Glaucio da Cruz Genuncio
Professor de Fruticultura da UFMT
Elisamara Caldeira do Nascimento
Talita de Santana Matos
Doutoras em Agronomia ” UFRRJ
De modo geral, ao se fazer uma solução nutritiva visando atender às necessidades das plantas cultivadas, não se pode misturar, em soluções concentradas, cálcio com fósforo e enxofre, uma vez que estes,por possuÃrem incompatibilidade química,podem formar sais insolúveis, como o fosfato de cálcio e o sulfato de cálcio. Este regra vale para alguns micronutrientes também.
Por outro lado, um dos grandes problemas encontrados em diversas áreas do Brasil é a presença da “água dura“, ou água com excesso de cálcio, com valores acima de 100 mg L-1, uma vez que a fonte mais usual de controle de pH (abaixamento), por estas águas possuÃrem pH acima de 8,0 (carbonatadas e bicarbonatadas), é o uso de ácido fosfórico.
A reação do ácido fosfórico com o cálcio presente na água formará o famoso “pó branco“, que nada mais é que um sal insolúvel denominado fosfato de cálcio,sendo que a presença deste produto oriundo da reação de sais insolúveis pode ocasionar problemas físicos (entupimento de gotejadores), como a indução da deficiência de cálcio, caso este seja parte integrante do manejo nutricional adotado para a cultura a ser produzida.
Precipitação
Um terceiro fator muito relevante na formulação é a precipitação de micronutrientes catiônicos (Fe, Cu, Mn e Zn), quando aplicados em suas formas iônicas (não quelatados) em água com pH acima de 7,0, uma vez que formarão pares com as hidroxilas presentes na solução.
Assim, fica evidente que uma solução, para ter eficiência, deverá possuir pH entre 5,8 a 6,2, tanto em sua formulação inicial quanto nas suas reposições.
Vale ressaltar que o pH é um parâmetro importante a ser avaliado para a aplicação de defensivos, tanto químicos como orgânicos, sendo, na média geral, a recomendação para o ajuste do pH próximo a 5,0.
Assim, o pH de uma água dura, que é próximo a 8,0, pode reduzir significativamente a eficiência do defensivo a ser aplicado. O ideal, nestas situações, seria a correção do pH com ácido nÃtrico, porém, este apresenta certas restrições quanto à comercialização direta, com a exigência de liberação pelo exército e pela polÃcia federal, fator este restritivo para a compra no setor do agronegócio.
A mistura
A regra é: não misturar, em suas formas concentradas, nitrato de cálcio com MAP e sulfatos de potássio e de magnésio, para não induzir a produtos insolúveis, como fosfato de cálcio e sulfato de cálcio. O nitrato de potássio é um caso em especial, uma vez que, por possuir enxofre e magnésio, sua mistura com fontes de fósforo é restrita, pois podem causar precipitados ou sais insolúveis.
Na formulação, a recomendação é a utilização de soluções A, B, C e M, em que terÃamos: nitrato de cálcio e ferro-quelato (A), MAP e MKP (B), nitrato de potássio (C) e solução de micronutrientes (M).
Ressalta-se que outras variações podem ser adotadas, mas sempre com o conhecimento da compatibilidade entre os fertilizantes. A figura que segue é uma fonte importante para o conhecimento desta compatibilidade dos sais.
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Tabela de incompatibilidade de fertilizantes utilizados
C = compatível
SR = solubilidade reduzida
I = imcompatível
Fonte: Trani; Tivelli; Carrijo. Fertirrigação de Hortaliças (Boletim Técnico IAC ” 196), 2011, 51p.
Manejo
A recomendação é a aplicação de nitrato de cálcio primeiramente, com a injeção de água na linha de fertirrigação, e logo após a aplicação de nitrato de potássio e micronutrientes, sendo por último aplicados os fertilizantes MKP e MAP.
Resumidamente, devem-se evitar soluções concentradas de cálcio juntamente com fósforo e enxofre.
Já para o preparo da calda contendo defensivos, a regra é consultar a faixa adequada de pH para a máxima eficiência do princÃpio ativo a ser aplicado, seja ele acaricida, inseticida, fungicida e herbicida. Ressalta-se que o valor 5,0 de pH é geral, e na falta de informação quanto à faixa adequada para a calda, este poderá ser o valor referência a ser adotado como parâmetro de preparo.