Autores:
Paulo Henrique Frois Correa Barros
Engenheiro agrônomo e consultor técnico – IPACER
paulohfcbarros@gmail.com
Athison Caio Bahia Machado
Graduando em Agronomia – Universidade Federal de Viçosa – campus Rio Paranaíba.
athison.machado@ufv.br
A cultura do café emprega no Brasil grande número de pessoas, sendo relevante fonte de receita – são mais de 8,0 milhões de empregados por toda a cadeia cafeicultora. O ano de 2022 é de bienalidade positiva e as estimativas de produção são de que ocorra aumento de 16,8% em relação a 2021(Conab, 2022). (Confira nesse artigo como a correta colheita de café favorece a próxima florada)
Colheita de café influencia no resultado final
Para que o ano seguinte mantenha uma boa produção, deve-se atentar à colheita de café, que ocorre no período de março a outubro. Entretanto, o maior volume de café colhido é de maio a agosto, quando ultrapassa 90% do volume total da colheita. Esta é uma das operações mais importantes na lavoura cafeeira, o que pode influenciar diretamente na quantidade de café colhido na presente safra e na safra do ano seguinte.
O melhor momento para colher café é quando a maior parte dos frutos está no estádio de maturação cereja (coloração vermelha ou amarelada), completamente maduro, e que no pé todo de café os frutos maduros (cereja) sejam superiores a 80%.
A hora certa da colheita de café
A época da colheita de café é fundamental para produzir cafés de alta qualidade, isso porque o método a ser adotado vai influenciar na qualidade dos grãos, como tamanho, formato, defeitos e consequente classificação. Além disso, nas condições após a colheita da lavoura vai interferir no planejamento e programação de manejo do ano seguinte, como adubação, compra de herbicidas, inseticidas, fungicidas, entre outros.
O pior período para realizar a colheita é quando no pé de café se encontra a maioria dos frutos no estádio de maturação verde, no qual o fruto ainda não está fisiologicamente maduro e pronto para ser colhido.
Consequências da escolha errada
A colheita dos frutos no momento errado causa perdas de compostos importantes (fenóis, polifenoloxidase), que favorecem a qualidade dos grãos, e ainda, a colheita de frutos verdes contêm grande volume de ácido clorogênico, que é indesejada por causar grandes perdas na qualidade de bebida.
Além disso, causa estresse à planta, pois a colheita será dificultada (grãos ficam mais difíceis de serem retirados). Em um trabalho de Freire e Miguelo com a cultivar Catuaí em diferentes estágios de maturação, observou-se que o ideal é colher o fruto no ponto cereja, quando apresenta a máxima qualidade.
Quando o café possui grande proporção de grãos verdes, as perdas de rendimento final são grandes, ao passo que o tipo e a bebida são comprometidos.
O aumento da quantidade de grãos cereja colhidos está diretamente ligado {a atividade da polifenoloxidase e a outros parâmetros químicos, permitindo avaliar a qualidade do café.
Logo, com o aumento da quantidade de grãos cereja, a atividade da polifenoloxidase aumentou de forma expressiva, indicando melhoria na qualidade dos grãos, ao passo que na colheita com maior porcentagem de grãos verdes, a atividade foi bem inferior. Tal comportamento mostra claramente a existência da relação entre qualidade de bebida dos grãos e atividade dessa enzima.
Obstáculos
O grão verde é um problema para a colheita, sendo considerado um defeito para classificação. Segundo pesquisadores, a sua utilização na torração reduz a qualidade do café, pois altera sua cor, aroma e sabor.
De acordo com outro pesquisador, com a adição do defeito “verde” a um café de bebida “extremamente mole” há uma redução linear da atividade enzimática e, consequentemente, da sua qualidade. Já os grãos ‘passas’ não são classificados como defeitos, e segundo Pimenta et al., os secos/passas apresentam atividade da polifenoloxidase relativamente alta, sendo inferior somente aos grãos de frutos-cereja, propiciando assim a colheita.
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Atenção
Os pontos aos quais devemos estar atentos para a safra de 2023, é que, de acordo com algumas entidades, a safra 2022/23 no Brasil deve sofrer redução. Estimativas de produção apontam o total de 64,5 milhões de sacas de 60 kg, 41,4 milhões de sacas de café arábica e 23,1 milhões de sacas de café canéfora.
Já a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê uma produção de 55,7 milhões de sacas, sendo 38,7 milhões de sacas de café arábica e para o café canéfora cerca de 17 milhões de sacas.
Portanto, com a previsão de baixa na produção do café, os produtores devem se atentar ao preparo da safra seguinte bem feito, com a compra de fertilizantes antecipadamente, pulverizações para controle de pragas (bicho-mineiro, broca, cigarras, ácaros e nematoides), doenças (ferrugem, phoma, cercosporiose, mancha-aureolada, rizoctonia, antracnose e mancha-anular) e plantas daninhas (corda-de-viola, picão-preto, capim pé-de-galinha, tiririca, braquiária, maria pretinha, entre outras).
E, também, deve se atentar à manutenção de seus equipamentos (tratores, colhedoras, pulverizadores, adubadoras, entre outros) e estruturas (terreiro, carreadores, despolpador, descascador, soprador) para que na safra seguinte a colheita não seja interrompida e prejudique a qualidade da bebida.
Bônus
Outro ponto importante é com relação à adubação adequada para a próxima safra, garantindo as funções fisiológicas do cafeeiro (fotossíntese, respiração, reações metabólicas, florada, formação dos grãos, entre outras).
O conhecimento da exigência de nutrientes é fundamental para nortear a adubação e permitir que se obtenham produtividades máximas e econômicas. As exigências nutricionais do cafeeiro aumentam bastante aos 2,5-3,5 anos, devido ao início da produção de grãos, extraindo grande volume de N>K>Ca>Mg>S>P. Vale ressaltar que aproximadamente no 5° ano do café os grãos são responsáveis por extrair ⅓ dos minerais (REIS e CUNHA, 2010).
Com isso, podemos notar a importância da correta colheita do cafeeiro, sendo fator chave para a safra atual e seguinte, influenciando todo o planejamento de investimentos na lavoura para próxima safra.