21.6 C
Uberlândia
quinta-feira, abril 25, 2024
- Publicidade -
InícioArtigosHortifrútiJambu - Hortaliça PANC da Amazônia

Jambu – Hortaliça PANC da Amazônia

Autores

Italo Marlone Gomes Sampaio
Engenheiro agrônomo, mestre em fitotecnia e doutorando em Agronomia – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
italofito@gmail.com
Sérgio Antonio Lopes de Gusmão
Mário Lopes da Silva Júnior
Professores – UFRA
Ricardo Falesi Palha de Moraes Bittencourt
Graduando em Agronomia – UFRA
Raimundo Renato de Freitas Wanzeler
Engenheiro agrônomo – UFRA

A família Asteraceae (compositae) apresenta algumas espécies cultivadas com grande aceitação mundial. Por outro lado, a família agrupa espécies com pouca expressão econômica, um grupo conhecido como hortaliças não tradicionais, em que a produção e comercialização limitam-se a mercados locais.

Neste panorama encontra-se a espécie do jambu (Acmella oleraceae (L.) R.K Jansen), uma planta da Amazônia brasileira, sendo sua ocorrência também relatada na África e Ásia. Essa hortaliça obteve grande evidência na região norte do Brasil, especificamente no Estado do Pará, onde foi introduzida com expressiva importância na cultura e gastronomia da região, tornando pratos como o tacacá patrimônio cultural imaterial da cidade de Belém.

Seu sucesso está relacionado a uma característica única sentida ao ingerir partes da planta, como folha, caule ou inflorescência, caracterizando-se pela sensação de formigamento que, posteriormente, torna a região afetada dormente.

Tal efeito está relacionado a um composto bioativo chamado de espilantol que, devido a sua comprovada ação analgésica e anestésica, vem sendo explorado na elaboração de produtos pela indústria de fármacos e cosmética. Além de sua apreciação na culinária, tendo em vista sua ação anestésica, a espécie possui utilização também como planta medicinal por povos tradicionais da Amazônia.

Formas de utilização

O uso mais conhecido do jambu é como componente importante no preparo de pratos típicos da culinária regional nortista, como o pato no tucupi e o tacacá. Além destes, o arroz paraense e a pizza de jambu são alguns dos produtos que estão sendo cada vez mais apreciados pelos consumidores locais e turistas.

Outra forma de utilização que tem conquistado o consumidor e garantido sucesso ao produto são as bebidas artesanais, produzidas a partir das inflorescências, como é o caso do licor e a cachaça de jambu. Em adição, a espécie apresenta aptidão como planta medicinal na região Amazônica, sendo usada no preparo de infusões para o tratamento de malária, anemia, dispepsia, estomatite e inflamações da boca, dentes e garganta, dentre outros.

Ademais, em algumas regiões do Brasil seu plantio ocorre em unidades produtivas que possuem o objetivo prioritário do estudo e exploração de compostos bioativos presentes na espécie.

Características botânicas da espécie

O jambu é uma planta de porte herbáceo, com altura variável entre 30 a 40 cm, ramificada e semicarnosa. Sua raiz é axial e apresenta intenso enraizamento secundário, podendo atingir cerca de 20 cm de profundidade. Além disso, possui folhas simples, cartáceas e opostas, com flores hermafroditas e dispostas em capítulos (inflorescência) e frutos tipo aquênio.

Produção de mudas

O jambu pode ser propagado de forma sexuada ou assexuada. Contudo, a propagação por sementes apresenta maior eficiência. Em condições favoráveis, a germinação ocorre dois dias após a semeadura, e a emergência de quatro a cinco dias.

Vale ressaltar que as sementes de jambu não são comercializadas – o que se observa é que nas regiões produtoras parte da área cultivada é reservada para a produção de sementes. A produção de mudas pode ser feita em canteiro previamente adubado com composto (sementeira). Outra forma prática da formação de mudas é por meio da utilização de recipiente (bandeja) e de substrato.

O substrato utilizado para a produção das mudas pode ser produzido nas propriedades ou via substratos comerciais. Independente do sistema de produção de mudas, a elevada densidade de semeadura, entre oito a dez sementes, é uma prática comum. Isto está relacionado à forma de comercialização do jambu, que ocorre em maços.

Assim sendo, o desbaste não é necessário. Aos 25 dias após a germinação ocorre o transplantio para a área definitiva, de preferência ao final da tarde.

Sistemas de produção

9  Cultivo convencional: todos os procedimentos citados anteriormente aplicam-se ao cultivo da cultura de forma tradicional ou convencional, desde a produção de mudas até a colheita. A principal característica deste sistema é a possibilidade de uso de adubos com solubilidade elevada, principalmente no que se refere a fontes nitrogenadas.  

9  Produção orgânica: o cultivo de jambu no sistema orgânico obedece às mesmas técnicas utilizadas para a produção no sistema convencional. Contudo, os insumos utilizados devem estar de acordo com a legislação para a produção de alimentos orgânicos. Princípios como compostagem, rotação de culturas, cobertura morta no solo, adubos orgânicos e manejo preventivo de pragas e doenças são algumas das práticas que podem ser empregadas na produção de jambu orgânico.

9  Sistema hidropônico: o jambu tem grande adaptação aos sistemas de cultivo hidropônico, uma vez que a espécie é encontrada em condição de crescimento espontâneo em áreas alagadas. Indica-se o uso do método NFT (Nutrient Film Tecnnique), o qual proporciona plantas com alto rendimento de folhagem, ramos mais tenros, maior longevidade pós-colheita e qualidade de folhas, possibilitando ainda vários cortes sem reduzir a qualidade do produto. As principais desvantagens do sistema estão no alto custo de implantação e no conhecimento técnico que o produtor deverá ter. Alguns fatores primordiais para o sucesso do sistema são: pH e condutividade elétrica da solução nutritiva, que devem variar entre 5,5 a 6,5 e 1,6 a 2,0 mS cm-1, respectivamente; qualidade da água e o controle da temperatura na solução nutritiva.

Plantio

 Na Amazônia o plantio do jambu pode ser feito durante o ano todo, principalmente quando se adota o cultivo protegido para o controle do excesso de chuvas da região. A cultura do jambu se adapta a diversos tipos de solos, e apresenta ótimo crescimento quando cultivado com adubação orgânica.

Dessa forma, recomenda-se, na adubação de base, a aplicação de 2,0 a 3,0 kg m-2 de composto orgânico ou cama de aviário, sendo incorporado até 10 cm de profundidade. Outras fontes de adubo orgânico podem ser utilizadas, devendo ser considerada a concentração dos nutrientes para evitar quantidades excessivas ou falta dos elementos. 

O espaçamento pode ser de 20 x 20 cm ou de 25 x 25 cm entre grupos de plantas obtidas por meio da semeadura em bandejas. Vale lembrar que o espaçamento adotado influenciará na emissão de ramos laterais nas plantas. Quando é feito transplantio de mudas, utilizando-se uma planta por cova de plantio, o espaçamento passa a ser de 5,0 cm x 5,0 cm.

Nos primeiros cinco dias após o transplantio, recomenda-se que seja dada atenção especial à umidade do solo, que deve ser mantido próximo à capacidade de campo, podendo a irrigação ser parcelada pelo menos duas vezes ao dia.

Manejo fitossanitário

O cultivo do jambu apresenta alguns riscos que precisam ser neutralizados para não comprometer a produção nem a qualidade do produto. Para a cultura do jambu, não há nenhum agrotóxico registrado. Portanto, o manejo fitossanitário deverá ser feito de forma alternativa. 

São identificados como promotores de perdas os pulgões (espécies diversas), paquinha (Neocurtilla hexadactyla (Perty)), caramujos e lesmas diversas, mosca minadora (Liriomyza spp.), e ácaros de espécies variadas. Dois fungos podem prejudicar o cultivo: a ferrugem (Puccinia sp) e o carvão (Thecaphora sp.)

Colheita

A colheita do jambu inicia-se entre 50 a 60 dias após a semeadura, período este que coincide com a fase de floração da cultura, dependendo das condições ideais de cultivo. Nesta fase as plantas possuem elevado teor de espilantol nas folhas e ramos, ponto este que se configura uma um indicador de qualidade para a espécie.

O jambu pode ser colhido por arranquio ou por corte de ramos. O produto é comercializado em forma de maços com aproximadamente 150 a 200 gramas. Quando se visa apenas a produção de inflorescência, a colheita pode ser realizada entre 70 a 90 dias após a semeadura, semanalmente, podendo estender-se por várias semanas, dependendo do sistema de cultivo, condições nutricionais e fitossanitárias da planta. Em média, a produtividade de inflorescência é de 1,0 kg por m2.

Considerações finais

Tendo em vista o crescente interesse internacional pelo sabor exótico e pela potencialidade de uso na indústria, o jambu deverá ter um forte crescimento em área plantada e produção nos próximos anos. É um impacto positivo na economia da Amazônia, pois além de não contribuir para o desmatamento, gera empregos diretos e indiretos, o que favorece a manutenção de uma economia sustentável desejada para a região.

ARTIGOS RELACIONADOS

Principais novidades da Agrolord na Hortitec

A principal novidade que a Agrolord levará para a Hortitec é o recém-lançado mulching Ecolon M24, a melhor ferramenta para o produtor que irá...

Novo programa de melhoramento estimula produção de trigo

Além de pesquisas voltadas para o desenvolvimento de cultivares com maior resistência à brusone, a Biotrigo também possui uma linha de pesquisa para avaliar o efeito do...

Benefícios das telas fotoconversoras para HF

Sueyde Fernandes de Oliveira Braghin Coordenadora de pesquisa e desenvolvimento O uso de telados para o cultivo de hortaliças, flores e frutas já é conhecido há...

Os nutrientes e ácidos húmicos essenciais à cana

Sandro Roberto Brancalião PhD. em Agronomia e pesquisador do IAC brancaliao@iac.sp.gov.br A combinação de fertilizantes fluidos especiais para o tratamento nutricional da cana-de-açúcar tem sido apontada por...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!