Controle de pragas: armadilhas coloridas e feromônios

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Franciely da Silva Ponce

Engenheira agrônoma e doutora. em Agronomia/Horticultura- FCA/UNESP

francielyponce@gmail.com

Claudia Ap. de Lima Toledo

Engenheira agrônoma e doutoranda em Agronomia/Proteção de Plantas- FCA/UNESP

claudia.lima.toledo@gmail.com

Santino Seabra Júnior

Engenheiro agrônomo, PhD e professor – Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat)

santinoseabra@hotmail.com

Crédito: Jorge Anderson

As armadilhas têm ganhado espaço pela possibilidade tanto de ser uma ferramenta de amostragem, como por auxiliarem no controle das pragas. Pesquisas relatam a eficácia no monitoramento de algumas pragas pelo uso de armadilhas coloridas e de feromônio.

As armadilhas adesivas coloridas, chamadas “trap”, atraem principalmente insetos sugadores, como por exemplo, as armadilhas amarelas, que atraem moscas-brancas, algumas espécies de tripes e pulgões, e a armadilha azul, que atrai alguns grupos específicos de tripes.

Os feromônios são sinalizadores químicos produzidos para atrair indivíduos de uma mesma espécie. As armadilhas de feromônio atraem os insetos machos de uma praga específica, sendo possível encontrar armadilhas de fermônio para diversas espécies de praga, como traça-do-tomateiro (Tuta absoluta), lagarta-enroladeira-da-folha (Bonagota cranaodes) mariposa-oriental (Grapholita molesta), lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), entre outros.

O monitoramento utilizando armadilhas, sejam elas coloridas ou de feromônio, é feito a partir da contagem dos insetos capturados, o que irá determinar a necessidade ou não do posicionamento de outro método de controle.

Danos

Os insetos sugadores, como mosca-branca (Bemisia tabaci), tripes (Thysanoptera) e pulgões causam muitas perdas às lavouras anualmente, sendo os dois primeiros pragas de grande importância mundial e elevado potencial destrutivo.

Além de se alimentarem da seiva das plantas, esses insetos são vetores de doenças. Em tomate e alface, os tripes são vetores de ‘vira-cabeça’, doença virótica causada pelo gênero tospovírus (TSWV, TCSV, GRSV, CSNV) que promove nanismo e necrose, sendo necessária a erradicação das plantas afetadas. Devido à severidade da doença, esses insetos vetores devem ser evitados a todo custo nas lavouras.

Alerta

A mosca-branca apresenta 44 espécies crípticas, sendo as espécies crípticas MEAM1 e MED os mais importantes no cenário atual. A espécie críptica MEAM1 encontra-se difundida em todo o cenário nacional, infestando plantas de soja, algodão, hortaliças como couve, brócolis, tomate, pimentão, pimenta, além de espécies ornamentais.

A espécie críptica MED tem sido descrita como mais agressiva, infestando principalmente plantas de pimentão e impossibilitando o cultivo; no entanto, pode infestar outras plantas.

Os insetos de ambos os biótipos são idênticos morfologicamente, entretanto, devido a adaptações fisiológicas, a espécie críptica MED é mais tolerante aos inseticidas químicos, necessitando de doses mais elevadas para seu controle.

Além do enfraquecimento das plantas devido à sucção de seiva, a mosca-branca é vetora de cinco gêneros de vírus Begomovirus, Crinivirus, Ipomovirus, Carlavirus e Torradovirus, sendo responsável pela transmissão de vírus como Tomato yellow leaf curl virus (TYLCV), Bean golden mosaic virus (BGMV) e o Tomato severe rugose virus (ToSRV), entre outros.

Os pulgões são importantes pragas de diversos cultivos. No Brasil, a reprodução se dá por partenogênese, em que uma fêmea alada dá origem a uma colônia. A alimentação constante dos insetos provoca nanismo, encarquilhamento das partes atacadas da planta, enfraquecimento devido à constante sucção de seiva, podendo ocorrer a transmissão de viroses e morte das plantas.

Dentre as espécies de maior importância agrícola, podemos citar o Brevicoryne brassicae L. (Hemiptera: Aphididae), o Mysus persicae (Sulzer) e Aphis gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae), praga de brássicas, anonas, algodão, pimenta, batata, tomate, entre outras. As armadilhas colantes são bastante eficientes na captura desses insetos, pois as fêmeas aladas aderem à armadilha, reduzindo a infestação.

As lagartas promovem desfolha e comprometimento tanto da produção quanto da qualidade. No mercado estão disponíveis feromônios para algumas mariposas-praga, como a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e a falsa-medideira (Chrysodeixis includens), espécies com muitas plantas hospedeiras, além de espécies especialistas como a traça-do-tomateiro (Tuta absoluta), a principal praga dos cultivos de tomate da atualidade.

A seleção de populações resistentes é um dos principais problemas relacionados ao manejo de pragas e tem diminuído a eficácia do posicionamento de inseticidas químicos, sendo necessário cuidado redobrado.

Formas de controle

 Como forma preventiva, a destruição dos restos culturas, utilização de inseticidas seletivos, escolha das cultivares resistentes, além do manejo do ambiente irão contribuir para prevenção das pragas. As armadilhas também podem ser utilizadas como método preventivo, servindo como atrativo e retardando a ocorrência da infestação.

O controle químico é o método curativo mais utilizado em todo o mundo, no entanto, é preciso investir em outras ferramentas, para reduzir o risco de seleção de populações resistentes, o que aumenta vida útil das moléculas inseticidas, além de reduzir a contaminação dos alimentos, meio ambiente e do trabalhador por pesticidas.

Armadilhas coloridas e feromônios x pragas

As armadilhas coloridas e de feromônios podem ser utilizados tanto na amostragem das pragas como no controle. A quantidade de armadilhas por área influenciará na capacidade de coleta, sendo recomendado em alguns casos, como o bicho-da-maçã (Cydia pomonella), que no monitoramento seja utilizada uma armadilha/ha e para controle, sete armadilhas/ha.

Outras pragas, como a traça-do-tomateiro e mariposa-oriental, é indicado um número fixo de armadilhas, independente do objetivo. Os insetos capturados nas armadilhas representam um indivíduo a menos infestando as plantas, além de um inseto a menos se reproduzindo.

As armadilhas são bastante atrativas aos insetos, sejam elas coloridas ou de feromônio, sendo capturados muitos indivíduos, o que refletirá na redução da infestação. 

Dentre os benefícios de se utilizar armadilhas, podemos citar:

• Detecção precoce da ocorrência da praga na área;

• Redução do tempo gasto na amostragem, pois os insetos encontram-se presos às armadilhas, facilitando a contabilização;

• As armadilhas também funcionam como medida de controle das pragas;

• As armadilhas não contaminam o produto nem o meio ambiente;

• Apresentam custo de aquisição baixo;

• No caso do uso de feromônios, a armadilha é específica para a praga que se deseja monitorar/controlar;

• Eficiência prolongada e fácil manuseio e implantação.

Manejo de aplicação

Em cultivos de hortaliças o uso de armadilhas coloridas e de feromônios para insetos polífagos, como mosca-branca, pulgões, tripes, lagarta-do-cartucho e falsa-medideira auxilia na redução de danos por pragas, pois essas pragas são de ocorrência comum em áreas hortícolas.

Em termos de produtividade, o uso de armadilhas para a captura de insetos praga pode reduzir a infestação e, consequentemente, a necessidade de pulverização, o que pode resultar no incremento produtivo, dependendo da armadilha, da cultura e da praga incidente.

No controle de traça-do-tomateiro, o uso de armadilha de feromônio pode resultar em incremento de 50% na rentabilidade, enquanto que no pessegueiro, a utilização de armadilha com feromônio sexual e de confusão, para o controle de mosca-das-frutas e a mariposa-oriental, reduziu em até 85% os danos aos ponteiros das plantas e 99% os danos aos frutos.

O erro mais frequente no uso da técnica está no período de utilização da armadilha, sendo necessária a substituição das armadilhas adesivas quando tiverem perdido a aderência, devido à quantidade de material aderido.

Quanto às armadilhas de feromônio, é preciso ficar atento às recomendações do fabricante quanto à necessidade de troca, para garantir o controle das pragas.

A altura de posicionamento das armadilhas pode variar, no entanto, as adesivas devem ser fixadas na altura do dossel da cultura. Posicionar a armadilha muito próxima ao solo pode diminuir a vida útil, pois a irrigação ou água da chuva provocará o salpicamento de solo, que fixará na superfície da armadilha adesiva.

Investimento x retorno

O custo da armadilha de feromônio para traça-do-tomateiro é de ± R$ 59,99, sendo recomendada uma ou duas armadilhas por hectare. A espécie responde bem ao feromônio, sendo capturados muitos insetos, o que auxilia também no controle da praga.

No mercado estão disponíveis armadilhas de feromônio para várias pragas (Tabela 1).

Tabela 1: Relação dos feromônios disponíveis no mercado, pragas, produtos comerciais, recomendação/ha, culturas e tipos de armadilhas.

PragaProdutoRecomendação/haCulturasTipo
Bicho-mineiro-do-café, Larva-minadora (Leucoptera coffeella)Bio BM®*1CaféDelta
Lagarta-enroladeira-da-folha (Bonagota cranaodes)Bio Bonagota®* Iscalure Bonagota®**2Maçã, pêssego, nectarina, ameixa, pêra, entre outras Rosáceas.Delta
Broca do café (Hypothenemus hampei)Bio Broca®*2 (monitotamento) 25 (controle)CaféBalde com funil.
Bicho-da-maçã (Cydia pomonella)Bio Cydia®* Iscalure Cydia®**1 (monitoramento) 7 (controle)Maçã, pêssego, nectarina, ameixa, pêra, entre outras Rosáceas.Delta
Mariposa-oriental (Grapholita molesta)Bio Grapholita®* Iscalure Grafolita**2* Entre 5 e 7**Maçã, pêssego, nectarina, ameixa, pêra, entre outras Rosáceas.Delta
Broca-pequena-do-tomateiro (Neoleucinodes elegantalis)Bio Neo®*4Testado para tomate.Delta
Lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens).Bio Pseudoplusia®1 armadilha para cada 5 hectaresTodas as culturas em que a praga ocorre.Delta
Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda).Bio Spodoptera®1 armadilha para cada 5 hectares.Todas as culturas em que a praga ocorre.Delta
Mosca-das-frutas (Ceratitis capitata)Bio Trimedlure®* Iscalure TML Plug®**1 sachê para cada 3 hectaresForam realizados testes para mamão e citros, podendo ser utilizados em outras culturas.Armadilha tipo Jackson
Traça-do-tomateiro (Tuta absoluta)Bio Tuta®* Iscalure Tuta**No mínimo de 2 armadilhas por hectare.Foram realizados testes para tomate, podendo ser utilizados em outras culturas.Delta
Moleque-da-bananeira (Cosmopolites sordidus)Cosmolure®*3BananaArmadilha para cosmolure.
Mariposa-oriental (Grapholita molesta)Isomate-OFM TT®*200 a 250 dispersores de ISOMATE-OFM TT.Maçã, pêssego entre outros.Feromônio de confusão.
Broca-do-olho-do-coqueiro (Rhynchophorus palmarum )Rmd-1®*1 armadilha para cada 2 hectaresCoco e dendêBalde com funil

O custo das armadilhas é variável conforme a empresa fornecedora e a quantidade de produto, no entanto, a duração das armadilhas é de mais de 20 dias, tornando o custo baixo. Além disso, serve como aporte na tomada de decisão do produtor, auxiliando no manejo assertivo do inseto-praga e reduzindo o custo de produção da cultura.

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