Emerson Trogello
Doutor em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa e professor – IF Goiano Morrinhos
emerson.trogello@ifgoiano.edu.br
Ana Caroline de Araújo
Mestranda em Proteção de Plantas – IF Goiano Urutai
carolagro0@gmail.com
Vinícius Cândido Gonçalves
Mestrando em Olericultura – IF Goiano Morrinhos
viniciusc._@hotmail.com
As plantas daninhas são consideradas problema global em diversas culturas, por conseguirem se desenvolver em ambientes com condições desfavoráveis, serem altamente competitivas e com capacidade de produzir grande número de sementes de fácil dispersão.
Seu controle passa sempre pelo manejo integrado de princípios, como preventivo, cultural, físico, mecânico e, em última situação, o manejo químico da planta daninha.
Causas e consequências
O grau de interferência das plantas daninhas sobre a cultura depende de inúmeros fatores, passando pela cultura em si, pela comunidade de plantas daninhas existentes na área, pelas condições de ambiente e suas limitações de insumos, e pelos períodos em que a planta daninha e a cultura convivem entre si.
Desta forma, para reduzir o grau de interferência das plantas daninhas, temos que buscar ao máximo favorecer a cultura de interesse (genética adaptada ao ambiente, população de plantas ideal, adubação e nutrição acompanhando a necessidade da cultura, tratos de proteção de cultura, entre outras estratégias), desfavorecer a comunidade de plantas daninhas (reduzir sua população, restringir espécies de maior impacto, entre outras), propiciar um ambiente sem limitações de água, luz, nutrientes, etc. e, principalmente, fazer com que a cultura não conviva com a comunidade de plantas daninhas.
Pesquisas
O período de convivência da cultura com a planta daninha, sem dúvida, deve ser evitado. No trabalho disponibilizado por Silveira, et al., (2008), podemos observar que o convívio da cultura da soja, da sua emergência (0 DAE) até sete dias após, não apresentaria redução significativa de produtividade.
Já o convívio da planta daninha com a cultura de 7,0 DAE até 42 DAE representa um período crítico, reduzindo a produtividade e devendo o convívio ser evitado. Quando levamos esta informação para o campo, temos que avaliar sempre o operacional do produtor.
Seria possível realizar o controle rapidamente antes dos sete dias após emergência? E se este controle for postergado, quais seriam os impactos? Os impactos, certamente estamos vendo a campo atualmente.
Quando postergamos a entrada do herbicida, perdemos em duas vias – na primeira a perda direta por competição da cultura com a comunidade de planta daninha. A segunda seria a perda do estádio de controle de plantas daninhas, dificultando assim o seu manejo com as doses padrões de bula de determinados produtos.
Ciclos culturais
Ainda relacionado às entradas pós-emergência da cultura de interesse, temos que ter em mente que os ciclos da soja estão cada vez mais curtos. Imaginemos uma soja com 100 dias de ciclo – caso a mesma permaneça em competição com daninhas por dois ou três dias, isto representa 2,0 a 3,0% do ciclo de vida do material em competição, e certamente teremos perdas produtivas.
Observamos nesta safra de soja, um produtor americano atingindo um novo recorde de produtividade, com mais de 231 sc/ha. Certamente vários manejos impactaram nesta alta produtividade, mas um deles, sem dúvida, é a elevação do potencial produtivo da genética de soja.
Aqui, sempre nos vem a conclusão: se aumentamos o potencial produtivo da soja, por vezes ela perde algumas características de tolerância ao meio. Ou seja, estamos observando em várias situações que as cultivares atuais estão mais sensíveis a efeitos fitotóxicos de herbicidas pós-emergências, como imazetapir, clorimuron, e até mesmo o glifosato.
Recomendações para um manejo bem feito
Diante disto, uma dessecação pré-plantio bem realizada, fazendo com que a cultura seja semeada no limpo, com o posicionamento de um pré-emergente no plante aplique, retira a carga de controle de plantas daninhas dos herbicidas pós-emergentes, garantindo uma cultura no limpo, com menor perda de produtividade devido aos efeitos fitotóxicos oriundos dos herbicidas.
Cremos, assim, que a ordem de “importância” de controle de plantas daninhas deve ser a seguinte:
Ainda, devemos levar em conta que a dessecação pré-plantio é uma importante janela para lançarmos mão de herbicidas de amplo espectro de controle e buscar realizar o controle de plantas daninhas tolerantes a herbicidas como o glifosato.
Foco
Para este manejo, é de suma importância focarmos na identificação das plantas daninhas presentes na área no momento da dessecação, para, aí sim, termos uma tomada de decisão mais assertiva.
Caso a planta daninha mais abundante seja a Buva (Conyza spp.), podemos trazer para o sistema de dessecação, como exemplo, a combinação de glifosato + 2,4-D + saflufenacil em janela antecipada de dessecação.
Ao observar que somente esta combinação não realizou o controle a contento, pode-se optar pela sequencial, utilizando o glufosinato (seis a oito dias após a primeira aplicação). Observa-se que somente nesta combinação, lançamos mão de quatro mecanismos de ação diferentes (Inibidor da EPSPs, Mimetizador de AIA, Inibidor da PROTOX e Inibidor da glutamina sintetase).
Salienta-se, aqui, que ao utilizar o 2,4-D na dessecação pré-plantio, deve-se respeitar o período residual para a semeadura da soja não tolerante.
Caso a planta mais abundante seja o capim amargoso (Digitaria insularis), ou mesmo capim pé-de-galinha, podemos moldar a aplicação com a combinação de glifosato + DIMs e uma sequencial lançando mão de diquat ou mesmo glufosinato. Novamente, conseguimos mesclar diferentes mecanismos de ação para o controle de planta daninha tolerante.
O que vemos a campo é que a mensuração de quais plantas daninhas estão presentes na área no momento da dessecação ou de outro manejo é muito subjetiva, sem um critério muito técnico de mensuração. Sendo assim, propomos aqui a utilização de uma ferramenta simples, como a da figura:
Na primeira imagem vemos a composição florística do local, e nela não conseguimos discernir quais espécies realmente temos na área como um todo. À medida que utilizamos um quadrado de área conhecida (0,5 x 0,5 m), retiramos a planta daninha ali presente, identificamos e quantificamos a mesma, podendo visualizar a totalidade da composição florística daquela área amostral, identificando plantas que em um primeiro momento não eram “visíveis” na área.
Ao repetirmos esta avaliação em vários pontos da área, teremos um dado bem assertivo para balizar qual produto escolher, que dose, qual volume de aplicação, entre outros.
O produtor, realizando esta avaliação constante na área, vai ter dados até mesmo sobre fluxos de emergência na área, banco de semente de plantas daninhas e a predominância de uma ou mais espécies ao longo do ano.
Sem dúvida, estas informações são chaves na busca de uma dessecação mais assertiva e na luta contra as plantas daninhas resistentes a herbicidas.