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Cercosporiose na alface: alerta para a produção

Crédito: Sami Michereff

Marcos Roberto Ribeiro Junior
marcos.ribeiro@unesp.br
Daniele Maria do Nascimento
daniele.nascimento@unesp.br
Engenheiros agrônomos e doutores em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
Adriana Zanin Kronka
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Fitopatologia e professora – UNESP
adriana.kronka@unesp.br

A cercosporiose, também conhecida como mancha de cercóspora, embora não seja considerada uma doença extremamente destrutiva, é frequentemente encontrada em diversas regiões, especialmente em variedades de alface de folha lisa.

Causada pelo fungo Cercospora longissima, essa doença geralmente aparece em folhas mais velhas, formando manchas circulares pardacentas com um centro mais claro. Tais manchas não só comprometem a estética e o valor comercial das folhas, mas também interferem na capacidade de fotossíntese das plantas, reduzindo drasticamente sua vitalidade e, por consequência, a produtividade geral do cultivo.

À medida que o fungo se desenvolve, as lesões podem coalescer, causando a morte prematura das folhas e exacerbando as perdas econômicas para os produtores. Diante desse cenário, o controle eficaz da cercosporiose é essencial para assegurar a sustentabilidade e a lucratividade da produção de alface.

Fatores favoráveis ao desenvolvimento

O desenvolvimento do fungo é amplamente favorecido por ambientes com alta umidade relativa, superior a 90%, e temperaturas moderadas, aproximadamente 25°C. Ademais, plantios densos e práticas de irrigação excessiva contribuem para criar condições ideais para o desenvolvimento desta doença.

Observa-se que grandes perdas ocorrem frequentemente durante períodos de chuvas intensas. Isso se deve ao fato de que os esporos de C. longissima necessitam de água livre para germinar, exigindo um período de molhamento foliar contínuo de mais de 24 horas para que o patógeno consiga penetrar efetivamente nas plantas.

Disseminação e sobrevivência do fungo

Cercospora longissima se propaga principalmente através de esporos que podem ser dispersos pelo vento ou pela água, permitindo que o fungo infecte novas plantas rapidamente em condições favoráveis.

Durante chuvas ou irrigação por aspersão, os propágulos do fungo são dispersos por respingos de água que alcançam o solo ou plantas de alface infectadas. No entanto, em períodos de baixa umidade relativa do ar, os esporos produzidos nas manchas foliares são carregados pelo vento, espalhando-se entre plantas no mesmo campo ou em cultivos adjacentes.

O patógeno sobrevive entre as estações de cultivo em restos de cultura ou em plantas de alface que permanecem nos canteiros após a colheita, bem como em plantas daninhas hospedeiras.

Além disso, o solo atua como um nicho crucial para a sobrevivência do fungo, servindo como uma fonte primária de inóculo. A manutenção contínua de cultivos de alface na mesma área, ou a proximidade de canteiros com plantas jovens ao lado de canteiros com plantas mais velhas e infectadas, facilita a persistência desse patógeno ao longo de todo o ciclo da cultura.

Práticas de manejo recomendadas

O manejo eficaz da cercosporiose requer a implementação de uma série de práticas culturais. Inicialmente, é essencial utilizar sementes certificadas e mudas sadias. Outra estratégia é a rotação de culturas, que envolve alternar o cultivo de alface com culturas não suscetíveis ao patógeno e que não pertençam à mesma família botânica.

Esta prática ajuda a reduzir o inóculo no solo e interrompe o ciclo de vida do fungo, diminuindo a possibilidade de futuras infecções.

Outra medida importante é a destruição de restos culturais e o controle de plantas daninhas que podem hospedar o fungo. É importante realizar a adubação nas doses corretas, evitando o excesso de nitrogênio, que pode promover um crescimento vegetativo rápido e exuberante.

Crédito: Agristar

Tecidos vegetais mais macios são mais suscetíveis ao ataque de patógenos, pois facilitam a penetração e colonização do fungo.

Além disso, aumentar o espaçamento entre as plantas pode melhorar a ventilação e, consequentemente, reduzir a umidade, um dos fatores que favorece o desenvolvimento da doença.

Plantar em solos com boa drenagem é, também, fundamental. Para a irrigação, é recomendável evitar sistemas por aspersão que aumentam o molhamento foliar e, sempre que possível, optar pelo sistema de gotejamento, que minimiza a umidade nas folhas e reduz a chance de infecção.

Embora o uso de cultivares resistentes seja uma estratégia comum no manejo de doenças, atualmente não há variedades de alface conhecidas por serem resistentes à cercosporiose.

Além disso, há apenas um fungicida aprovado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para o controle da cercosporiose em alface. Portanto, é fundamental que o agricultor adote todas as medidas de controle mencionadas anteriormente, incluindo as preventivas, que começam com a escolha do local de plantio e o uso de sementes certificadas.

Uso estratégico do fungicida

Embora a aplicação de fungicidas seja eficaz, ela deve ser feita de maneira responsável para evitar a resistência do patógeno. Para o controle da cercosporiose em alface, existe apenas um fungicida registrado, que apresenta duplo mecanismo de ação (protetor e sistêmico), composto pelos ingredientes ativos fluxapiroxade (estrobilurina) e piraclostrobina (carboxamida).

A recomendação é aplicar entre 300 a 350 mL do produto por hectare. As aplicações devem ser preventivas e realizadas em intervalos de 10 dias, dependendo da progressão da doença, não ultrapassando o limite de quatro aplicações.

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