Synara Silva
Engenheira agrônoma e mestra em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
synarasilv@gmail.com
Sylmara Silva
Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia– UFLA
Sylmara-silva@hotmail.com
O crescimento da produção agrícola no País está atrelado ao aumento da demanda por diferentes insumos, como sementes, defensivos e também por fertilizantes. No ano passado, o aumento dos preços dos fertilizantes devido à guerra na Ucrânia e a busca por alternativas mais sustentáveis, fizeram com que os fertilizantes organominerais ganhassem destaque na produção agrícola.
Atrelado a este fator, estão sendo observadas situações de baixa eficiência do fertilizante mineral na lavoura, o que promove também, maior visibilidade do organomineral. Entre os principais motivos do baixo rendimento, podemos destacar as perdas por volatilização, lixiviação, fixação e salinização.
Estudos mostram que a eficiência da adubação mineral de nitrogênio, fósforo e potássio pode chegar a apenas 60%, 12% e 70%, respectivamente. Contudo, a eficácia do organomineral gira em torno de 70% a 80%.
Desta forma, a adubação com organomineral apresenta relevância para gerar retorno financeiro ao produtor rural, pela maior eficiência da adubação e assimilação dos nutrientes pelas plantas.
Os fertilizantes organominerais
Existem diversas definições na literatura sobre o que são os fertilizantes organominerais. De modo geral, considera-se que os fertilizantes organominerais são resultado da combinação de material orgânico com fertilizantes de origem mineral.
No ano passado, foi lançado pelo Governo Federal o ‘Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) 2022–2050’. A iniciativa visa fortalecer a competitividade da produção e da distribuição de fertilizantes no Brasil de forma sustentável, diminuindo a necessidade de importações e ampliando a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado internacional.
Dentro deste documento, os fertilizantes organominerais destaca-se como promissora para a nutrição de plantas, tanto sob o ponto de vista ambiental quanto econômico.
Para ser considerado um fertilizante organomineral, o produto deve atender a parâmetros determinados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, conforme a Instrução Normativa n.º25, de 23 de julho de 2009 e n°61, de julho de 2020.
A normativa determina que o fertilizante organomineral é uma mistura de uma ou mais matérias-primas orgânicas, podendo ser de origem animal, vegetal ou turfa, enriquecida com macro e micronutrientes. Pode ser obtido de uma mistura física ou pela combinação de fertilizantes minerais e orgânicos.
Classes
A legislação também classifica os fertilizantes organominerais em duas classes:
I – Classe “A”: produto que utiliza, em sua produção, matéria-prima gerada nas atividades extrativas, agropecuárias, industriais, agroindustriais e comerciais, todas isentas de despejos ou contaminantes sanitários, resultando em produto de utilização segura na agricultura;
II – Classe “B”: produto que utiliza, em sua produção, quaisquer quantidades de matérias-primas orgânicas geradas nas atividades urbanas, industriais e agroindustriais, com seu uso autorizado pelo órgão ambiental.
Os fertilizantes organominerais também devem respeitar as determinações de no mínimo 8% de carbono orgânico (COT), máximo de 30% de umidade, capacidade de troca de cátions (CTC) mínima de 80 mmol/kg–¹ e no mínimo 10% de macronutrientes e micronutrientes.
Portanto, o organomineral representa uma forma de destinação correta de resíduos diversos, além de permitir a adição de matéria orgânica no solo, sendo escassa na maior parte do solo brasileiro.
Benefícios da matéria orgânica
Dentro da matéria orgânica, o organomineral é composto por substâncias não-húmicas, substâncias húmicas, aminoácidos, hormônios vegetais, além de macro e micronutrientes. Na composição das substâncias não-húmicas (30%), possui lipídeos, ácidos orgânicos, carboidratos e proteínas.
Já na composição das substâncias húmicas (70%), possui ácido húmico, fúlvico e huminas. Os ácidos húmicos possuem a maior predominância na fração orgânica, sendo o responsável pela proteção dos nutrientes da fração mineral.
O maior aproveitamento ocorre devido à liberação gradativa dos nutrientes, com menor exposição no solo (slow release), menor fixação diante do menor contato do fósforo ao óxido de ferro e alumínio, evita as perdas por volatilização, com a baixa transformação de amônio em nitrato pelas bactérias, e por fim, menor lixiviação de nitrogênio e potássio.
A redução de perdas por lixiviação, volatilização e adsorção promove a maior capacidade de troca de cátions (CTC), estabilidade da temperatura, estruturação do solo, melhor aeração e maior desenvolvimento radicular.
O húmus é o responsável por propiciar a maior retenção de água no solo, com o uso de organomineral, devido às características esponjosas. Desta forma, melhora a capacidade produtiva das plantas em relação aos principais processos biológicos, como germinação, crescimento, florescimento e a frutificação.
Para as plantas
O maior volume radicular aumenta a superfície de contato para absorção de água e nutrientes, e como consequência, possui maior tolerância a estresses abióticos e promove a maior produtividade.
Em relação à atividade microbiana no solo, a aplicação de organomineral tem relação direta com a biologia do solo. A presença de húmus ativa o crescimento de microrganismos, principalmente a maior proliferação de fungos e bactérias benéficos para o crescimento das plantas e a redução dos fungos patogênicos.
Com o maior estabelecimento no solo, utilizam da matéria orgânica para seu estabelecimento no solo e auxiliam na decomposição, além de melhorar a absorção dos nutrientes minerais.
Utilização na agricultura
Existem diversos trabalhos que relatam a eficiência do uso de fertilizantes organominerais, tanto em culturas perenes quanto em culturas anuais. Entre os principais cultivos com maior uso destes fertilizantes destacam-se o café, citros, pastagens, cana, hortaliças em geral, soja, milho e feijão.
A melhor época para a utilização do organomineral é no sulco do plantio, porém, também pode ser aplicado a lanço em adubações de cobertura. No Brasil, a maioria dos solos tem pH ácido e, na fração orgânica, o ácido húmico possui a maior predominância e apresenta solubilidade em meio alcalino.
Portanto, o ideal seria realizar a correção do solo por meio da calagem, antes do plantio, para aumentar a eficiência da sua adubação diante dos principais benefícios que a matéria orgânica promove.