Edson Luiz Furtado
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e professor – FCAV/Unesp
edson.furtado@unesp.br
Lisandro Pieroni
Engenheiro florestal e doutorando em Proteção de Plantas – Unesp
lisandro.pieroni@unesp.br
Lucas Benso
Engenheiro florestal e doutorando em Ciência Florestal – Unesp
benso.florestal@gmail.com
As doenças da seringueira são causadas por fungos, em sua maioria, tendo uma única ocorrência de doença ocasionada por vírus, encontrada em um material híbrido de Hevea benthamiana, propagado através da enxertia.
Ao longo da domesticação da seringueira, feita no Ceilão, hoje conhecido por Sri Lanka, a clonagem foi uma das técnicas importantes para a propagação de material uniforme e produtivo.
A formação de porta-enxertos e um jardim de plantas fontes de gemas de clones selecionados foram imprescindíveis, dando origem aos viveiros que conhecemos até hoje.
Patógenos
Os porta-enxertos são formados a partir de sementes híbridas coletadas em campos de pés francos e já trazem consigo patógenos importantes para dentro do viveiro. As sementes contaminadas podem ser consideradas fontes de inóculo primário e carregam de forma passiva estes patógenos para áreas ainda isentas.
Entre os fungos patogênicos à seringueira, foram encontrados em sementes oriundas do Pará, Bahia e São Paulo: Lassiodiplodia (Botryodiplodia) theobromae, Phomopsis sp., Phyllosticta sp., Colletotrichum gloeosporioides, Fusarium sp., Phytophthora spp. e Alternaria sp.
Outro ponto importante a ser levado em consideração é a localização do viveiro, quanto ao estado e região do país, pois existem doenças que são específicas para determinada situação climática e região e a seringueira está amplamente distribuída.
Para resumir, as principais doenças ocasionadas por fungos na cultura da seringueira são em número de 15, das quais pelo menos 10 atingem os viveiros, cujos danos podem variar entre clones e entre regiões onde as mudas estão sendo produzidas.
Dentre as doenças mais importantes se destacam:
Mal-das-folhas: atinge todos os estados produtores, uma vez que os viveiros são irrigados;
Requeima: muito comum no estado da Bahia;
Mancha areolada: muito comum no Acre, Amazonas e Pará;
Antracnose: em todos os estados;
Crosta-negra: está se disseminando, muito importante na região N, CO e SE, com novas ocorrências no estado da BA, na região NE;
Oídio: região do SE.
Zonas mais suscetíveis
Na regionalização para a cultura da seringueira no Brasil, ficou definido como:
I – Região muito úmida, que é a amazônica e seus estados: AM, PA, AC e RO, parte do NE, PE e BA e Vale do Ribeira (SP), que plantam seringueira, com clones nacionais e raramente clones orientais.
II – As zonas com período seco definido concomitante, com a troca de folhas da seringueira, denominadas de “zonas de escape”, com plantio de clones nacionais e orientais de alta performance, como a região CO (TO, SE do MT e L do MS) e os estados de SP (Planalto), ES e MG, na região SE.
Desta forma, na região I se destacam as doenças abaixo:
Mal das folhas, requeima, mancha areolada e a crosta-negra, com necessidade de intervenções com aplicação de produtos químicos específicos, a cada duas semanas, para a manutenção do jardim clonal e desenvolvimento dos porta-enxertos.
Na região II se destacam: o mal das folhas (novembro a março), a antracnose e o oídio (maio a agosto), necessitando também intervenções com aplicação de produtos químicos específicos, a cada duas semanas em cada período e doença considerada.
Estas doenças descritas acima, se não forem controladas, podem levar a perdas de até 50% das mudas, devido à mortalidade, pegamento do enxerto e redução no número de mudas expedidas, por falta de qualidade.
Sintomas característicos
Os principais sintomas a serem observados na floresta de pinus são:
Mal das folhas: os sintomas se apresentam sob a forma de pequenas manchas necróticas circulares, sob as quais surge a esporulação conidial, de aspecto aveludado, de cor verde escura a acinzentada na face inferior da folha, para a maioria dos clones.
Em condições de alta umidade, as lesões crescem, provocando o desfolhamento das plantas. Nos folíolos restantes, desenvolve-se a fase sexuada (espermagônio, ascas e ascósporos), cujos ascósporos consistem em formações de vários milímetros de diâmetro, tornando-se maciços e ásperos ao tato, como lixas (estromas). Tais sintomas prevalecem nos folíolos maduros até sua queda natural.
Requeima: as lesões iniciam-se nas brotações novas, com até duas semanas de idade, a partir da haste, base do pecíolo e lâminas foliares, onde podem ser observadas lesões aquosas, com exsudação de látex, que causam a desidratação da brotação.
Os sintomas evoluem para epinastia (crescimento irregular) dos folíolos, enrolamento e posterior necrose. Sob condições favoráveis, a requeima resulta em seca dos ponteiros e estende-se para as ramificações próximas e mesmo para o tronco, atingindo inicialmente a casca, resultando em exsudação de látex.
Este fica aderido à superfície externa dos órgãos, onde se oxida, formando uma densa película enegrecida sobre os mesmos. Devido à reação de cicatrização destes tecidos, inúmeros cancros são formados, fato denominado como cancro das hastes.
Mancha areolada: a infecção inicial ocorre nos folíolos, nos estádios B e C, que correspondem aproximadamente aos 10 – 15 dias de idade. No começo, nota-se aparecimento de gotas de látex na parte abaxial dos folíolos (face inferior).
Em seguida, o látex coagula e oxida, tornando-se escuro e de aspecto oleoso. Após uma semana, a zona da infecção inicial apresenta-se circundada por halo clorótico, com micélio esbranquiçado com aspecto de teia (sinais do patógeno).
O patógeno provoca, em folíolos maduros, grandes manchas cloróticas alternadas com manchas necróticas, na forma de aréolas, daí o nome da doença causada pelo patógeno.
Crosta-negra: observam-se, na face abaxial de folíolos maduros, placas circulares negras em círculos concêntricos, constituídas por estromas dos fungos. Na face adaxial do folíolo (face superior), nas partes correspondentes a cada crosta, a epiderme apresenta mancha circular clorótica.
Antracnose: em folíolos principalmente jovens (reenfolhamento), maduros e senescentes, ramos e pecíolos, os sintomas manifestam-se causando pequenas lesões arredondadas de coloração marrom-avermelhadas que podem coalescer, em condições propícias, deformando principalmente os folíolos.
Nas partes citadas, o fungo pode ocorrer em plantas de viveiro, jardins clonais e em plantios adultos. Nos pecíolos e ramos, o fungo provoca lesões escuras, necróticas e deprimidas.
Oídio: sinais do patógeno podem ser observados na forma de micélio branco superficial sobre ambas as faces dos folíolos, atingindo principalmente folíolos do terço médio inferior da planta. Quando apenas presente na face inferior, apresenta uma mancha clorótica na face oposta.
O “mal das folhas”
O mal das folhas é uma doença foliar, por isso esse nome, conhecida também como mal sul-americano das folhas e South American leaf blight, na literatura. Essa é a doença de maior gravidade na cultura da seringueira no Brasil, responsável por derrubada de áreas plantadas, substituição da seringueira por outras espécies de cultivo e mais rentáveis e pelo baixo interesse de plantio da espécie na região norte e nordeste do país.
Constitui o principal motivo da preocupação nos países do Oriente e da África, pois sua ocorrência nestes territórios livres da doença significaria um colapso econômico para estes países exportadores de borracha natural. No Estado de São Paulo, essa doença é problema no Vale do Ribeira.
Agentes causadores de doenças
Em São Paulo, pesquisas foram desenvolvidas a fim de avaliar o parasitismo de nematoides, sobretudo do gênero Meloidogyne, cuja espécie principal é Meloidogyne exígua, cujo sintoma é um pobre desenvolvimento radicular e segmentos necrosados são observados.
Este é, hoje o principal problema dos viveiros de seringueira, que necessitam apresentar, por lei, o atestado de sanidade para as mudas que são vendidas.
Manejo fitossanitário
Como foi descrito anteriormente, as doenças variam de acordo com a região climática e os clones utilizados. Primeiro se recomenda o diagnóstico correto da doença que está ocorrendo, e depois, seguir as recomendações e produtos que estão registrados para cada doença a aplicação na dosagem correta e método de aplicação adequado.
A Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu tem uma clínica de diagnóstico que pode auxiliar os produtores na diagnose.
Com a diagnose e o tratamento correto, a produção estará garantida e o viveiro pode chegar a mais de 90% de aproveitamento final das mudas enxertadas, garantindo um bom rendimento ao produtor.