Autores
Cristina Arzabe
Mestre e doutora em Zoologia e Pesquisadora da Embrapa
cristina.arzabe@embrapa.br
Vera Lucia de Oliveira Daller
Coordenadora de Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
vera.oliveira@agricultura.gov.br
Uma pesquisa inédita revelou que a mulher que atua no agronegócio brasileiro possui escolaridade alta e independência financeira. Os dados, que surpreenderam até quem elaborou o questionário, mostra que a mulher do agro procura inovações, tem uma visão ampla do negócio e é comunicativa
As mulheres estão garantindo o seu espaço na agricultura. Estudo da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA) (7ª edição da Pesquisa Hábitos do Produtor Rural) com dados de 2016 envolvendo 2.835 agricultores e produtores de animais de 15 Estados de todas as regiões do País mostrou que a presença da mulher em funções de decisão nos empreendimentos rurais aumentou de 10 para 31% entre 2013 e 2018.
A pesquisa concluiu, também, que as mulheres utilizam mais a tecnologia, já que 83% das produtoras rurais possuem smartphone, contra 69% dos homens. Elas também superam os produtores do sexo masculino na questão de formação superior: uma em cada quatro mulheres fez cursos de graduação e, entre os homens, um em cada cinco.
A presença feminina cresceu não apenas nas fazendas, mas em todos os segmentos, como empresas de insumos e máquinas, laboratórios, indústrias de alimentos, tradings e consultorias. Em todas as regiões do mundo a parcela feminina da população economicamente ativa na agricultura mostrou crescimento entre 1980 e 2010, segundo dados da FAO.
Crescimento da parcela feminina da população economicamente ativa na agricultura entre 1980 e 2010.
Fonte: http://www.fao.org/gender/resources/infographics/the-female-face-of-farming/en/
Por aqui
No Brasil como um todo, dados do Censo Agropecuário 2017 do IBGE mostram que na condição legal de produtor individual temos 3,6 milhões de pessoas no campo, sendo quase 700 mil mulheres, o que equivale dizer que 19% dos produtores individuais são do sexo feminino. Então, ainda somos minoria e há diferenças regionais.
Pernambuco e Bahia têm 27 e 26% de seus estabelecimentos sob responsabilidade de mulheres, respectivamente, e o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, por sua vez, têm apenas 12 e 10% dos seus estabelecimentos nesta condição.
Os dados do Censo Agropecuário 2017 do IBGE serão muito importantes para mapear em que áreas do agro as mulheres estão mais presentes, no entanto, ainda não temos esta informação disponível no momento. Uma publicação importante lançada pela Embrapa e a IWCA Brasil, com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e ONU Mulheres, cujo título é ‘Mulheres dos Cafés no Brasil’ e que está disponível em português e em inglês no formato e-book (https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/37899021/embrapa-e-iwca-lancam-publicacao-pioneira-sobre-mulheres-do-cafe) evidencia o importante papel da mulher nesta cadeia produtiva.
Por que o agro?
As mulheres sempre estiveram envolvidas no agronegócio, mas seu trabalho era totalmente invisibilizado. Era um trabalho nos bastidores, no passado, ficando à parte da gestão e as questões financeiras sobre a responsabilidade dos maridos, pais ou irmãos.
Hoje isso está mudando, porque a mulher está tomando as rédeas do negócio, se envolvendo também com a parte negocial e financeira dos empreendimentos, com a gestão dos negócios. Então, está aparecendo mais, mas acreditamos que elas sempre estiveram lá, desde os primórdios. Segundo a história da agricultura, foram elas que plantaram as primeiras sementes.
Mulheres x homens
Há diferenças entre homens e mulheres no que se refere à força física, eventualmente. Mas isso já não é tão importante para uma geração HI-Tech. A diferença mais importante seria a gestação, que é parte da vida apenas da mulher.
Por questões culturais, o cuidado com os filhos e com os idosos foi relegado apenas às mulheres por um longo tempo e, por tabela, os trabalhos domésticos, todos não remunerados. Então, a mulher dedicava muito tempo de sua vida a estes assuntos, e ainda hoje é assim, embora isto esteja mudando.
Este é o ponto que fará a diferença, isto é, as atividades não-remuneradas no ambiente doméstico serem divididas entre homens e mulheres, para que haja equidade e oportunidade para todos no que diz respeito às atividades remuneradas. Quando vencermos este desafio, acho que teremos resultados muito positivos em nossa sociedade, criando mais oportunidades para as mulheres.
Um exemplo de diferença entre produtores individuais, homens e mulheres, que aparece nos dados do Censo Agropecuário 2017 do IBGE é que no grupo masculino quase 20% declararam receber orientação técnica, enquanto no grupo feminino apenas 11% declararam o mesmo. Então, é preciso verificar por que as mulheres estão tendo mais dificuldade para acessar orientação técnica e pensar políticas públicas que as favoreçam nesse e em outros quesitos.
Como o mercado vê essa mudança
O mercado vê essa mudança como algo positivo, pois se está inserindo a outra metade do mundo (as mulheres) para pensar e trabalhar junto e fazer a diferença. Esta somatória de diferentes perspectivas é muito criativa e não devemos considerar que o que vemos é uma competição entre homens e mulheres, mas uma colaboração, uma parceria que com certeza renderá bons frutos no mercado.
Vantagens
As vantagens estão relacionadas ao fato de se inserir no mercado pessoas com um novo olhar, mais comprometidas com a questão social, a paz e a sustentabilidade. Estas pessoas são as mulheres, agentes fundamentais na luta pela transformação do mundo.
Então, veremos uma quebra da lógica centralizadora e um direcionamento para uma realidade mais compartilhada e distribuída de responsabilidades.
As mulheres representam a maior oportunidade comercial na atualidade. Os ganhos são substanciais. Quanto mais as mulheres participam do mercado, mais elas investem em educação, saúde e bem-estar dos filhos. Isso dá suporte ao desenvolvimento humano. Em se tratando de comportamento financeiro, estão sujeitas a menos riscos.
A troca de ideias entre pessoas que têm formas diferentes de ver o mundo pode render muita inovação, porque une as diferenças, e a partir daí possibilita a criação de algo realmente novo, que não poderia ser imaginado por um grupo restrito de pessoas e formas restritas de pensar, no caso, apenas aquelas pessoas que representam o mundo masculino. Então a resposta é: mais inovação!
Segundo Jackson Katz, da Universidade de Harvard, a paridade entre os gêneros incrementaria o PIB mundial em US$ 28 trilhões até 2025. No Brasil, a economia ganharia, em 10 anos, US$ 850 bilhões, um crescimento de 30% do PIB nacional.
Mais mulheres, + inovação
José Luiz Tejon Megido
Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pelo Mackenzie, doutor em Educação pela UDE/Uruguai e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)
A participação das mulheres aumenta no mundo inteiro. Considero as mulheres as aceleradoras da inovação. No Brasil observamos essa transformação em todas as regiões, mas onde eu primeiro vi esse movimento foi na Farsul, no Rio Grande do Sul, sob comando da Zênia Aranha da Silveira; e hoje se multiplicam os grupos femininos pelo País.
As regiões todas seguem a distribuição relativa de homens e mulheres. Nas micro e pequenas propriedades familiares, sempre a mulher significou força de trabalho e cuidadora da família. Hoje, nas empresas agropecuárias assistimos o crescimento da presença feminina, seja na agronomia, veterinária, zootecnia, RH, treinamento e áreas da administração.
Se olharmos o agro como um todo, cadeia produtiva, do antes, dentro e pós-porteira, mas empresas agroindustriais, nos setores de insumos, máquinas e tecnologia, as mulheres estão mais presentes nos cargos administrativos. Dentro da porteira, nas fazendas propriamente ditas, crescem como protagonistas, sucessoras e mesmo empreendedoras em segmentos de especialidades.
O agro tem muita afinidade com o ser feminino. Sustentabilidade, bem-estar animal, uso de tecnologias não mais dependentes de força física, mas caminham para a agricultura digital, interação analógico-digital, em que a mulher se destaca com seu poder de foco e intuição.
Entre mulheres e homens no campo, vejo diferenças em função de uma imensa abertura delas para aprender, perguntar, pela curiosidade e por aplicar sem preconceitos os conhecimentos científicos, com abertura mental e vontade de aprender, sem limitações.
Por fim, vale destacar que o agronegócio exige coordenação e integração das cadeias produtivas. A qualidade humana feminina, como conseguimos observar na ministra Teresa Cristina, é de significativa importância para o nosso futuro. O agronegócio tem muito de ciências exatas, mas liderança e governança são palavras femininas e têm muito de ciências humanas. Por isso, viva a integração e a equidade de gêneros.
Protagonismo dita as regras
Vanessa Sabioni
Engenheira agrônoma, mestre em Fitopatologia, CEO e fundadora da Rede AgroMulher
Nas últimas décadas, o protagonismo da mulher avançou em todos os setores, inclusive no agronegócio. As mulheres representam um papel vital na agricultura e a participação delas no trabalho agrícola no mundo aumenta a cada ano. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), elas representam cerca de 43% da força de trabalho no campo nos países em desenvolvimento.
Um estudo da FAO, órgão das Nações Unidas, mostra que de 100 agricultores no Brasil, 13 são mulheres e que o percentual feminino de responsáveis por atividades agropecuárias na América Latina e Caribe está em constante crescimento, apesar de suas terras serem menores, de menor qualidade e de terem menor acesso ao crédito, à assistência técnica e à capacitação.
Por isso, várias políticas públicas têm sido adotadas pelos países para garantir a autonomia e a igualdade de gênero para as mulheres do agro. Além disso, governos, empresas do agronegócio e organizações, estão cada vez mais investindo na capacitação dessas mulheres, o que tem contribuído para esse avanço da participação das mulheres no campo no mundo.
As mulheres do agro estão presentes em todas as regiões do País, envolvidas em todos os processos realizados em lavouras, comunidades e reservas extrativistas, sendo consideradas peça principal no cenário da agricultura.
Destaque
A região sudeste apresenta maior participação das mulheres no agro – segundo dados da ABAG (2017), elas representam cerca de 26,5 % comparado às demais regiões. Na nossa própria Rede Digital AgroMulher, a maioria das seguidoras são do Estado de São Paulo.
As mulheres atuam nas diferentes atividades que compõem o agronegócio, e estão cada vez mais presentes como sucessoras, colaboradoras e empreendedoras. Estudos demonstram que diferente dos homens, as mulheres têm buscado cada vez mais profissionalização, desde a formação acadêmica, nas áreas de veterinária, agronomia, administração, zootecnia, que em sua maioria são compostas por mulheres, até a especialização, em mestrados, doutorados ou cursos profissionalizantes.
A atuação das mulheres se concentra nas atividades de agricultura, com participação de 42%, sendo esta a área na qual elas têm maior presença, atuando principalmente nas atividades relacionadas às culturas de soja, milho e hortifrúti. Além disso, 25% atuam em na pecuária, especialmente na produção leiteira, em seguida vem a agropecuária, com 20%, e agroindústria, com 13%.
Sucessão
Por serem de famílias ligadas ao agronegócio, muitas mulheres optam por permanecer no setor, primeiro porque se identificam com a “lida” diária no campo, e segundo porque são apaixonadas pelo agronegócio.
No entanto, não é apenas para trabalhar no campo que elas escolhem o agro. Atualmente, a participação das mulheres tem aumentado bastante nas áreas ligadas à pesquisa e tecnologia. O que é percebido é que a união, determinação e fortalecimento das mulheres no agro vem garantindo a representatividade feminina em vários cenários deste segmento.
Sabemos que ainda há um longo percurso a ser feito para atingir o equilíbrio de direitos e oportunidades entre homens e mulheres. No entanto, apesar de ainda existir bastante preconceito, atualmente o que vemos no agronegócio é uma quebra de paradigmas da diferença de gêneros, em que as empresas têm buscado cada vez mais incluir mulheres nesse setor, devido às características que elas apresentam, como maior nível de escolaridade, antenadas no que diz desrespeito à inovação, visão mais ampliada, por serem mais flexíveis, comunicativas, dedicadas e engajadas.
Além disso, essa desigualdade tem gerado maior empenho das mulheres em conquistar o seu espaço, tornando-as mais resilientes, otimistas e preparadas para vencer todas as barreiras, por meio da união de suas forças, em que umas têm apoiado as outras. E a consequência é que o temos visto em todos os lugares.
Na minha experiência como engenheira agrônoma pude sentir na pele o preconceito. Como palestrante e consultora, me deparo com histórias de mulheres que lutam para se equiparar aos homens e que buscam qualificação profissional, palestras, cursos e portais informativos como forma de avançarem na carreira.
Esse foi um dos motivos que me levou a criar a Rede AgroMulher, que possui um portal de notícias e informações sobre o setor (agromulher.com.br), grupos de WhatsApp AgroMulher Brasil e Nacional, Canal no YouTube, e redes sociais como Instagram, Facebook e Linkedin, todos voltados para as mulheres que atuam no segmento.
Quanti e qualitativo
Tendo em vista que o agro representa 25% do PIB, os estudos revelam que as mulheres são responsáveis pela gestão de 8% desse número, em torno de US$ 165 bilhões. Por esse motivo, o agronegócio tem muito a ganhar com a atuação das mulheres, pois o aumento da produtividade está relacionado ao estilo de gestão que elas têm promovido em todos os setores, por possuírem habilidades como: equilíbrio nos âmbitos pessoais e profissionais ao estabelecerem e gerenciarem relacionamentos interpessoais, saber equilibrar interesses dentro das empresas, serem profissionais multitarefas, com capacidade natural de realizar várias atividades ao mesmo tempo, possuírem, na essência, sensibilidade, resiliência e perseverança e entenderem a importância do trabalho em equipe.
As mulheres se comprometem mais com o que fazem e, além disso, são profissionais mais flexíveis e participativas que podem agregar e muito para que o agronegócio continue em expansão. Assim, o fortalecimento e o empoderamento das mulheres do agro é essencial, e será um dos caminhos viáveis para garantir sustentabilidade do agro no Brasil e no mundo.
Os desafios das mulheres no Campo
Paula Scanagatta Galletto é agrônoma e produtora de soja, milho e trigo na região de Cascavel (PR), com uma área média destinada à produção de 960 hectares, equivalente a 410 alqueires.
A produtora conta como começou a paixão pelos trabalhos no campo e suas influências. “Meu avô tinha fazendas em Cascavel, e desde que éramos pequenas ele levava as netas para as fazendas. Na época da colheita chegávamos a ficar mais de um mês, e como eu sempre ia, ficava brincava no silo, no trator, e fui pegando amor pelo campo”, relembra.
Quando ela decidiu fazer agronomia, seu avô ficou surpreso, porque queria que a neta fosse médica, mas Paula foi persistente em seu sonho. Ao conquistar o diploma, o avô deu um voto de confiança. “Quando me formei, meu avô me levou para a fazenda e disse: ‘aqui é seu novo emprego’. Dispensou o agrônomo e me colocou no lugar dele, e foi aí que tive que me virar. No início ele foi bem resistente quando eu queria utilizar novas técnicas, até que realizei teste e mostrei para ele que dava certo. Atualmente, trabalho só com a fazenda de Cascavel, mas ainda pretendo administrar as do Mato Grosso em breve”, conta Paula.
A agrônoma hoje é responsável por toda a compra de insumos, venda dos grãos, planejamentos, escolha de produtos e variedades. O avô de Paula tem 10 netos e ela foi a única que escolheu seguir os passos dele.
Desafios
Os desafios enfrentados pelas mulheres começam na faculdade. “O curso de agronomia que fiz era composto de 35 homens e duas mulheres. Na época de estágio as empresas não levavam as mulheres muito a sério – íamos a campo, mas não faziam questão de explicar, e quando chegávamos nas fazendas os olhares dos produtores eram diferentes, o que acontecia sempre. Já no mercado de trabalho, acredito que as mulheres também sofrem dificuldades, o que não tive porque já comecei trabalhando com meu avô”, explica Paula.
“Para você que é mulher e gosta da área, do campo e de estar na lavoura, é preciso dar a cara a tapa, se esforçar e mostra que você pode, porque lugar de mulher é onde ela quiser”, finaliza Paula.
De volta para casa
As irmãs Cristiane e Adriane Steinmetz são produtoras de soja e milho em Mineiros (GO), em uma área de 1.000 hectares. Ambas foram criadas na fazenda e escolheram profissões diferentes dos pais, mas o destino as levaram de volta para casa.
Cristiane, antes de assumir as rédeas da fazenda, já cuidava da parte jurídica e administrativa do negócio, enquanto Adriane era jornalista, e voltou para o interior para trabalhar na propriedade da família após a morte do pai.
“Nascemos no agro, saímos para estudar e acabamos voltando pela questão de sucessão no negócio, o que aconteceu há cinco anos. Foi um tanto drástica, mas com muito amor e união buscamos conhecimento por meio de cursos técnicos de agronegócio, que graças a Deus têm dado muito certo”, conta Adriane.
Adriane teve algumas dificuldades para se adaptar ao setor, mas procurou ajuda e se formou em Coach Integral Sistêmico. “Foi amor à primeira vista e decidi que precisaria levar aquilo que havia me transformado e gerado tantos resultados pessoais e profissionais às outras pessoas. Então resolvi unir minhas duas paixões, o agro e o coaching e ajudar pessoas a obterem a alta performance, alcançarem seus sonhos, descobrirem todo seu potencial e viverem de forma plena. Hoje continuo com minha profissão de produtora rural e minha missão de transformar e impactar vidas”, exalta Adriane.
Mulheres do Agro de Mineiros
Idealizado pelas irmãs Adriane e Cristiane, visando a união de mulheres ligadas direta ou indiretamente ao agronegócio, o grupo Mulheres do Agro conta com a participação de mais de 200 mulheres. Ambiciona a troca de experiências e conhecimentos para o fortalecimento da categoria e, desta forma, romper preconceitos, conquistar reconhecimento e um lugar no mercado. O grupo realiza cursos e palestras para o aperfeiçoamento e incentivo às lideranças femininas do agronegócio.
“O Grupo Mulheres do Agro de Mineiros existe há mais de um ano, e tem o intuito de levar conhecimento, troca de experiência e fortalecimento da classe das mulheres do agro, seja elas ligadas direta ou indiretamente”, ressalta Cristiane, informando que há duas formas de comunicação: grupo de WhatsApp e Instagram, ambos com informações do Agronegócio a nível nacional.
Engenheira agrônoma de SP se destaca na produção de soja
A sojicultora de Capão Bonito (SP), Elizana Baldissera Paranhos, de 39 anos é um exemplo das mulheres que assumem o comando de propriedades rurais no Brasil. Ela é da segunda geração de sua família que trabalha no ramo do agronegócio, e hoje realiza diversas palestras para falar de suas realizações. Agrônoma por formação e com mestrado na Universidade de Tecnologia e Agricultura de Tóquio (Japão), Elizana foi consagrada campeã do Desafio de Máxima Produtividade de Soja do Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB) da Região Sudeste na safra de 2014/2015. Na época, ela conseguiu colher em sua propriedade mais de 122 sacas de soja por hectare – a média nacional na mesma safra não passou de 61 sacas por hectare. Esse marco na vida de Elizana fez com que ela se tornasse membro efetiva do CESB.
Elizana conta que sempre viveu no campo. “Meu pai é produtor e trabalhava com a produção de uvas e, posteriormente, cereais. Desde muito pequena ele me levava para realizar os trabalhos no campo com ele”, relata. A produtora diz que na hora de trabalhar, nunca houve diferenciação entre ela e seu irmão, por ela ser mulher
Com isso, Elizana reflete que não foi ela quem escolheu a agricultura, e sim a agricultura que a escolheu. “Eu simplesmente cresci nela e nunca tive dúvidas da minha opção profissional”. O segredo para ter ótimos resultados em suas colheitas é o amor que ela dedica ao seu trabalho. Algo que ela vê como diferencial, também, na hora de conquistar o respeito dos homens, que ainda são maioria no campo. “Se você faz o que gosta e se tem conhecimento do assunto, o reconhecimento e o respeito são consequência. E falar de igual para igual também é fundamental”, considera.
Obstáculos ao gênero continuam
Josiani Moraes da Silva é filha de agricultores, se formou tecnóloga em Contabilidade e aos 17 anos de idade conheceu seu esposo, Giovanni Bragagnolo, italiano erradicado no Brasil há 30 anos, engenheiro eletro/mecânico formado na Alemanha e então sócio-proprietário de uma indústria de massas.
A gestão atual da fazenda está 100% nas mãos de Josiani, hoje formada em Administração de Empresas e bacharel em Direito, pós-graduada em Processo Civil e especialista em café, com certificação Q-Grader e Q- Processing.
Desde criança, quando morava na zona rural de Machado (MG), teve contato com café, por meio do sítio de seus avós e onde seus pais residiam. E em 1992, seu esposo começou a investir em terras no Brasil, tendo adquirido as primeiras propriedades que hoje compõem a Fazenda Santa Cruz. Na época, a fazenda não tinha café, somente pomares de laranja, e com a crise neste mercado foi necessário erradicar todos os pomares em 1997. Dois anos depois foram implantados os primeiros pés de café.
“Na época, com fazendas administradas quase integralmente por homens, me lançaram inúmeros desafios, e uma delas foi entender sobre manejo das lavouras, pragas e doenças, produtividade, vida do solo, etc. Fui buscar ajuda profissional no mercado, e me qualifiquei para entender finalmente que o café é um arbusto que precisa de energia para crescer e produzir. Entendo, hoje, que a construção da fertilidade do solo precisa estar com sintonia com o cafeeiro, e de força para passar por todas as fases e completar seu ciclo”, conta Josiane.
Depois de acertar a questão da nutrição, teve contato com os primeiros protocolos para rastreabilidade e lhe foi dada oportunidade de conhecer as normas para cerificações do café. “Corri atrás para ajustar toda a estrutura da fazenda e em 2011 passamos pela auditoria, com 100% de aprovação e certificação UTZ Certified, um programa e rótulo voltado para a agricultura sustentável”, orgulha-se.
A partir daí, pelos cuidados na lavoura, colheita e pós-colheita, produzir café com qualidade, fizeram surgir parcerias comerciais, o que levou a produtora a se associar à BSCA – Associação Brasileira de Cafés Especiais. Em 2013 ela encarou o desafio de preparar a fazenda para a mais importante certificação de café, a Rainforest, que vista a sustentabilidade ambiental e social.
A certificação Rainforest Alliance promove, desde 1987, a preservação da fauna e flora na extração de madeira, turismo, agricultura – incluindo o café. São 70 países que trabalham com o selo e visam atingir os objetivos acima com projetos de treinamento e capacitação dos profissionais, além de políticas públicas verdes.
Além da riqueza das matas, a Fazenda Santa Cruz possui uma ótima diversidade hidrográfica. “Todas as nascentes brotam dentro da propriedade. São 12 açudes de grande porte e outros 16 poços com água totalmente de nascente própria. Com altitude de 990 a 1.100 metros, a Fazenda está localizada na Bacia do Rio Grande e na Sub-Bacia do Reservatório de Furnas, e possui atualmente 482 hectares de área e 108 hectares são áreas de reserva e APP”, relata Josiani.
Tipos de cafés
Os processamentos de café existentes na fazenda são Cereja descascado, CD2, Verde descascado, Natural, Boia e Fermentados Especiais. Das cerejas e naturais são feitos lotes de Honey, Black Honey entre outros.
Para que a fazenda se destacasse na produção de cafés especiais, Josiani implantou sistema de melhoria contínua, e em 2015 inaugurou sala de provas de café e a casa do café (Coffee House), que é um laboratório totalmente equipado para prova e mapeamento sensorial das lavouras da fazenda, utilizando o padrão americano da SCAA (Specialty Coffee Association of America).
Todos os cafés da fazenda, após esta análise, são separados em lotes por qualidade com pontuações que variam de 80 a 87 (SCAA). As características sensoriais mais presentes nos cafés da fazenda são notas de chocolate, avelã, sabor ameixa, caramelo, limão, flor de laranjeira, baunilha, mel, manteiga, abacaxi, melaço, floral e cedro, além de acidez cítrica e delicada.
“Nossos cafés são exportados para a Suíça, Inglaterra, Itália e Estados Unidos, e a cada ano estamos em busca de novos parceiros que valorizem o trabalho para levar ao consumidor um produto que respeita a diversidade dos ambientes que estão inseridos, seus colaboradores, além do sistema de nutrição agroecológica implantado na fazenda há três anos, que vem devolvendo ao solo maior fertilidade e um produto mais saudável ao consumidor. E por todo este cuidado na produção de cafés especiais, desenvolvemos a marca própria da Fazenda Santa Cruz, com cafés torrados em grão e em pó para que o consumidor possa apreciar o sabor e aroma de grãos cultivados com harmonia entre o homem e o meio ambiente”, ressalta.
Como mulher, Josiani diz que os desafios continuam, como o preconceito de pessoas que perguntam pelo proprietário, e ela tem que dizer que lá todos negócios: compra, venda e marketing são de sua responsabilidade.