Stephanie Hellen Barbosa Gomes – Engenheira florestal e mestranda em Engenharia Florestal – Universidade Federal do Paraná (UFPR) – stephaniehellen2011@gmail.com
Bruna Rafaella Ferreira da Silva – brunarafaellaf@hotmail.com
Yanka Beatriz Costa Lourenço – yankalourenco97@gmail.com
Engenheiras Florestais e mestrandas em Ciência e Tecnologia da Madeira – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
O dual forest é definido como sendo uma área com floresta plantada composta por duas espécies de alta rentabilidade. A técnica, que visa unificar dentro de uma mesma área duas espécies florestais, tem como objetivo cultivar uma espécie para fins energéticos, como por exemplo, o eucalipto, e outra espécie para a obtenção de madeira nobre, como o mogno africano, que é bastante utilizado para a produção de móveis.
A associação das duas espécies torna-se viável devido à obtenção de lucro a curto, médio e longo prazos para produtores rurais, empresários, investidores, profissionais liberais e técnicos, além de ser benéfico para outros segmentos da sociedade.
O retorno financeiro ao produtor pode acontecer a partir do 4° ano e, posteriormente, a cada quatro anos, por meio do plantio de eucalipto, uma espécie que apresenta curta rotação de colheita. E o rendimento dos maiores lucros é obtido pela madeira nobre de mogno africano, que precisa de 15 a 18 anos para chegar à idade de corte.
Dessa forma, o custo de produção se eleva em 20% do custo médio e ainda obtém-se uma produtividade sete vezes maior do que na produção convencional.
Os benefícios da técnica Dual Forest
Apesar do custo de implantação do plantio de eucalipto ser consideravelmente alto, o retorno financeiro, a partir da utilização da floresta mista, acontece em curto, médio e longo prazos, fazendo com que as dívidas criadas pelo produtor sejam quitadas ao longo do plantio e antes da colheita final da espécie nobre.
Além disso, existem estudos que indicam que em plantios consorciados, utilizando eucalipto e mogno africano, ocorreu menor ataque de pragas, o que aumenta o valor das toras produzidas.
Além disso, trabalhar com o cultivo de duas espécies florestais em consórcio, se planejada corretamente, traz garantias como uma maior diversidade biológica em uma mesma área, uma rotação maior na renda do produtor, melhor aproveitamento da área e dos seus recursos e uma melhor distribuição nas atividades da área devido à separação de culturas e práticas.
Os malefícios da técnica Dual Forest
Os maiores desafios em trabalhar com a Dual Forest é a necessidade de maior conhecimento sobre cada espécie implantada e, ainda, a interação das mesmas, devendo-se conhecer suas diferenças silviculturais.
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Além disso, há necessidade de uma avaliação mais completa da área, cuidados durante a mecanização e/ou necessidade de mão de obra e, ainda, organização na hora da comercialização do produto.
Como implantar a técnica
Independente das espécies utilizadas no plantio consorciado, as técnicas de cultivo e manejo se diferem para cada espécie, logo, são plantadas em locais distintos. O processo inicial para a realização do plantio consiste no tratamento do solo, que deve ser realizado seis meses a um ano antes do início do plantio. Consiste no revolvimento do solo e preparo físico, químico e biológico para fornecer as condições necessárias para o desenvolvimento da muda.
Posteriormente, deve-se realizar o controle sistemático ou localizado das formigas no local, que deve acontecer de um a dois meses anterior ao plantio.
No momento do coveamento, pensando em um dual plantio de mogno africano e eucaliptos, o espaçamento recomendado é de 5,0 x 4,0 m para mudas de mogno e 3,0 x 2,0 m para mudas de eucaliptos.
A adubação realizada no plantio também é diferente para cada área, visto que o mogno possui uma maior exigência nutricional que o eucalipto. Após o plantio ocorrem as adubações de correção por até quatro anos.
O combate à mato-competição e às formigas continua durante todo o plantio, sendo encaixado na parte de manutenção e limpeza do plantio, e com o passar dos anos, ocorre o desbaste de maneira adequada para cada espécie, para posterior colheita final e comercialização.
Na prática
Dentre os objetivos da silvicultura tem-se a procura de unir o sucesso econômico de áreas a partir de um manejo bem-sucedido. Essa união de culturas florestais garante ao produtor diversificar sua renda, além disso, permite uma maior confiabilidade e interesse entre quem investe na área.
Como mencionado ao longo do texto, um exemplo prático dessa técnica é o uso da espécie eucalipto e a espécie nobre mogno africano. Essa técnica foi bem desenvolvida e com bons resultados no Estado do Mato Grosso do Sul a partir de uma organização de apoio aos pequenos e médios produtores, junto com uma empresa florestal.
As informações obtidas por meio do estudo em campo do crescimento das espécies florestais, para fins de uso múltiplo, irão permitir compreender seu comportamento dendométrico, no qual enxerga-se a carência de informações sobre a prática.
Trabalhos mostram a possibilidade de consorciar o mogno africano e um sistema silvipastoril com clones de eucalipto, no qual avalia os resultados dendométricos, volumétricos e hipsométricos, que permitem indicar as espécies potenciais para um possível Dual Forest.
Dual Forest e agrossilvicultura
Além da implantação das duas espécies florestais, na entrelinha dessas culturas pode-se plantar culturas anuais. Existem resultados práticos de mogno consociado com soja, com café, milho, maracujá, açaí irrigado, palmeira real, manga (espécies frutíferas no geral), que apresentaram bons resultados preliminares, onde se obteve boa colheita da espécie de curta ou média rotação e não atrapalhou o crescimento e desenvolvimento da espécie nobre, que neste caso, a mais comumente plantada é o mogno africano.
Alguns produtores e donos de pequenas empresas confirmam que ainda é possível utilizar colheita mecanizada para ambas as espécies. Os produtores utilizam as espécies nobres como forma de poupança futura.
Já o eucalipto é mais diversificado, tem bons exemplos práticos de consórcio no Estado de Minas Gerais com o feijão, sorgo, milho, mandioca, além de espécies forrageiras, como o capim, e adubos verdes, como aveia e ervilha. O manejo dessa floresta tem que ser totalmente independente das culturas anuais, como o preparo de solo, calagem, adubação e colheita.
Saiba mais
Associar duas espécies florestais é uma alternativa viável. Apesar de elevar os custos de produção em curto e médio prazo, é possível o retorno do valor investido. A colheita final é praticamente destinada ao lucro do plantio. Essa mescla de espécies se torna mais viável devido ao produtor poder oferecer dois produtos e assim avaliar seu mercado, de forma cautelosa e lucrativa.
Antes de qualquer plantação é necessário um grande planejamento, devendo-se escolher as espécies adequadamente, principalmente caso exista a possibilidade de agregar culturais anuais ao plantio, e também como será realizado o preparo do solo, devendo ser de forma adequada às necessidades nutricionais de cada espécie previamente selecionada.
Por fim, colocar em prática seu sistema dual Forest e agrosilvicultura. Com a escolha correta, um manejo cuidadoso para cada espécie e o controle de pragas, o lucro no final da colheita é mais do que dobrado e o investimento é retirado em curto e médio prazos.