As perspectivas na produção mundial de alimentos são incertas, pois as mudanças climáticas e a exaustão dos recursos naturais tornam essa prática desafiadora. O Brasil possui a maior reserva de floresta tropical, recursos hídricos e biodiversidade do mundo e grande potencial para a produção de carne bovina, ração e alimentos.
Em contrapartida, devido ao cenário de expansão das áreas do cultivo de grãos, bem como do aumento nos custos dos insumos para a produção bovina, os produtores se deparam com diversos desafios relacionados ao aproveitamento das áreas produtivas. Cada vez mais a agropecuária brasileira precisa enfrentar o desafio de equilibrar a conservação dos recursos naturais com a produção e expansão agrícola.
Recentemente, o Brasil se comprometeu a reduzir 37% de suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2025 e a pecuária se tornou um dos principais alvos para auxiliar o País a atingir esse objetivo. Porém, para que o sistema produtivo se mantenha sustentável, é necessário aliar baixos impactos ambientais com bons índices produtivos e rentabilidade econômica.
Programas como o de Agricultura de Baixo Carbono têm incentivado a redução do desmatamento através da intensificação sustentável da pecuária, utilizando de pastejo rotacionado, reforma de pastagens, integração lavoura-pecuária (ILP), suplementação de grãos, confinamento, entre outros. Tais estratégias permitem ao produtor de carne bovina melhorias nos resultados com maior aproveitamento das áreas produtivas, de modo a aumentar a rentabilidade por hectare e preservar os recursos naturais.
Pastejo rotacionado
O pastejo rotacionado é sistematicamente movido em intervalos apropriados, controlando a altura da forragem e – quando bem administrado – melhora a eficiência e a persistência do pasto evitando sobrepastoreio, erosão e compactação do solo.
Nesse sistema, as taxas de lotação de bovinos podem ser duas a seis vezes maiores quando comparado ao sistema de pastejo extensivo, além disso, o ganho de peso médio dos bovinos e a taxa de prenhez podem ser de 15 a 22% superior.
Integração lavoura-pecuária (ILP)
Consiste em uma estratégia de produção que integra culturas anuais e pecuária na mesma área, em rotação ou sucessão, e tem como objetivo aumentar a eficiência no uso dos recursos naturais com menor impacto sobre o meio ambiente, permitindo a estabilidade de produção e a renda do produtor.
A ILP demonstra melhoria nas propriedades físicas e químicas do solo, aumentando a fertilidade das pastagens, ciclagem de nutrientes e eficiência de fertilizantes, impulsionada por diferentes necessidades de culturas rotacionadas. Também aumenta a estabilidade dos agregados do solo, biomassa, diversidade microbiana, produtividade e lucratividade das culturas.
Reforma de pastagens
Realizar a reforma das pastagens é uma prática que permite aumentar a produtividade do pasto e a qualidade da forragem aumentando o teor de proteína bruta. Também garante a cobertura completa do solo pela forragem em seu estágio produtivo.
A reforma das pastagens requer adubação de manutenção, porém é necessário treinamento adequado sobre amostragem de solo e interpretação de sua análise para a aplicação de quantidades ótimas de fertilizantes.
O fertilizante de nitrogênio (N), por exemplo, pode aumentar as emissões de dióxido de carbono (CO2) e óxido nitroso (N2O), gases que contribuem para o agravamento do efeito estufa.
Suplementação do gado de corte
O ganho de peso do gado de corte em pastagens tropicais é tipicamente baixo e suplementar com ração (por exemplo, composta por soja, grão de milho e caroço de algodão) pode ser necessário para fornecer nutrientes limitantes, como proteína bruta.
A suplementação do gado é uma prática de intensificação mais barata quando comparada às demais e pode aumentar a produção rapidamente, porém, requer habilidades relacionadas à utilização de alimentos para o rebanho.
Gestão inadequada de pastagens de baixa produtividade requer suplementação para garantir equilíbrio nutricional. Isso não só melhora a saúde animal, mas também resulta em maior produtividade e menor emissões de GEE.
Considerações finais
A expansão da pecuária de corte levanta questões e desafios no agronegócio brasileiro para aumentar a receita enquanto reduz os impactos ambientais da produção agrícola. Assim, intensificar o uso das áreas de pastagens ou recuperar as pastagens degradadas por meio da intensificação sustentável da agricultura pode reduzir a necessidade de abrir novas fronteiras agrícolas por meio do desmatamento da vegetação nativa.
Intensificar pode aumentar a receita da fazenda em 62% e o ganho de peso vivo em 20%, reduzindo o tempo para o abate do gado. De maneira resumida, as práticas de intensificação sustentável podem melhorar a produtividade e a lucratividade, reduzindo a pegada de carbono na produção da carne bovina.
Autores deste artigo:
Luana Molossi, Maikoll Tozzo e Professor Daniel Carneiro de Abreu. Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais (ICAA), Universidade Federal de Mato Grosso.