Claudia Vieira Godoy
Fitopatologista e pesquisadora da Embrapa Soja
Os custos para o controle da ferrugem na soja brasileira são estimados em US$ 2 bilhões por ano, considerando uma média de três aplicações para o controle da doença.
O manejo da ferrugem envolve diferentes estratégias, que incluem: a eliminação de plantas de soja voluntárias e a ausência de cultivo desta cultura na entressafra por meio do vazio sanitário; a utilização de cultivares de ciclo precoce e semeaduras no início da época recomendada; a utilização de cultivares com gene(s) de resistência; o monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da cultura e a utilização de fungicidas no aparecimento dos sintomas ou preventivamente.
Controle curativo
A única medida disponível após observados sintomas na lavoura é o controle com fungicidas para proteger as folhas ainda sadias. A eficiência curativa dos fungicidas hoje disponíveis é muito baixa.
A ferrugem apresenta uma alta correlação entre severidade de doença e redução de produtividade. É importante ressaltar que à medida que se atrasa o controle com a doença já instalada, já começam as perdas de produtividade. Essas perdas dependem muito do momento em que se observa a doença na lavoura e das condições climáticas após esse momento.
Se a doença aparecer quando a soja já completou o ciclo e está na maturação, não há prejuízo, mas em qualquer outro estádio podem ocorrer perdas de produtividade que serão mais acentuadas quanto mais cedo a ferrugem incidir.
A ferrugem pode aparecer em qualquer estádio na cultura, mas é mais comum após o fechamento das linhas de plantio em função do sombreamento e maior acúmulo de molhamento nas folhas de baixo. Àmedida que o inóculo aumenta nas semeaduras mais tardias, a doença pode aparecer antes do fechamento. Por isso é importante monitorar para evitar atrasos no controle.
Custo
O custo para combater a ferrugem asiática na cultura da soja varia em torno de 02 a 04 sacas, considerando o gasto com fungicida e aplicação.
Lembrando que o fungicida não aumenta a produtividade, mas evita reduções de produtividade (perdas) com a ferrugem. Essa é uma das doenças da soja com maior potencial de perdas, podendo chegar a 90% de redução de produtividade se não controlada.
Quanto mais cedo ela incidir na lavoura, maior o potencial de perda. As condições climáticas também interferem no potencial de perdas, uma vez que chuvas bem distribuÃdas após a observação dos sintomas iniciais favorecem o desenvolvimento da doença.
Fique de olho
O produtor deve monitorar a lavoura e também estar atento para a situação das lavouras vizinhas, uma vez que o fungo se dissemina facilmente com o vento. Um mapa com as ocorrências na safra é disponibilizado no site do Consórcio Antiferrugem (www.consorcioantiferrugem.net) e está disponível em aplicativos no AppStore e Google play.
Os técnicos que quiserem colaborar para a atualização do mapa também podem enviar informações sobre o aparecimento da doença na região. A finalidade do mapa é alertar os produtores e técnicos para as primeiras ocorrências da safra para que possam entrar com o controle no momento correto, evitando atraso de aplicações e reduções de produtividade.
Não há pessoas enviando informações em todas as regiões, e por isso o produtor não deve se basear unicamente no mapa para o controle. Por isso a importância de realizar o monitoramento na sua lavoura.
Atenção! A ferrugem-asiática é uma doença de alto risco em função do seu potencial de dano. Ela aparece toda safra e está presente na maioria das regiões produtoras.
O custo do controle é bem inferior ao potencial do dano que pode causar, ao contrário de outras doenças que incidem na soja, como a mancha-alvo e as doenças de final de ciclo.
A severidade da doença nas safras varia em função da época de semeadura e das condições climáticas. Produtores que semeiam logo após o final do vazio sanitário se beneficiam da redução de inóculo do fungo proporcionado pelo mesmo.
Com um vazio sanitário efetivo, os primeiros sintomas de ferrugem na safra tendem a ser observados a partir da segunda quinzena de novembro e início de dezembro, quando a soja semeada mais cedo se encontra na fase de formação/ enchimento de vagens, promovendo um escape da doença.
Àmedida que a semeadura avança, o fungo que se multiplica nas primeiras áreas se dissemina para essas lavouras, incidindo cada vez mais cedo. O número de aplicações de fungicida aumenta nas semeaduras mais tardias, passando de uma média de 01 a 02 aplicações nas semeaduras iniciais para 04 a 06 aplicações nas semeaduras de dezembro.