Autores
Bruno Nicchio
Engenheiro agrônomo e doutor em Solos e professor da Fundação Carmelitana Mário Palmério
bruno_nicchio@hotmail.com
Marlon Anderson Marcondes Vieira
Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Os bioestimulantes são importantes substâncias utilizadas na agricultura moderna. Estes produtos são provenientes de um ou mais reguladores vegetais juntamente com aminoácidos, vitaminas e sais minerais.
Existem diversos relatos na literatura sobre os efeitos benéficos dos bioestimulantes, usualmente aplicados nas principais espécies agrícolas atuando, sobretudo, no desenvolvimento radicular e aumentando a absorção de água e nutrientes pelas plantas, o que resulta em maiores ganhos de produção.
Para as florestas
Em relação às espécies florestais, boa parte delas tem grande relevância quanto ao seu uso para produção de sementes e mudas para reflorestamento, recuperação de áreas degradadas, cercas vivas, paisagismo, produção de madeira, celulose, móveis, barcos, fármacos, fruticultura, etc.
Diversas espécies florestais apresentam boa germinação, mas, aspectos envolvendo a qualidade fisiológica e sanitária dos lotes ainda ocasionam perdas em viveiro, reduzindo a uniformidade de produção. Assim, o emprego de técnicas visando melhor rendimento e resultados é de grande importância.
Os efeitos dos bioestimulantes podem variar de acordo com a composição, concentração e proporção de substâncias presentes nestes produtos que, além de trazer maiores resultados de produtividade, pode proporcionar maior resistência das plantas a estresses abióticos.
Esses efeitos nutricionais e de proteção contra estresses explicam parte das mudanças no desenvolvimento da planta, como aumento ou antecipação de florescimento e frutificação. Neste caso, o uso de reguladores vegetais, aminoácidos e até mesmo fungos micorrízicos em espécies florestais pode atuar como bioestimulante, já que esse tipo de associação melhora o desempenho da planta por efeitos sobre a nutrição e pela proteção contra estresses e contra patógenos de raiz.
Resultados em campo
O emprego de bioestimulantes, de modo geral, pode ser realizado no tratamento de sementes e na fase inicial de desenvolvimento de espécies florestais, ou seja, na produção de mudas.
Gabriela Leone (2019), ao avaliar aplicação de bioestimulantes em miniestacas de três espécies de eucalipto, melhorou todas as fases de enraizamento e produção de mudas durante 35 dias de avaliação, com aplicação de 250 mg L-1 de ácido tânico associado com ácido indol butírico.
Tiago Chaves (2016), em seu trabalho de mestrado sobre propagação de espécies florestais para cerca viva via estaquia, avaliou que o uso de regulador vegetal, apesar de não ter influenciado o enraizamento das espécies florestais Schinus terebinthifolius, Gliricídia sepium, Croton urucurana, mostrou potencial estímulo do número de brotações.
Lima et al. (2015), ao avaliar a qualidade de mudas de saboneteira em função do uso de bioestimulante e adubo de liberação controlada, concluíram que houve influência na qualidade das mudas, com melhores respostas nas doses de 10 mL L-1 e 20 mL L-1.
Evandro Missio (2015), ao avaliar o tratamento de sementes de angico-branco, verificou que a aplicação de micronutrientes e bioestimulante vegetal não promove o crescimento das mudas em viveiro até aos 120 dias após a emergência de sementes.
Por outro lado, Luciane Pierezan et al. (2009), ao avaliar a germinação e o crescimento inicial de plântulas de jatobá tratadas com bioestimulante, não apresentou efeitos nas variáveis analisadas (porcentagem e índice de velocidade de emergência, as medidas de altura e diâmetro, massa seca de folhas e total, comprimento de raiz e área foliar).
Além disso, segundo os autores, o bioestimulante nas doses avaliadas (15, 25 e 35 ml para cada 0,5 kg de semente) inibiu o processo de germinação e interferiu nos processos metabólicos da planta, dentre eles o crescimento inicial das mudas de jatobá.
Erros mais frequentes
Apesar dos bioestimulantes apresentarem efeitos benéficos no desenvolvimento, enraizamento e produção de espécies florestais, é importante considerar que a aplicação excessiva destes produtos pode não ser vantajosa para as plantas (toxidez pela presença de nutrientes), ou não apresentar efeitos.
Rafael Fonseca (2017) observou diferentes respostas entre clones de cacaueiro ao avaliar o efeito de bioestimulantes no enraizamento e no crescimento de miniestacas. Assim, uma forma de evitar resultados insatisfatórios no uso de bioestimulantes é seguir a recomendação de cada produto, entretanto, caso o bioestimulante não apresente recomendação para uma dada espécie florestal, indica-se a realização de um teste experimental com aplicação de doses, formas e épocas de aplicação visando avaliar o efeito do produto e o melhor manejo para a espécie florestal em questão.
Investimento x retorno
O custo do emprego de bioestimulantes pode variar em função do produto escolhido e manejo de aplicação. Para tratamento de sementes, o custo pode ser menor, porém, a associação do tratamento de sementes com aplicação foliar em mudas de espécies florestais pode trazer melhores efeitos ao desenvolvimento vegetal.
No geral, o custo não é elevado, já que o produtor pode aproveitar o manejo fitossanitário e nutricional da produção de mudas para aplicação conjunta de bioestimulantes. O retorno financeiro estará ligado diretamente ao emprego de técnicas ajustadas para cada espécie florestal de acordo com o potencial de resposta das plantas.
A partir de estudo experimental com aplicação e não aplicação de bioestimulantes em mudas e/ou sementes, o produtor poderá avaliar o custo/retorno, ou seja, as diferenças com emprego deste tipo de produto, podendo resultar em corte antecipado e maior rendimento de produção.
É importante avaliar de acordo com a realidade e estrutura do produtor, além da espécie a ser cultivada, já que o comportamento fisiológico e resposta à aplicação de bioestimulante pode variar em função do tipo de produto e espécie escolhida.