplicações para o bicudo, por não ser o foco.

Na cultura da soja as aplicações são muito espaçadas. “Não fazemos baterias com piretroides a cada cinco dias na cultura da soja, que seria uma das formas de se controlar o bicudo. E na cultura da soja não focamos esses produtos. Como consequência, ele se mantém ali“, pontua a pesquisadora.

Lucia Vivan, pesquisadora da Fundação MT - Crédito Luize Hess
Lucia Vivan, pesquisadora da Fundação MT – Crédito Luize Hess

Prejuízos

Dependendo da área, os prejuízos causados pelo bicudo na cultura do algodoeiro podem ser de até 50%. O ataque acontece no botão floral ou dentro da maçã do algodoeiro, onde a larva se desenvolve. Lucia Vivan explica que o bicudo prefere a parte de cima da planta.

Prevenção

A medida preventiva mais importante é controlar a destruição da tiguera e de soqueiras do algodão. As regiões produtoras de algodão, inclusive, adotam o vazio sanitário, como é o caso do Mato Grosso.

“Outra estratégia para manejo do bicudo é fazer o armadilhamento com feromônios colocados a cada 150 metros nos talhões que têm algodão em divisa com o cerrado ou com outra cultura, para identificar se a pragaestá presente ali, o que possibilita a quantificação da população.Se houver dois bicudos por semana, em média, nas armadilhas, ela estará em faixa vermelha, e muitas vezes, por semana, chegamos a encontrar mais de 50 bicudos em cada armadilha em uma área muito atacada, principalmente à beira do cerrado“, relata a pesquisadora.

Lucia Vivan recomenda que as armadilhas sejam instaladas 60 dias antes do plantio, na bordadura das áreas com distância de 150 m entre elas, e altura de 1,70m. “O objetivo principal das armadilhas é detectar os pontos de entrada dos insetos, e assim realizar o manejo nas áreas“, destaca.

Após identificada a praga, no surgimento do primeiro botão floral a especialista já recomenda uma bateria de aplicações contra o bicudo, geralmente com produtos não piretroides. Os piretroidessão indicados apenas após 80 dias da emergência, e o período da primeira flor, dependendo da cultivar, será em 35 e 40 dias.

“Nas áreas em que se viu o problema e o dano foi identificado (muitas vezes não vemos o inseto, mas vemos o dano), que é a postura, o orifício da postura e de alimentação que ele deixa nesse botão floral, é hora de agir. O bicudo é um inseto que se esconde muito, com alta capacidade de camuflagem na planta, e quando conseguimos ver a população na área é porque a infestação já está muito alta.Por isso, o monitoramento é feito pela estrutura danificada, pela oviposição ou pelo orifício de alimentação“, esclarece.

Baterias de aplicações

Ainda segundo Lucia Vivan, o maior problema é que só se consegue controlar o adulto do bicudo, e por isso são recomendadas as baterias de aplicações, pois a larva está no interior da maçã ou do botão floral. Assim, a cada cinco dias é feita uma aplicação para ter chance de pegar os insetos que estão emergindo, o que, por consequência, onera muito o custo de produção do algodoeiro.

“Em áreas críticas, chega-se a fazer até 20 aplicações para controlar o bicudo. Desde 20 dias após a emergência faz-se a aplicação nas bordaduras. A cada 100 metros de bordadura do talhão, aplica-se toda semana o produto malation, que é uma opção ao endosulfan, depois que este foi retirado do mercado“, conta a especialista.

O produtor ainda pode ter prejuízos se em algum momento deixar de fazer alguma das etapas de controle, como a desfolha no final da cultura, deixando que a planta entre no processo de maturação natural. Geralmente, nesse momento tem-se a emissão de novos botões florais, podendo haver uma nova infestação. Por isso, o controle e o monitoramento dessa população devem ser constantes. “Quando houver 3 a 5% dos botões atacados, é preciso entrar urgente com o controle“, avisa.

Essa matéria você encontra na edição de abril 2017 da revista Campo & Negócios Grãos. Adquira já a sua.

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