Ingryd Dayane Soares de França
ingrydsoaresfranca@gmail.com
Maria Eduarda de Oliveira Barbosa
maria.barbosa.700@ufrn.edu.br
Ecólogas – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
O desbaste de árvores é uma prática de manejo florestal com raízes antigas, a qual tem sido utilizada ao longo dos anos para otimizar o crescimento das florestas e garantir a sustentabilidade dos recursos florestais.
Desde as primeiras tentativas de manejo, o desbaste tem sido uma ferramenta essencial para a redução intencional do número de árvores em um determinado povoamento. Com o avanço das técnicas de manejo florestal, o desbaste passou a ser aplicado de forma mais refinada e adequada, especialmente quando realizado no momento certo.
Essa evolução permitiu que o desbaste se adaptasse melhor às necessidades contemporâneas de conservação e produção sustentável.
Objetivo
A intervenção visa condicionar a competição entre as árvores remanescentes, proporcionando-lhes mais espaço, luz e acesso a nutrientes essenciais para o seu crescimento e desenvolvimento saudável.
Ao retirar seletivamente árvores menos vigorosas ou que apresentam características indesejáveis, o desbaste melhora as condições de crescimento das árvores que permanecem no povoamento.
Além disso, a técnica reduz o sombreamento excessivo, que pode limitar o desenvolvimento das copas e afetar a qualidade da madeira produzida. A prática do desbaste é orientada pela classificação da posição sociológica das árvores no povoamento, suas características morfológicas, como copas e fustes, e seu estado sanitário, garantindo que a remoção das árvores seja realizada de forma estratégica e eficiente.
Tipos de desbaste e técnicas utilizadas
Existem diferentes tipos de desbaste que variam conforme o tipo e os objetivos de manejo. O desbaste baixo remove as árvores menores para favorecer as dominantes, e o desbaste alto elimina as árvores maiores, permitindo que as menores recebam mais luz.
Outras abordagens incluem o desbaste seletivo, focado em remover árvores de baixa qualidade ou saúde, o desbaste sistemático, que cria espaçamento regular entre as árvores, e o desbaste em faixas, aplicado em grandes áreas.
Além disso, variadas técnicas também são utilizadas, como o desbaste manual, que é adequado para áreas menores, oferecendo maior precisão ao remover árvores com ferramentas como motosserras.
Figura 1: Imagem ilustrativa demonstrando a diferença de uma área de floresta com e sem o desbaste, (A) sem desbaste e (B) com desbaste.
Fonte: Instituto Brasileiro de Florestas (IBF).
Já o desbaste mecanizado é eficiente em áreas extensas, utilizando máquinas como harvester, embora possa ter maior impacto no solo. Em casos onde não é viável a remoção física imediata, o desbaste químico pode ser aplicado, interrompendo o crescimento das árvores indesejadas de maneira gradual.
Para situações específicas, o desbaste por queima controlada pode ser utilizado para limpar áreas com vegetação densa, favorecendo o desenvolvimento das espécies desejadas. Já o desbaste por desramação foca na remoção de galhos inferiores, melhorando a qualidade da madeira.
A escolha da técnica depende das condições ambientais, do tipo de floresta e dos objetivos a longo prazo, seja para otimização da produção ou preservação ambiental.
Importância do desbaste no tempo certo
As árvores passam por diferentes fases de crescimento, cada uma demandando estratégias específicas de manejo. Quando as árvores ainda são jovens e estão estabelecendo sua estrutura básica, o desbaste pode ser realizado para reduzir a competição por recursos, favorecendo o desenvolvimento dos indivíduos mais promissores.
Nesse estágio, o desbaste precoce ajuda a moldar a estrutura da floresta e a promover o crescimento vertical. À medida que as árvores amadurecem, o foco do desbaste muda para a gestão da densidade e a melhoria da qualidade da madeira.
Em florestas em fase de maturidade, o desbaste deve ser feito com base na análise da copa, diâmetro e saúde das árvores, garantindo que o volume de madeira e a qualidade das árvores restantes sejam otimizados.
Quando desbastar?
O momento ideal para o desbaste depende do estágio de crescimento e dos objetivos de manejo específicos. Além disso, a quantidade de árvores a serem removidas depende da densidade do plantio, regime de desbaste, e qualidade das árvores.
Um estudo estabeleceu que a idade econômica de corte da floresta é aos 48 meses, considerando o valor do volume de madeira produzido em relação ao horizonte de planejamento.
Fatores adicionais que afetam essa idade incluem o horizonte de planejamento, custos de produção, preço da madeira e produtividade do local. No entanto, desbastes excessivos podem causar um crescimento desproporcional da copa e dos galhos, comprometendo a qualidade da madeira e diminuindo a produção volumétrica da floresta.
Algumas espécies florestais se beneficiam de desbastes realizados em momentos específicos de seu ciclo de crescimento. Por exemplo, espécies de rápido crescimento, como o eucalipto, podem se beneficiar de desbastes realizados durante a fase juvenil para promover um crescimento mais vigoroso e retilíneo.
Benefícios do desbaste adequado
O desbaste adequado de árvores favorece a saúde dos indivíduos arbóreos, pois reduz a competição por recursos necessários para a realização da fotossíntese, como água, luz e nutrientes, incluindo nitrogênio, fósforo e potássio, além do melhoramento genético, deixando apenas árvores com as melhores características genéticas.
Figura 2: Atuação das variáveis pesquisadas sobre a lucratividade.
Fonte: Soares et al., 2003.
Com isso, a circulação do ar melhora, ocorre a redução de doenças, assim como a prevenção de novas, e o crescimento em diâmetro aumenta, melhorando o índice de sobrevivência das árvores que permanecem.
Dessa forma, são produzidas árvores de grande porte, com madeira e frutos de boa qualidade, de maneira rentável, para fins comerciais. Além disso, o desbaste correto das árvores traz benefícios também para a fauna local, promovendo a diversidade de espécies, uma vez que as condições de produtividade da flora melhoram.
Pesquisas
Um estudo verificou que existe diferença significativa no crescimento e na qualidade da madeira em florestas onde se realiza o desbaste, em comparação com aquelas em que ele não ocorre.
No estudo, foi realizado uma análise econômica para verificar a rotação econômica com e sem a realização de desbaste e foi encontrado que, sem o desbaste, a rotação econômica propicia menor lucratividade (Figura 2) e, com desbaste, principalmente quando realizado mais cedo (48 meses) e com remoção de 20% da área basal, gera maior rentabilidade econômica.
Análise de viabilidade
O desbaste é um mecanismo essencial para o desenvolvimento das florestas, sendo crucial realizá-lo no momento adequado, conforme o estágio de crescimento das árvores e as necessidades específicas de cada espécie.
Essa prática otimiza a saúde, qualidade e produtividade das florestas, aumentando a lucratividade no comércio madeireiro e promovendo um manejo florestal mais sustentável.
Entre os benefícios, destaca-se a maximização da produtividade vegetal, que contribui para a diversidade da fauna local. Recomenda-se que o desbaste seja realizado conforme necessário, com um plano de manejo bem estruturado, garantindo a sobrevivência e o desenvolvimento das florestas, além de um elevado potencial econômico.
Novos estudos são necessários para aprimorar as práticas de desbaste, focando na sustentabilidade e na conservação da biodiversidade.