Nilva Teresinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora e professora de Bioquímica, Nutrição de Plantas e Produção Orgânica – UniPinhal
nilva@unipinhal.edu.br
O tomateiro (Solanum lycopersicum L.) é cultura de grande valor econômico para o Brasil, que é um dos 10 maiores produtores do mundo. Goiás é o maior produtor nacional (23,6% do total), cultivando principalmente tomate rasteiro para indústria, produzido sobre a palha de milho ou soja. Em seguida vêm os Estados de São Paulo (21,3%) e Minas que produzem, fundamentalmente, tomate de mesa.
O tomate é uma espécie de alto valor social e nutricional: seus frutos são considerados alimento funcional, por serem ricos em princípios nutricionais e farmacêuticos. É muito utilizado na alimentação humana e emprega expressiva mão de obra na produção e processamento industrial de seus produtos.
Exigências do cultivo
A cultura em questão é exigente em nutrientes e água, sendo suscetível à incidência de inúmeras pragas e doenças. Assim, ferramentas que a tornem mais resistente a problemas fitossanitários são de interesse do produtor.
Além da produtividade, a qualidade do tomate colhido é fundamental: os de melhor tamanho, coloração e firmeza, por exemplo, têm melhor classificação e, por consequência, melhor valor de mercado.
Assim, tecnologias que reforcem tais aspectos são de grande valia para o produtor, como os bioestimulantes.
Mas, o que são os bioestimulantes?
Por bioestimulantes se entende produtos, não nutrientes de plantas, que beneficiam as plantas de maneira a melhorar: a eficiência da utilização dos nutrientes aplicados e, também, o aproveitamento no interior das plantas; a resistência delas aos agentes bióticos e abióticos; a qualidade do produto agrícola e a atividade microbiológica dos solos.
Assim, bioestimulantes promovem o desenvolvimento das plantas, sua produtividade e qualidade. Não são fertilizantes e não os substituem, porém, podem levar à diminuição da quantidade necessária destes. Ainda, influenciam positivamente a absorção, assimilação e translocação de nutrientes nas plantas.
Trata-se, normalmente, da mistura de fitorreguladores, microrganismos, extratos de algas marinhas, ácidos húmicos e fúlvicos e aminoácidos, associados ou não aos nutrientes de plantas. Podem, também, ser compostos da associação de tais produtos.
Os fitorreguladores, também conhecidos como bioestimulantes, biorreguladores ou reguladores vegetais, são compostos orgânicos constituídos por hormônios vegetais sintéticos, e, portanto, similares aos produzidos pelas plantas, que podem ser aplicados via tratamento de sementes ou diretamente nas plantas.
Atuam influenciando os diferentes processos fisiológicos, como germinação, floração, frutificação e senescência, regulando a expressão do potencial genético das plantas.
Entre os hormônios vegetais, estão: auxinas, giberelinas, citocininas, etileno, ácido abscísico, brassinosteroides, jasmonatos, salicilatos e poliaminas.
Registrados no Ministério de Agricultura estão apenas as auxinas, giberelinas e citocininas, quando, muitas vezes, contêm um ou mais dos citados hormônios combinados com aminoácidos, nutrientes, vitaminas, etc.
Como os fitorreguladores agem nas plantas
As auxinas, entre outras propriedades, propiciam a alongamento das células, o crescimento do sistema radicular, da parte vegetativa e reprodutiva, a diferenciação dos vasos condutores, proporcionando maior absorção e transporte de água e de nutrientes.
Já as citocininas agem na divisão celular, na diferenciação celular, e promovem maior brotação de gemas e maior expansão de folhas e cotilédones. Retardam a senescência foliar, mantendo a síntese de proteínas e diminuindo a presença de radicais livres.
Melhoram a taxa fotossintética, aumentam a síntese de clorofila e da enzima rubisco, a primeira das que trabalham na fase clara da fotossíntese e estimulam a abertura dos estômatos, onde ocorre a troca gasosa nas plantas.
Por outro lado, as giberelinas promovem a germinação de sementes e a quebra de dormência em algumas espécies, estimulando a produção de enzimas que atuam na mobilização de reservas armazenadas no endosperma, a divisão e o alongamento celular; o crescimento do caule, a fixação e o crescimento de frutos e retardam a degradação da clorofila.
Tais classes de fitorreguladores aumentam a taxa de formação de compostos oxidantes, o que aumenta a resistência das plantas aos agentes bióticos e abióticos.
Assim, o emprego de tais produtos nos cultivos acarreta melhor taxa de germinação de sementes, de desempenho dos processos metabólicos e fisiológicos da planta, como por exemplo a fotossíntese e o transporte e acúmulo de açúcares nos órgãos drenos.
Proporcionam, ainda, aumento da absorção de água e nutrientes pelos vegetais, por induzirem maior enraizamento das plantas, diminuem os prejuízos causados por agentes bióticos e abióticos, como déficit hídrico, ataques de pragas e doenças e efeitos negativos causados por resíduos de herbicidas no solo.
Mais que vantagens
Os bioestimulantes formulados por microrganismos são compostos, normalmente, de uma ou mais linhagens cultivadas separadamente no meio de cultura, podendo funcionar como promotores de crescimento, melhorando o enraizamento e promovendo o desenvolvimento da planta por meio da produção de hormônios análogos aos dos vegetais e outras substâncias bioativas.
Também liberam antibióticos que podem aumentar a resistência das plantas aos agentes patogênicos. Por exemplo, Bacillus subtilis são responsáveis pela produção de substâncias antibióticas e metabólitos que ativam a defesa da planta e melhoram a absorção de nutrientes.
Pesquisas
Pesquisas mostraram que o tratamento de sementes com produtos à base de Bacillus subtilis tem efeito no desenvolvimento da planta, com incremento da massa fresca.
Extratos de algas marinhas são também considerados bioestimulantes. Tratam-se de organismos ricos em nutrientes, hormônios análogos aos produzidos pelos vegetais e aminoácidos. Tem, assim, o mesmo mecanismo de ação dos fitorreguladores.
Portanto, a aplicação de produtos contendo tais extratos propicia maior germinação de sementes, enraizamento, desenvolvimento vegetativo, floração e frutificação.
Os ácidos húmicos e fúlvicos tem bioatividade, nos solos e nas plantas. Nos solos, agem sobre os microrganismos que liberam substâncias bioestimulantes, melhorando o enraizamento. Já nas plantas, beneficiam a fotossíntese e a respiração, por estimularem, respectivamente, a formação das clorofilas e a atividade das enzimas respiratórias.
Os aminoácidos estimulam a fisiologia das plantas, favorecendo a produtividade da planta, a resistência aos estresses bióticos e abióticos, além de comporem as proteínas e outros compostos biologicamente importantes, como o triptofano, que é precursor do ácido indolilacético (AIA) que é e básico para o enraizamento, desenvolvimento e , portanto, para a produtividade.
Já a histidina age na resistência à seca, equilibra fisiológica e nutricionalmente as plantas. Age, ainda, na recuperação aos danos causados por herbicidas e altas temperaturas e promove maior resistência ao ataque de pragas e doenças.
Manejo no tomateiro
Os fitorreguladores podem ser empregados tanto no tratamento de sementes como no sulco de semeadura e/ou em pulverizações foliares, em aplicação nas fases iniciais do cultivo, com o objetivo de melhorar a germinação, a emergência e o desenvolvimento inicial de plantas e, também, no florescimento e frutificação.
No tratamento de sementes produtos que fornecem os componentes minerais necessários para a germinação das sementes e o desenvolvimento inicial de plântulas podem ser uma excelente escolha, pois disponibilizam prontamente os nutrientes para a germinação e desenvolvimento inicial e estimulam a formação de novos tecidos.
Produtos que se associam a nutrientes de plantas são os mais recomendados. Desta forma, sua aplicação pode levar a melhorias, desde a germinação, emergência, formação das plântulas até o crescimento e desenvolvimento da planta.
Fase a fase
Na fase de desenvolvimento das primeiras folhas (como na formação de mudas), os bioestimulantes mais recomendados são os relacionados ao aumento da capacidade de divisão, diferenciação e alongamento das células da parte aérea e das raízes.
Assim, formulados contendo giberelinas, auxinas e algas marinhas associados a micronutrientes são boas opções. Favorecem o desenvolvimento de raízes, levando ao adequado pegamento das mudas, suprimento de água e nutrientes para a planta em crescimento.
O mesmo pode-se recomendar na fase vegetativa, incluindo os formulados contendo aminoácidos, aplicados via aérea.
Na época de plantio, o uso dos produtos com ácidos húmicos e fúlvicos pode ser uma escolha. Tais ácidos estimulam a biota do solo e liberam substâncias estimulantes, favorecendo o enraizamento e o desenvolvimento das plantas.
O início da floração é uma fase importante, sendo necessário assegurar o pegamento dos frutos. É uma fase de intensa divisão celular e exigência hídrica. Recomenda-se, assim, os produtos capazes de revigorar a defesa da planta aos agentes abióticos (como estresse hídrico). Formulados contendo algas marinhas e aminoácidos podem ser opções adequadas.
Na época ideal
Observações na literatura evidenciam os benefícios obtidos com a aplicação de bioestimulantes. Assim, a aplicação de algas marinhas e de aminoácidos, no início da floração e na frutificação de tomates com estresse hídrico, mostra-se capaz de manter a atividade fotossintética, aumentar 40% na produção e melhorar a qualidade do produto, comparando com as plantas que não receberam o produto.
As possibilidades de uso de bioestimulantes formulados com ácidos húmicos e fúlvicos são as mais variadas. Na formação de mudas, aplicações via irrigação podem reduzir a perda de nutrientes por lixiviação e estimular a germinação e o desenvolvimento de mudas.
Na implantação da cultura os referidos ácidos estimulam o enraizamento, o desenvolvimento, a produção, a qualidade dos frutos e o aproveitamento dos nutrientes pelas plantas.
Existem estudos que indicam que a introdução de tais produtos garante maior firmeza aos frutos, por reduzir a atividade das enzimas poligaracturonase (PG) e pectinametilesterase (PME), responsáveis pela degradação da parede celular e, consequentemente, aumentar o tempo de prateleira. Também foi demonstrado que eles reduzem o estresse hídrico e a salinidade do solo.
Recomendações
As doses e épocas de aplicação dependem da forma de aplicação e do produto escolhido. Assim, há recomendações para pulverizar formulado com 0,4% de ácidos húmicos e fúlvicos aos 15, 30, 45 e 50 dias após o transplante.
Indicam-se, também, aplicações no solo ou substrato, quinzenalmente, iniciando-se aos oito dias após transplante, com produtos em concentrações maiores que 10% e nas doses entre 20 a 80 L ha-1.
Cita-se, também, o emprego dos bioestimulantes microbiológicos na cultura do tomate. No cultivo orgânico, em uso via drench semanal de bioestimulante a 0,8% formulado com associação de microrganismos e leveduras obteve-se 22% de aumento de produtividade e menor incidência de pragas e doenças, o que evidencia a possibilidade de uso de tais produtos. Entretanto, há poucas informações sobre tais insumos.
Mais ferramentas
Do relato, pode-se verificar que os bioestimulantes, qualquer que seja a formulação, promovem a resistência das plantas aos fatores bióticos e abióticos. Porém, quais outras ferramentas o agricultor terá que suas lavouras sejam resistentes aos problemas fitossanitários e ao estresse hídrico?
Entre as alternativas estão, no caso de problemas fitossanitários, empregar variedades resistentes às pragas e doenças e utilizar adubação equilibrada. A deficiência ou excesso de qualquer nutriente pode induzir menor resistência.
Porém, entre os elementos de destaque tem-se o potássio e o silício. Para tornar a lavoura mais resistente ao déficit hídrico o uso do silício e do potássio pode ser indicado.
Retornando aos bioestimulantes, a melhor opção dependerá do estado da lavoura. A escolha deve ser feita por recomendação de técnico especialista que, após analisar a cultura, fará a recomendação do produto, da dose e época de aplicação.