Carlos Alexandre Rocha da Costa
Tecnólogo de Alimentos e Doutorando em Ciência dos Alimentos – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
alexandre.vitae@gmail.com
Luíz Guilherme Malaquias da Silva
Cientista de Alimentos e doutorando em Ciência dos Alimentos (UFLA)
lg.malqs@gmail.com
Giovanni Aleixo Batista
Engenheiro de Alimentos e mestrando em Ciência dos Alimentos (UFLA)
giovannialeixob@gmail.com
A chicória crespa híbrida é uma espécie de produção anual, podendo ser cultivada no verão ou inverno. No verão, após o transplante das mudas, o ciclo dessa cultivar para atingir a maturidade ideal da colheita é mais curto (35 a 45 dias) em comparação ao inverno (55 a 75 dias).
Entretanto, sua produção atinge melhores resultados sob temperaturas amenas, mais características do centro-sul do Brasil, com temperaturas ótimas entre 14 e 18ºC. Nessa faixa, há obtenção de hortaliças maiores, com folhas mais desenvolvidas e menos amargas.
Quando cultivadas em temperaturas mais elevadas (acima de 25ºC), seu crescimento pode ser comprometido e reduzido, e seu sabor tende a ser mais amargo.
Importância da irrigação constante
Os principais sistemas de irrigação utilizados em chicórias crespas híbridas são por gotejamento ou aspersão, seja no campo ou em ambiente protegido. Esse método deve ter uma frequência regulada para evitar encharcamento no solo por dois motivos.
Primeiro, porque o excesso de irrigação pode promover a lixiviação (processo de retirada de nutrientes do solo de forma natural por meio da entrada excessiva da água). E segundo, o excesso de umidade é uma das principais causas para proliferação de fungos e outros microrganismos indesejados.
No outro extremo, quando há limitação do recurso hídrico, o crescimento do vegetal fica totalmente comprometido, e a hortaliça gasta muita energia para tentar absorver água e promover a transpiração, causando perdas de produtividade.
Irrigar algumas vezes ao dia é essencial para a manutenção da qualidade das chicórias crespas híbridas. A quantidade de vezes depende muito da condição climática do local de cultivo, especialmente quanto à umidade.
Locais de menor umidade tendem a promover maior evaporação da água do solo. Assim, uma regra básica para ajudar a definir a frequência de irrigação é observar se o solo não está seco ou úmido demais.
Preparar o solo com boa drenagem é essencial para evitar o encharcamento e realizar uma irrigação mais abastada. Observar o tempo que a terra absorve a água também auxilia na correção de problemas como drenagem ou irrigação excessiva.
Adubação ideal
A adubação mineral de plantio faz parte dos procedimentos necessários na preparação do solo para receber as mudas transplantadas, e deve ocorrer entre sete a 10 dias antecedentes ao plantio, conforme análise prévia do solo.
Essa análise torna possível definir as concentrações ideais de cada macro e micronutriente que será aplicado, como fósforo e potássio, por exemplo. Dos elementos minerais, um dos mais importantes é o nitrogênio.
Esse elemento capital proporciona diretamente o crescimento vegetal da chicória, aumentando a área foliar e promovendo a fotossíntese. Essencialmente, o nitrogênio participa de todos os processos biológicos para obter uma chicória crespa híbrida de alto rendimento.
Sob deficiência, as folhas tendem a apresentar encurtamento, amarelecimento, falta de firmeza (parâmetro esse que afeta a textura e crocância da folha da chicória), além de mudanças significativas no sabor da chicória crespa e de sua composição nutricional e química.
Pesquisas
Estudos com chicória crespa evidenciaram que fertilizantes organominerais influenciaram positivamente no teor de compostos biologicamente ativos, que são aqueles que fazem bem à saúde, com ação antioxidante e anti-inflamatória, por exemplo.
Em geral, a proporção de nitrogênio a ser aplicada no solo é de 20 a 40 kg ha-1, mas há relatos em literatura de até 70 kg ha-1. Entretanto, por via de regra, o valor ideal deve ser definido pela análise de solo.
Valores excedentes a estes não são indicados, pois o excesso de nitrogênio e outros minerais também pode acarretar em problemas fisiológicos para a chicória crespa.
Na impossibilidade de realizar análises do solo, o produtor deve optar por dosagens medianas, e quando observados sintomas de deficiência nutricional nas plantas, a adubação mineral de cobertura, que é uma técnica aplicada ao longo do desenvolvimento, independente do estado de saúde da hortaliça, pode ser utilizada para reforçar o teor de nutrientes em déficit, revigorando a chicória crespa.
Cuidados essenciais
Para obter uma excelente produtividade e hortaliças de alta qualidade, muitos cuidados especiais devem ser adotados pelos produtores, especialmente nas etapas da pré-colheita, a fim de garantir o crescimento saudável das chicórias crespas híbridas.
O primeiro passo a ser executado é o tratamento do solo, partindo de um processo chamado de calagem. Esta técnica agrícola consiste em aplicar calcário no solo, corrigindo a acidez e fornecendo cálcio e magnésio para as plantas, estimulando o crescimento das raízes e neutralizando o alumínio, elemento tóxico para as culturas.
O magnésio é um elemento obrigatório em folhas, pois é o átomo central da clorofila, pigmento verde das folhas que realiza a fotossíntese, processo que gera o próprio alimento da planta a partir da luz solar.
Em caso de deficiência de magnésio, automaticamente a chicória crespa híbrida estará suscetível à desnutrição e amarelecimento. A deficiência de cálcio pode causar necrose das margens das folhas da chicória, conhecida popularmente como queimas dos bordos.
Deficiências nutricionais
Três sinais de deficiência nutricional podem ser claramente observados em chicórias crespas híbridas, revelando deficiências que dependendo do estágio de desenvolvimento, podem ainda ser minimizadas com adubação de cobertura.
O primeiro problema é o amarelecimento das folhas, ocasionado principalmente pela deficiência de magnésio e nitrogênio. Estes dois elementos são essenciais na formação da clorofila, pigmento verde que dá cor às folhas.
Em segundo, é perceptível observar a queimadura da borda das folhas, causado por deficiência de cálcio. A soma da deficiência de cálcio e nitrogênio também enfraquecem a rigidez das células da chicória, causando perda de firmeza e, consequentemente, amolecimento das folhas.
Por último, outro sinal de deficiência nutricional é o encurtamento das folhas. Quando a chicória crespa híbrida está sob deficiência de nitrogênio, fósforo e potássio, processos celulares são seriamente comprometidos.
Na tentativa de continuar sobrevivendo com as poucas reservas de nutrientes restantes, a hortaliça irá limitar o crescimento. É muito importante atentar para o menor sinal de um destes problemas, pois quando as plantas sinalizam externamente tais problemas, significa que tais deficiências já estão afetando seriamente os processos internos do vegetal.
Portanto, corrigir tais déficits de nutrientes deve ser prioridade na produção.
Correção do solo
A definição exata da proporção de calcário aplicada deve ser obtida por meio de análise do solo. Uma calagem bem executada faz grande diferença na produtividade final, proporcionando melhores lucros aos produtores.
Geralmente, a calagem deve ser feita entre dois a três meses antes do cultivo. Além da calagem, é indicado realizar a adubação orgânica (esterco curtido ou composto orgânico), de 30 a 40 dias antes do plantio das mudas.
Sementes de qualidade
Com um solo devidamente preparado, parte-se para a escolha de sementes de alta qualidade, importante momento do processo de técnica de plantio, pois boas sementes proporcionam melhor taxa de germinação e produção de plantas saudáveis.
Outros cuidados especiais para um bom plantio são a rega regular, um ambiente protegido de pragas e um acompanhamento constante do produtor. Um caderno de campo para registrar as atividades é essencial para o controle de qualidade.
Além de o produtor acompanhar de perto o desenvolvimento da chicória crespa híbrida, o registro escrito auxilia na detecção de comportamentos anormais de produtividade. Consultar um agrônomo para obter orientações é um passo importante para manter a qualidade da produção.