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Cultivo de uva de qualidade avança Brasil afora

A região sul detém quase 60% da produção nacional e a região nordeste, segunda maior produtora, representa 30% da produção vitícola nacional. Mas, a vitinicultura está expandindo para outros estados.

Crédito: André Luiz Kulkamp

O cultivo de uva (Vitis spp.) apresenta distribuição desde a região sul até o nordeste do país. Em 2023, a área vitícola nacional foi de 76.747 ha, com uma produção de 1.719.630 toneladas e uma produtividade média de 22.635 kg ha-1, segundo informações do IBGE.

A região sul detém quase 60% da produção nacional (1.017.474 ton), e o estado do Rio Grande do Sul é o maior produtor de uvas do Brasil, correspondendo a 62% da área vitícola e 53% da produção brasileira.

A região nordeste, segunda maior produtora, representa 30% da produção vitícola nacional (513.048 ton), com mais de 11 mil hectares plantados. Pernambuco detém 87% da produção da região e 26% do total nacional, com mais de 440 mil toneladas de uvas.

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Santa Catarina é um estado conhecido pela diversidade de suas condições climáticas, o que representa um desafio e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para a viticultura.

André Luiz Kulkamp de Souza, pesquisador da Estação Experimental da Epagri, conta que as variedades Felícia e Calardis Blanc são as primeiras indicadas para plantio pela Epagri e UFSC em um projeto que avalia mais de 40 variedades viníferas. “Elas se destacam por sua alta qualidade enológica e resistência a doenças, o que é crucial nas condições climáticas de Santa Catarina, onde altas temperaturas, umidade elevada e chuvas frequentes favorecem o surgimento de doenças que prejudicam o cultivo”, explicou.

Essas variedades foram testadas em diferentes altitudes e regiões do estado, desde áreas quentes e baixas, como Urussanga, até locais mais altos, como Água Doce e São Joaquim. “A adaptação dessas variedades às diversas condições climáticas, com particularidades específicas para cada região, facilita o plantio e promove uma produção mais sustentável”, destacou o pesquisador.

Cobertura plástica traz redução de agrotóxicos

Souza enfatizou a importância do uso de cobertura plástica no cultivo de videiras, uma prática que vem sendo testada recentemente no projeto. “Nos primeiros 10 anos, trabalhamos sem cobertura plástica para avaliar as plantas em condições adversas. Agora, estamos utilizando a cobertura plástica nas variedades Felícia e Calardis Blanc, visando orientar os produtores sobre o melhor manejo”, disse.

A cobertura plástica oferece uma significativa vantagem: a redução de doenças, que implica em menor necessidade de agrotóxicos e maior sanidade dos cachos. Isso, por sua vez, resulta em uma produção de uvas de alta qualidade, beneficiando tanto os produtores quanto os consumidores.

“A cobertura plástica é um investimento significativo, especialmente para cobrir um hectare de parreira, o que representa uma despesa considerável. É crucial que o produtor avalie o preço de venda das uvas e os potenciais retornos financeiros. A quantidade de chuva na região também deve ser considerada ao calcular o custo-benefício”, diz o pesquisador.

Mais vantagens

Ele ainda destaca que, para uvas de consumo in natura, como as sem semente ou a Niágara, que têm um valor de mercado mais alto, a cobertura plástica pode agregar valor à produção. “Optar por uma cobertura mais econômica pode resultar em um bom retorno, considerando os benefícios que ela proporciona. A viabilidade do investimento em cobertura plástica dependerá das características individuais de cada produtor e de seu orçamento.”

Além dos aspectos econômicos, Souza ressalta que a utilização da cobertura plástica oferece mais segurança e tranquilidade para o produtor rural, protegendo a produção contra intempéries e doenças.

Sustentabilidade ambiental

O uso de variedades Piwi, como Felícia e Calardis Blanc, é um passo importante para a sustentabilidade ambiental na viticultura. “Essas variedades reduzem a necessidade de tratamentos fitossanitários, diminuindo a pulverização de produtos químicos para controle de doenças. Isso não só é benéfico para o meio ambiente, mas também para a saúde dos produtores e consumidores”, afirmou Souza.

Além disso, a redução no uso de produtos fitossanitários implica em um menor custo de produção, tornando o processo mais econômico e sustentável. “A combinação de variedades resistentes, uso de cobertura plástica e práticas de manejo sustentável é a chave para o futuro da viticultura em Santa Catarina”, concluiu o pesquisador.

Perspectivas e tecnologias emergentes

Sobre as perspectivas futuras, Souza acredita no grande potencial das variedades Piwi, como Felícia e Calardis Blanc, que estão se expandindo em solos catarinenses, brasileiros e globalmente. “A Europa, frequentemente protagonista em inovações agrícolas, já tem visto um aumento na área de cultivo dessas variedades. Espera-se que não apenas Felícia e Calardis Blanc, mas também outras variedades futuras ocupem um espaço importante na agricultura nacional, visando reduzir custos de produção e oferecer um produto mais limpo e de alta qualidade”, pontua.

Inovações genéticas

As variedades Felícia e Calardis Blanc foram desenvolvidas na Alemanha pelo Instituto Julius Kühn, que é parceiro da Epagri.

André Kulkamp relata que a uva Felícia combina genes de resistência ao míldio e ao oídio e apresentou redução de mais 60% em tratamentos fitossanitários quando comparada com variedades viníferas tradicionais.

Ela se destaca pela produtividade muito alta, produzindo uma média de 18 toneladas por hectare em espaldeira, índice que pode aumentar ainda mais, dependendo do sistema de condução adotado.

Apresenta, ainda, alta fertilidade de cacho, produzindo, em média, mais do que dois cachos por ramo, o que é bem acima da maioria das variedades. Tanto as bagas quanto os cachos são grandes, com peso médio de 200 g por cacho, o que pode demandar raleio.

Também apresenta superprecocidade, o que pode ser uma vantagem para alguns locais, mas deve ser evitada em locais sujeitos a geadas tardias. “Em Videira é colhida em meados de janeiro, com brotação no final de agosto e início de setembro”, detalha o pesquisador.

É recomendada para elaboração de vinhos tranquilos e espumantes de consumo jovem. O aroma é delicado, floral e frutado, com destaque para frutas brancas (banana e maçã verde). É um vinho leve ao paladar, de acidez harmoniosa e bastante fresco.

Calardis Blanc

A Calardis Blanc também apresentou redução de mais de 60% de tratamentos fitossanitários em relação às variedades tradicionais de Vitis vinifera. Combina genes de resistência ao míldio, ao oídio e ao black rot.

Tem alta produtividade, produzindo pelo menos 15 toneladas por hectare em cada safra, podendo chegar a 20 toneladas, mas se mantendo na média de 16 a 17 toneladas por hectare quando conduzidas em espaldeira. É uma variedade muito fértil, produzindo em média 2,5 cachos por ramo. Seus cachos são de tamanho médio, com cerca de 130 gramas cada.

Segundo André, a Calardis Blanc tem grande potencial para produção de espumante. Apresenta tonalidade amarelo-esverdeada. Ao olfato tem complexidade média, com aromas de frutas brancas (pêssego e maçã), frutas cítricas (limão e laranja) e frutas tropicais (lichia), além de aroma floral, certa mineralidade e notas herbáceas. No paladar apresenta corpo leve, acidez fresca, persistência média e um retrogosto agradável.

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