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Conservação do solo como prática fundamental da agricultura

Crédito: Depositphoto

Afonso Peche Filho
Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas
afonsopeche@gmail.com

De forma geral, toda atividade agrícola degrada, com maior ou menor intensidade. Partindo dessa premissa, podemos admitir uma diferença em conservar o solo e controlar a erosão.

Na agricultura moderna, a conservação do solo e da água pode ser definida como um conjunto de atividades protetoras e harmoniosas com a dinâmica do agroecossistema. Tem como objetivo proteger e “ativar” as condições de vida no solo.

As práticas de controle da erosão são atividades diferentes, utilizadas quando as áreas produtivas apresentam sinais de fragilização ou ocorrências erosivas e necessitam de intervenções como forma de tratamento preventivo ou recuperativo.

Portanto, as práticas de conservação do solo são as protetoras e as de controle da erosão são preventivas e recuperadoras. Às práticas revitalizadoras de “terras cansadas” dá-se o nome de agricultura regenerativa.

Importância das práticas conservacionistas

A conservação moderna do solo propõe um conjunto de métodos e práticas agrícolas para desenvolver e proteger a biocenose (comunidades biológicas e interações de espécies) e o biótopo (conjunto de condições físicas e químicas de abrigo) presentes no solo.

São atividades voltadas para a preservação da vida, da estrutura e da resiliência do solo. O objetivo principal é buscar e manter o alto funcionamento dos solos tropicais, tendo por diretrizes cinco princípios básicos:

1 – Proteger a superfície do solo contra a radiação solar e as chuvas torrenciais;

2 – Prover condições ideais para desenvolvimento de comunidades biológicas;

3 – Manter e aumentar as funcionalidades hidrológicas;

4 – Eliminar a perda de carbono armazenado no solo;

5 – Desenvolver as habilidades conservacionistas dos agricultores.

Mais qualidade

As práticas conservacionistas são focadas na manutenção qualitativa das funções importantes do solo, como é o caso de:

● Apoio às plantas produtivas;

● Manter a cadeia trófica ou alimentar (sequência linear da transferência de matéria e energia no agroecossistema, ou seja, a sequência de organismos servindo de alimento para outros);

● Eficiência na ciclagem interna de nutrientes;

● Manutenção da estabilidade de agregação e resistência à erosão;

● Infiltração e drenagem rápida da água;

● Filtragem e armazenamento da água;

● Manter e aumentar a capacidade de biorremediação dos solos;

● Manter e melhorar o efeito supressivo, ou seja, a capacidade do solo vivo em inibir patógenos, doenças e pragas;

● Manter a capacidade de ajudar a planta a crescer e produzir durante eventos “estressantes”, ou seja, manter a resiliência alta de forma permanente.

Importância das práticas de controle da erosão

A erosão é um processo resultante, causado pela retirada da cobertura natural sem levar em consideração a vulnerabilidade do terreno. Toda forma antrópica de ocupação e uso da terra produz externalidades erosivas com maior ou menor intensidade. É intensificada pela ocupação sem planejamento e por formas primitivas de usos do solo.

Como ocupação, podemos elencar a posição na encosta, sentido de instalação, dimensões, áreas de locomoção, bem como todas as áreas construídas e áreas protegidas. Como uso, temos a forma preparo, o tipo de lavoura, formas de irrigação, controle do mato, pragas e doenças.

O uso inadequado do solo produz a magnitude, ou seja, a grandeza ou importância do processo erosivo em diferentes tipologias. Toda prática voltada para o controle da erosão necessita de conhecimentos básicos do local, para ser executada com sucesso.

É preciso conhecer o solo, topografia, características climáticas e o histórico de uso da área. A partir dessa avaliação é que se propõem as práticas de prevenção e controle da erosão.

Crédito: Alexandre Limberger

Prevenção, sempre

O objetivo principal é o tratamento preventivo ou recuperador dos solos cultivados e para tanto há cinco princípios básicos:

 1. Ter em mãos o mapeamento pedológico e geomorfológico da propriedade;

 2. Conhecer o “tempo de recorrência climática”, fundamental no dimensionamento e adoção de estruturas conservacionistas;

 3. Saber que a fragilização do solo, provocada pela mobilização constante, aumenta progressivamente o risco de erosão;

 4. Adotar procedimentos, padrões e indicadores de qualidade operacional, o que diminui o risco de deficiência funcional nas estruturas conservacionistas;

 5. Entender que a capacitação técnica dos executores é preponderante.

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Observações importantes

As práticas de controle da erosão são focadas na prevenção e recuperação de processos erosivos, devendo-se observar:

● O levantamento e planejamento conservacionista;

● A adoção de práticas de caráter mecânico:

– Distribuição racional e adequação hidrológica de caminhos;

– Cultivo em contorno (em nível);

– Terraceamento;

– Camalhões e sulcos em pastagens;

– Canais escoadouros.

● A instalação de práticas de caráter vegetativo:

– Plantas de cobertura;

– Pastagens / integração lavoura- pecuária

– Florestamento e reflorestamento / SAFs (Sistemas Agroflorestais);

– Culturas em faixas;

– Cordões de vegetação permanente;

– Rolagem do mato;

– Cobertura morta;

– Faixas de bordadura;

– Quebra-ventos.

● A instalação de práticas de caráter edáfico:

– Controle do fogo;

– Calagem;

– Fosfatagem;

– Remineralização;

– Adubação verde;

– Adubação orgânica;

– Adubação química.

Agricultura regenerativa

Crédito: Marcus Mesquita

A agricultura regenerativa é um sistema de produção focado na revitalização dos agroecossistemas. Concentra esforços nas funcionalidades do solo. Tem como objetivo desenvolver modelos de manejo regenerativos a partir da opção de produção econômica feita pelo agricultor.

A estratégia de manejo regenerativo busca revitalizar as diversas funções do solo, como: armazenar, nutrir, alimentar, hidratar, proteger, abrigar, oxigenar, agregar, suprimir, entre outras mais complexas.

Alguns eixos propositivos são adotados na regeneração do solo, como aumento da biodiversidade, sequestro e armazenamento de carbono, melhoria do ciclo da água, aprimoramento dos serviços ambientais, aumento da resiliência às mudanças climáticas e fortalecimento da saúde e vitalidade do solo agrícola.

O objetivo é melhorar e conservar a capacidade produtiva das terras, por meio de uma variedade de práticas em combinação, como por exemplo: manutenção da máxima cobertura verde, cobertura morta, uso de rotação tripla, adição de materiais compostados e reciclagem da maior quantidade possível de resíduos agrícolas.

Com a revitalização, cessa o processo erosivo, a saúde do solo melhora progressivamente, abrigando menos pragas e patógenos, reduzindo a dependência de insumos tecnológicos, aumentando a renda.

Portanto, vale afirmar que:

– A conservação do solo é a base da “arte de agricultar”;

– O agricultor que “agriculta” produz “ambientes produtivos” e não degradados;

– A tecnologia para conservar “ambientes produtivos” é acessível a qualquer agricultor;

– A produtividade verdadeira é uma relação íntima entre o ambiente, o uso correto de tecnologia e a garantia de renda.

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