Roberto Santinato
rsantinatocafeicultura@hotmail.com
Felipe Santinato
fpsantinato@hotmail.com
Engenheiros agrônomos – Santinato e Santinato Cafés
Fernando Moreira
Engenheiro agrônomo – Hexion Química do Brasil
contato@hexion.com
O Brasil é o maior produtor mundial de café, e de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento, a produção nacional, na safra 2023, foi de 54 milhões de sacas. A área plantada no país é de 2,24 milhões de hectares, sendo 1,88 milhão de hectares destinados às lavouras em produção (Conab, 2023).
A produtividade das culturas está diretamente relacionada com o genótipo, o ambiente e manejo adotado. O fornecimento dos nutrientes deve estar de acordo com o requerido pelas plantas na forma, na quantidade e no momento adequados.
Por isso, o uso de nitrogênio foliar recebe grande atenção, já que este nutriente é um dos principais componentes do sistema fotossintético e o seu fornecimento adequado influencia diretamente nas características fisiológicas, bioquímicas e morfológicas das plantas, além de ser fundamental para a expressão do máximo potencial produtivo das plantas.
Sintomas de deficiência
Os principais efeitos da deficiência de nitrogênio estão relacionados com o desenvolvimento de clorose nas plantas, e na cultura do café, se iniciam nas folhas mais velhas. Assim, a utilização de fertilizantes nitrogenados que proporcionam uma maior eficiência na utilização do N aplicado via folha, como a ureia-triazona, é fundamental na tentativa de maximizar a produtividade da cultura.
Propriedades da ureia-triazona
Os primeiros estudos com a ureia-triazona foram realizados com o objetivo de aumentar a eficiência dos fertilizantes nitrogenados líquidos. A ureia-triazona é classificada como quimicamente modificada, e apresenta propriedades de liberação gradual do nitrogênio.
Conforme citado por Clapp J. G. & Parham (1991), de acordo com a Association of American Plant Food Control Officials, a ureia-triazona é uma solução estável que contém pelo menos 25% de N total e deve conter no mínimo 40% do N proveniente de triazona.
O restante do N deve ser proveniente de ureia e de compostos intermediários de baixo peso molecular, como a polimetilol-ureia. De acordo com Clapp J. G. & Parham (1991), a triazona apresenta uma estrutura heterocíclica e características de permanência na superfície das folhas na fase líquida por mais tempo e menor perda por evaporação e volatilização, quando comparado com a solução de ureia.
Em trabalhos realizados com diferentes fontes de N, marcados com N15, verificou-se que a triazona foi absorvida em quantidade igual ou superior ao da ureia, sulfato e nitrato. Verificou-se que o acúmulo de N-triazona, em folhas de tomate, foi quatro a cinco vezes maior, quando comparada com as outras fontes de N.
Observou-se, também no estudo, a liberação gradual do N proveniente da triazona. Segundo Widders (1991), um dos benefícios da liberação gradual do N é que a maior concentração deste nutriente nas folhas pode retardar a senescência foliar, fazendo com que a planta tenha um maior aporte nutricional para os frutos.
Via foliar
Diversos trabalhos já foram realizados com a aplicação de diferentes fontes de N na cultura do café, porém, poucos trabalhos tem testado a aplicação de ureia-triazona via foliar.
Desta forma, objetivou-se, com o presente trabalho, avaliar a influência da aplicação foliar de ureia-triazona da Hexion Química (NCode) no desenvolvimento e produtividade do cafeeiro arábica (Coffea arábica L.), em condições de campo, no Cerrado Mineiro.
Material e métodos
O experimento foi realizado no Campo Experimental da Santinato Cafés, em Rio Paranaíba (MG), em um Latossolo (LVE), em lavoura de cinco anos, cultivar Catuai Vermelho IAC 144, espaçamento de 4,0 x 0,5 m (5.000 plantas/ha), em sistema de irrigação por gotejamento.
O delineamento foi em blocos ao acaso, nove tratamentos e quatro repetições. As parcelas foram compostas por dez plantas, sendo úteis as cinco centrais. Os tratamentos foram (Tabela 1):
Tabela 1. Tratamentos, nomes dos produtos, doses e épocas de aplicação. Rio Paranaíba (MG), 2023
Resultados e discussão
Os resultados estão descritos nas tabelas 2 e 3. Na tabela 2 temos os resultados dos teores de N na folha e na tabela 3 temos os dados de produtividade (sacas/ ha) de 2022 e 2023.
Tabela 2. Teor de N na folha (mg/kg) do 3º e 4º pares de folhas. Rio Paranaíba (MG), 2023
Tabela 3. Produtividade em sacas beneficiadas/ha. 1ª safra 2022 e 2ª safra 2023. Rio Paranaíba (MG), 2023
No primeiro ciclo de 2021/22, não foram encontradas diferenças estatísticas entre os tratamentos para o teor de N na folha. A média dos tratamentos que receberam aplicação de N via folha foi de 28,56 mg/ kg.
O teor de N na testemunha, sem N foliar, foi de 24,2 mg/kg, o que mostra que a aplicação foliar de N beneficiou os teores foliares de N nas plantas, sendo os valores encontrados com a aplicação do NCode similares aos dos tratamentos com ureia e sulfato.
No segundo ciclo de 2022/23, embora sem diferenças estatísticas entre os tratamentos para o teor de N na folha, pode-se verificar a mesma tendência dos resultados encontrados no ano anterior.
No primeiro ciclo de 2021/22, não foram encontradas diferenças estatísticas entre os tratamentos para a produtividade em sacas de café beneficiadas/ha. Já no segundo ciclo de 2022/23, foram encontradas diferenças estatísticas entre os tratamentos para a produtividade em sacas de café beneficiadas/ha, com destaque para o tratamento 5, com três aplicações de 6,0 L/ ha de NCode no pós-colheita (PC), pré-florada (PF) e pós-florada (PoF), com uma produtividade de 58,3 sacas/ha.
Este resultado mostra a importância de aplicar nitrogênio foliar na cultura do café em três diferentes fases da cultura na pós-colheita, pré e pós-florada.
Conclusões
Considerando os resultados obtidos, pode-se concluir que:
a) O tratamento com três aplicações de 6,0 L/ ha de NCode apresentaram, em média, os maiores valores de produtividade em sacas/ha;
b) O NCode mantém os teores de nitrogênio na folha similares aos da ureia e sulfato;
c) As aplicações na pós-colheita, pré e pós-florada são importantes e necessárias, superando os resultados encontrados nos demais tratamentos.
Como sugestões sugere-se que sejam feitas associações do NCode com Cu e B na pré e pós-florada e com Zn, Mn, B e Cu na pós-colheita.