Alexandre Dutra Villas Boas – Graduando em Agronomia – FAEF, Garça -SP – agronomia.fazenda@gmail.com
Cristiane de Pieri – Bióloga, doutora em Ciência Florestal e professora de Agronomia – FAEF, Garça – SP – pieri_cris@yahoo.com.br
A broca-da-cana de açúcar, causada pela lagarta da espécie Diatraea saccharalis, é a principal praga da cultura. Essa praga é polífaga, ataca principalmente a cana-de-açúcar, mas também gramíneas como o trigo, o arroz, a aveia, o milho e o sorgo. Está presente em todas as regiões canavieiras do Brasil e em outros países da América.
Ela se alimenta primeiramente do parênquima das folhas da cana até adentrar pelas partes moles, no colmo, onde abre galerias (verticais e horizontais), à medida que se alimenta, gerando prejuízos que vão desde o secamento dos ponteiros, morte de gemas (sintoma conhecido como coração morto), até a perda de peso.
Devido aos orifícios por ela abertos, favorece o ataque por fungos como Fusarium moniliforme e Colletotrichum falcatum, causadores da doença conhecida como podridão vermelha do colmo.
Praga preocupante
Do ponto de vista de possíveis danos, a broca-da-cana é uma das pragas mais relevantes entre as pragas existentes no agronegócio brasileiro. D. saccharalis é a principal razão para reduzir muito a produtividade do campo e a qualidade da matéria-prima. Ocorre ao longo do crescimento da cultura, mas quando a planta é jovem e não há formação de entrenós, sua incidência é reduzida.
A cana-de-açúcar cultivada no Estado de São Paulo por um ano e meio no verão costuma ser infestada por mais insetos no verão, enquanto a cana-de-açúcar cultivada em outubro e setembro é mais severa. Em outros Estados e em certas espécies, os ataques de perfuração são quase constantes ao longo do ano, com uma ligeira diminuição no inverno. O declínio na produtividade agrícola se dá pela perda de peso dos colmos, que ficarão mais finos e muitos morrerão, além de tornarem-se frágeis à ação do vento.
Ciclo da praga
As lagartas atingem o estado de desenvolvimento completo aos 40 dias. O período do casulo ou pupa dura de nove a 14 dias, resultando em um adulto que sai do orifício deixado pela lagarta.
Os adultos são mariposas aladas, e a fêmea põe seus ovos na parte inferior das folhas da planta. O ciclo completo dura até 60 dias (dependendo das condições de temperatura e umidade) e pode produzir quatro gerações por ano.
Na falta de umidade e baixa temperatura, um grande número de ovos permanece no fundo da touceira no outono – inverno, e novas ninfas eclodem na época de chuvas (primavera – verão), reiniciando o ciclo da praga.
O aumento dos ataques da cana-de-açúcar pode estar relacionado ao aumento da área agricultável. Resíduos como colmos e a palhada que ficam no solo durante o corte, assim como o fim das queimadas nessa cultura, oferecem condições favoráveis à praga, por fornecer um microclima para a sobrevivência dela.
A influência dos fatores abióticos (temperatura e umidade) na população da praga ocorre principalmente nas fases de ovo (por exemplo, com umidade relativa abaixo de 70% ocorre o ressecamento dos ovos, entretanto, quando esta se concentra entre 60 a 90% ocorre aumento na população de adultos).
Alta temperatura e umidade contribuem para a ocorrência de brocas na cana. Mesmo existindo em todas as áreas de produção do Brasil, as regiões central e sul são as mais afetadas. O clima favorável na região pode ser um dos fatores que causam os ataques mais graves.
Nesta área, as brocas podem ocorrer durante todo o ano, mas os níveis populacionais mais elevados são estabelecidos na primavera e no verão, época em que as condições de alta temperatura e umidade favorecem o estabelecimento da praga, já que a incidência populacional da praga aumenta com o desenvolvimento da cultura, uma vez que os colmos mais desenvolvidos fornecem maior nutrição à praga.
Com isso, o aumento populacional de D. saccharalis ocorre na fase final do cultivo. Com fatores edafoclimáticos ótimos, a atividade respiratória, bem como a circulatória, tornam-se mais eficientes na praga, havendo melhor aproveitamento do alimento disponível.
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Em campo
Alguns trabalhos realizados por diversos autores concluíram que a temperatura de 28ºC foi favorável para todas as fases de desenvolvimento da praga, porém, temperaturas abaixo de 18ºC propiciam alta mortalidade de ovos e adultos, e acima de 36ºC não há desenvolvimento da praga em laboratório.
Temperaturas abaixo de 25ºC influenciam negativamente o desenvolvimento da praga por diminuir sua taxa metabólica e reduzir o seu desenvolvimento, comportamento e sobrevivência, como na viabilidade dos estágios do seu ciclo de vida.
Em campo, foi verificado que mesmo em condições ambientais adversas, a praga pode entrar em diapausa (processo de hibernação) dentro dos colmos, favorecendo sua sobrevivência por certos períodos. Para D. saccharalis o intervalo de 22 a 28ºC e alta umidade relativa (acima de 70%) favorecem o seu desenvolvimento.
Por onde começar
O monitoramento é a base para uma gestão adequada. Por meio de monitoramento constante é possível determinar qual o momento ideal para a realização de manejos culturais eficazes.
As estratégias de manejo biológico e químico a serem adotadas serão altamente dependentes de monitoramento, que deve iniciar a partir do segundo mês após o plantio ou corte da cana-de-açúcar.
Controle
Entre os tipos de manejo para esta praga encontra-se o controle químico, cujo erro mais frequente é a pulverização da lavoura no momento em que a lagarta ainda se encontra no interior do colmo, não alcançando assim resultados satisfatórios com a aplicação.
O controle cultural visa o plantio de variedades que sejam tolerantes ou ainda resistentes à praga, moagem da cana logo após o corte, e no campo, a eliminação de plantas que podem ser hospedeiras da praga, como o milho. Uma das principais estratégias para o manejo da D. saccharalis é o uso de agentes de controle biológico. Ao produzir e liberar esses agentes como os parasitoides Thichogramma galloi e Cotesia flavipes em quantidades suficientes para parasitar ovos e lagartas, respectivamente, nos canaviais no momento certo, possibilitam controle eficaz da perfuração.
E, ainda, o controle genético, com a utilização da cana transgênica (a CTC 20 Bt e a CTC9001 Bt), desenvolvidas recentemente pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).
A decisão
O controle se dá por uma decisão técnica e econômica em relação ao prejuízo, pois somente depois de um levantamento específico se pode conhecer o nível da praga, podendo assim estimar os danos causados.
Para tanto, utiliza-se a área ou a produção correspondente ao local de origem das diferentes amostras, multiplicando-se esse dado pelo valor médio de suas respectivas intensidades de infestação em porcentagem e dividindo-se pelo somatório de todas as áreas ou produções.
No final da safra, de posse dessas informações, pode-se decidir pelo controle no próximo ciclo da cultura. Considera-se 3% de intensidade de infestação como o nível de dano econômico.
Manejo Integrado de Pragas
Por ser um dos fatores que afetam a produtividade e a qualidade da cana-de-açúcar, as pragas do solo podem causar danos, quando não controladas. Na cana-de-açúcar, representam um dos principais problemas devido à intensidade da perda, o que dificulta o controle.
Portanto, recomenda-se a adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP), que combina múltiplas ações, como analisar a ocorrência de pragas; identificar e monitorar continuamente seus diferentes ataques às lavouras; fiscalizar mudas na semeadura e controle de pragas.
O MIP é uma estratégia-chave para garantir que as lavouras sejam protegidas de maneira econômica e sustentável, como: realizar regularmente todas as pesquisas na área (solo, umidade, variedade, nutrição, idade, quantidade de palha, grãos de destilaria, etc.) a fim de ter mais conhecimento da área e das pragas existentes, de modo a poder determinar o melhor tempo de ação; abandonar os antigos métodos de amostragem e passar a adotar métodos que permitam o entendimento da distribuição temporal e espacial das pragas.
Neste sentido, o uso da agricultura de precisão pode ser a melhor opção; além de entender quais pragas existem na cana-de-açúcar, é importante conhecer quais são seus inimigos naturais para que possam ser utilizados na prevenção e controle; avaliar e fiscalizar as mudas, a fim de evitar a propagação de organismos prejudiciais durante o processo de semeadura.
Não é recomendável adotar uma estratégia de controle única em toda a área. Além do desperdício de tempo e uso de produtos, isso certamente levará ao fracasso do controle – são alguns pontos que devem ser considerados. Com essas informações, o produtor pode estimar a relação custo-benefício e definir a viabilidade de controle, determinando assim a hora certa de agir.