Rafael Rosa Rocha – Engenheiro agrônomo e mestrando em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) – rafaelrochaagro@outlook.com
O agricultor brasileiro está apostando mais em tecnologias, como a agricultura regenerativa, para atender às atuais demandas do consumidor, que tem cobrado uma produção de alimentos ambientalmente correta e socialmente justa.
A emergência da problemática do aquecimento global nos anos 1990 teve um impacto importante no debate sobre desenvolvimento sustentável em dois aspectos fundamentais: o problema do tratamento do risco ambiental e, novamente, a questão do “trade-off” entre crescimento econômico e meio ambiente.
Desta maneira, cresce a intenção e adesão de tecnologias e medidas que permitam o uso sustentável do solo e tornar a agricultura sustentável.
Atitudes sustentáveis
Rodízio de culturas ou uso de plantas de cobertura. Como o nome já diz, as plantas de cobertura têm a finalidade de cobrir o solo, protegendo-o contra processos erosivos e a lixiviação de nutrientes, porém, não se limitando a isso, já que muitas são usadas para pastoreio, produção de grãos e sementes, silagem, feno e como fornecedoras de palha para o sistema de plantio direto.
Tão importante quanto a parte aérea das plantas de cobertura são as raízes das mesmas. Os efeitos das raízes na produtividade agrícola ainda são pouco reconhecidos, embora seja sabido sobre sua importância na construção do perfil do solo.
Algumas espécies de plantas de cobertura, como o milheto e as braquiárias, possuem a capacidade de reciclar nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento das plantas que serão cultivadas em sucessão e, no caso da maioria das leguminosas, como fixadoras do nitrogênio atmosférico.
Desta maneira, estas características das plantas de cobertura podem contribuir para reduzir custos de produção, especialmente com fertilizantes químicos, que além de impactarem o custo de produção das culturas para produção de grãos, fibras e energia, trata-se de recursos naturais não renováveis.
Estratégia
As plantas de cobertura, quando adequadamente utilizadas, se constituem em estratégia para melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. Além do mais, são essenciais para incremento de matéria orgânica do solo, que é essencial na dinâmica desses atributos supracitados que compõem a fertilidade do solo. Isso ganha mais importância em solos tropicais e intensamente intemperizados.
Na tomada de decisão, o cultivo de espécies de plantas de cobertura pode ser feito utilizando uma única espécie, duas ou mais semeadas ao mesmo tempo na mesma área. A semeadura simultânea de mais de uma espécie, sob o ponto de vista de melhoria da biodiversidade do sistema, é inquestionável.
No entanto, tudo irá depender do propósito que se tem com o cultivo da planta de cobertura e das espécies consorciadas. É fato que o uso de plantas de cobertura tem uma certa “restrição” de boa parte do setor produtivo, já que não resulta em retorno financeiro direto e imediato.
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No entanto, os reflexos e entraves dos sistemas de produção atuais, baseados em sucessão de cultivos, como exemplo soja e milho, indicam de forma clara o papel dessas espécies na diversificação e viabilidade dos sistemas de produção.
Plantio direto
A técnica conhecida por plantio direto consiste no revolvimento mínimo possível do solo, estando diretamente ligada ao sistema de rotação de cultura. Tal técnica permite maior preservação da fauna existente no solo, proporcionando maior desenvolvimento vegetativo e produtivo das plantas.
Na ausência dessa prática, é possível que ocorram alterações físicas, químicas e biológicas do solo, ocasionando degradação estrutural do solo, diminuição da matéria orgânica, aumento da infestação de plantas daninhas, etc.
Desta forma, o plantio direto é uma tecnologia economicamente praticável e acessível, enquadrando-se nas diferentes regiões e níveis de tecnologias, o que contribui para um empreendimento agropecuário mais sustentável, garantindo rendimento das culturas, mitigando as possíveis erosões do solo e contaminação do meio ambiente, além de possibilitar retorno financeiro e ambiental.
Função das leguminosas
Sabe-se que a adubação verde é um processo economicamente viável e sustentável, pois é fonte de matéria orgânica. Sua principal função é o fornecimento de nutriente às plantas pela inserção de leguminosas e gramíneas.
As leguminosas têm a função de fixar nitrogênio por meio da fixação simbólica das matérias e as gramíneas fornecem o carbono e a biomassa no sistema, favorecendo o desenvolvimento dos microrganismos no solo.
A técnica é uma alternativa que propicia benefícios ofertados pela matéria orgânica disponibilizada para o solo e pela ciclagem de nutrientes, além da redução de gastos com fertilizantes (causando menor impacto ambiental), diversificação de cultivos, exploração do solo em diferentes faixas, maior retenção de água e redução de erosão.
Na busca por fixação biológica de nutrientes, as leguminosas mais utilizadas são: crotalárias, feijão de porco, feijão guandu e amendoim forrageiro.
Controle biológico
A utilização de controle biológico também é uma maneira de auxiliar na preservação e permitir um manejo sustentável do solo, pois podem-se usar espécies de bactérias ou insetos que combatem as pragas, sem trazer prejuízos para o meio ambiente.
Dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estimam que entre 20 e 40% da produção global de alimentos sejam perdidos todos os anos devido à ação de pragas. No entanto, é importante dizer que esses percentuais já foram muito maiores no passado.
Nesse sentido, o desenvolvimento dos defensivos químicos foi e continua sendo de grande importância para a proteção das plantas, prevenindo perdas de produtividade decorrentes do ataque de pragas.
Em relação ao passado, pode-se dizer que os produtos químicos sintéticos permitiram melhorias marcantes na produção de alimentos e nos padrões de vida. Mas, os defensivos químicos não são os únicos protetores de plantas.
A cada ano o controle biológico assume importância cada vez maior na agricultura moderna, principalmente por ser uma estratégia indispensável no Manejo Integrado de Pragas (MIP). Como consequência, a adoção de produtos biológicos tem crescido em ritmo acelerado no Brasil e no mundo.
Cabe citar os principais benefícios dessa tecnologia: performance equivalente à dos defensivos químicos; alto rendimento e promoção do MIP; bom custo-benefício ao longo do tempo; reduzida chance de a praga desenvolver resistência com o rodízio de princípio ativos; ausência de resíduos no produto agrícola; produtos biodegradáveis; possibilidade de aplicação de produto e realização de outras atividades em um mesmo dia.
Ação dos microrganismos
Microrganismos promotores de crescimento para as plantas são medidas importantes na sustentabilidade do solo, pois podem interagir de diferentes formas. A interação benéfica é quando o microrganismo auxilia no crescimento, desenvolvimento ou resistência das plantas, funcionando coletivamente como um microbioma.
Já uma interação prejudicial é quando o organismo afeta o bom desenvolvimento da planta hospedeira, sendo de forma direta ou indireta (Gomes et al., 2016). Nesse grupo de microrganismos, encontram-se os fungos e as bactérias, atuando na mobilização e transporte de nutrientes, produção de fitormônios e de compostos orgânicos que promovem desenvolvimento e ajudam na proteção de patógenos, doenças e situações adversas, como déficit hídrico e alta salinidade, além de conseguirem, por meio de associações, a fixação de nitrogênio e mineralização de fósforo e aumento na rizosfera.
Para Mendes, Garbeva e Raaijmakers (2013), técnicas como a inoculação de microrganismos promotores de crescimento, ou seja, que promovam crescimento vegetal, controle biológico de pragas e doenças, são exemplos da utilização do microbioma das plantas, podendo conferir uma diminuição dos custos e riscos de produção, além do aumento da sustentabilidade na agricultura com recursos biológicos.
Primeiros passos
Quero utilizar tecnologias que permitam o uso do solo de forma sustentável, como iniciar? Essa pergunta deve ser sempre analisada com cuidado, pois medidas erradas podem interferir de forma negativa na produção de determinado cultivo.
É importante sempre levar em consideração o histórico do solo e cultivos. Uma boa análise do solo é fundamental, assim como seguir recomendações de um técnico ou agrônomo responsável.
A escolha dos cultivos de cobertura ou para adubação verde deve ser criteriosa em aspectos de retorno de benefícios e pensando na próxima cultura que será conduzida. A adoção do controle biológico deve ser orientada por monitoramento constante, com a integração de químico e biológico para ocorrer melhores ganhos e controle no início, dependendo das pressões de ocorrência de pragas e patógenos no solo.
Desafios e perspectivas
Os desafios e perspectivas estão mais relacionados às dificuldades das ameaças das mudanças climáticas. Estima-se que nos últimos 30 anos tenha havido uma queda de até 5% na produção global de milho e trigo por conta desse fator.
Desta forma, para que as mudanças climáticas não causem a estagnação da produção ou até mesmo sua diminuição, é importante investir em medidas que possam contornar os seus impactos. Nesse sentido, é necessário desenvolver tecnologias que permitam alta produtividade em terras já cultiváveis e o investimento em métodos para sustentabilidade do solo que venham auxiliar o cultivo.
Quando aplicadas de forma correta, geram para o agricultor ganho de competitividade; mais visibilidade no mercado; redução dos gastos, com mais produtividade; respeito às normas ambientais; melhoria na qualidade do solo, na gestão da água e na vida no campo e aumento da diversidade nas lavouras e do valor agregado do produto, com a diversificação da biodiversidade local.
Tendência
A sustentabilidade já é uma necessidade. Nesse sentido, adotar práticas sustentáveis na agricultura vai muito além da escolha de proteger o meio ambiente. Essa atitude implica na redução de custos de produção, o que se reflete no valor final dos produtos e no fortalecimento do negócio.