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Efeito das algas no enraizamento do trigo

Crédito: Shutterstock

Antônio Splassi Silva Pereira Mendes
Engenheiro agrônomo e mestrando – Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP)
antoniosplasstmendes@gmail.com

O trigo (Triticum aestivum) é uma espécie gramínea de clima temperado, que no Brasil se desenvolve bem durante o inverno, em especial nas regiões frias, sendo uma das culturas mais plantadas durante a segunda safra.

Na safra 2023, foram produzidas 9,5 toneladas no território nacional, com uma área plantada de 3,302 milhões de hectares, gerando uma produtividade média de 2.888 kg por hectare, segundo dados da CONAB.

Apesar de se desenvolver satisfatoriamente em solos com baixo aporte nutricional e com altos teores de alumínio, a garantia de boas condições de plantio visa a obtenção de altas produtividades e de um produto de qualidade.

Pensando nisso, o uso de agroquímicos alternativos que atuam na fisiologia vegetal de diferentes formas tem ganhado força.

Dentre eles, podemos destacar os extratos de algas, fabricados majoritariamente a partir da espécie Ascophyllum nodosum (L.).

São amplamente divulgados como enraizadores devido ao fato desses organismos possuírem compostos precursores de hormônios de crescimento vegetal em seus tecidos, o que estimula a divisão e o elongamento celular.

Composição

Os extratos de algas variam muito em termos de composição, pois além de poderem ter como matéria-prima uma ou mais algas diferentes, portadoras de diversas moléculas específicas ainda pouco estudadas, outros compostos podem vir a ser adicionados na mistura, como macro e micronutrientes, vitaminas, aminoácidos e substâncias húmicas que visam atuar em diferentes processos metabólicos da cultura.

Dentre os compostos provenientes das algas, destacam-se polifenóis e polissacarídeos complexos, combatentes dos radicais livres que prejudicam as células vegetais.

O que fazer

A fim de evitar a toxidez por excesso de algum desses componentes, é necessário seguir as recomendações de dosagem disponíveis na bula do produto.

Em geral, recomenda-se que seja preparada uma calda contendo 10 ml do produto por litro de água e que ela seja pulverizada preferencialmente no período da manhã, em dias de temperatura amena e sem ventos, aplicando 300 litros de calda por hectare aos 14 dias após a emergência.

A fertirrigação pode ser empregada em casos de lavoura irrigada, cortando custos operacionais.

Métodos de aplicação

O produto também pode ser disponibilizado por tratamento de sementes, para o qual as pesquisas que demonstraram melhores resultados recomendam uma dosagem de 3,0 ml por kg de semente.

Esse método é mais econômico, mas seu impacto em parâmetros vegetativos e produtivos é refutado por alguns artigos acadêmicos e confirmado por outros.

Podemos concluir que a resposta ao tratamento depende de diversas variáveis, como o método de disponibilização (tratamento de sementes, pulverização foliar ou no sulco de plantio), das dosagens aplicadas, da periodicidade das aplicações, da época de aplicação e dos fatores climáticos da região de cultivo.

Outros benefícios

Além da contribuição principal no enraizamento, os extratos de algas promovem uma série de outros benefícios para a cultura do trigo, atuando em diversos processos desempenhados pela planta, com ênfase especial no estabelecimento inicial, gerando acréscimo no percentual de germinação, sobrevivência de plântulas, acúmulo de massa verde e seca. Esse início ideal pode controlar indiretamente a precocidade da colheita.

A qualidade dos grãos também é melhorada pela aplicação foliar do extrato da alga Kappaphycus alvarezii, havendo acréscimo no conteúdo de carboidratos, proteínas, gorduras e nutrientes, como P, K, Ca, Fe e Zn, tornando o produto mais adequado à indústria de alimentos de maior valor agregado, como farinhas e rações premium.

Estresses abióticos

Os extratos de algas também agem na mitigação de estresses abióticos de diversas naturezas, como salinidade elevada do solo, falta de água, temperaturas elevadas, dentre outros.

Isso se deve ao seu papel na estimulação da atividade enzimática no sistema antioxidante e na síntese de compostos necessários para que a planta tolere condições adversas. Porém, apesar de seu uso evitar perdas ainda maiores, os tratos não são capazes de manter uma produtividade compatível à de plantas sob condições ideais de cultivo.

Fatores adversos, como a seca e o calor, naturalmente induzem a priorização de acúmulo de biomassa nas raízes em detrimento da parte aérea, alongando o sistema radicular para buscar fontes profundas de água.

Contudo, esse aprofundamento não se traduz em ramificação. Em tais casos, o uso do produto serve para que o desenvolvimento vegetativo não seja prejudicado e para estimular o surgimento de raízes secundárias e pelos radiculares, por meio da ação de hormônios vegetais sintetizados pelos compostos de algas, como a citocinina, giberelina e auxina.

Eles também impedem que compostos tóxicos formados durante o estresse danifiquem as células vegetais.

As temidas geadas

Durante as geadas, fenômeno climático que pode ser enfrentado pela cultura do trigo, dada a época de plantio, as folhas se mantêm verdes por mais tempo e apresentam clorose menos severa, há menor taxa de mortalidade e maior taxa de recuperação pós-congelamento.

O bioinsumo altera a expressão de genes relacionados à tolerância de baixas temperaturas.

Diversos outros benefícios associados à aplicação de extratos de algas foram relatados em culturas de interesse agronômico, como: aumento do teor de carboidratos nas sementes e folhas; aumento no teor de pigmentos relacionados à fotossíntese e à proteção contra radiação excessiva.

As betaínas e os terpenoides, compostos bioativos encontrados em extratos das algas Ascophyllum nodosum e Stoechospermum marginatum, respectivamente, possuem ação nematicida, podendo reduzir a infestação de Meloidogyne javanica e M. incognita no trigo em sucessão à soja.

O principal mecanismo pelo qual a população é controlada é a redução da fertilidade das fêmeas promovida por esses compostos.

Laboratório x campo

Grande parte dos trabalhos relacionados à promoção de enraizamento por parte dos extratos de alga na cultura do trigo foram conduzidos no ambiente extremamente controlado do laboratório e dizem respeito apenas aos estágios iniciais do desenvolvimento da cultura.

Devemos, portanto, questionar: será que esses efeitos se manifestam no campo também? A resposta é sim, e podemos dizer que de forma ainda mais expressiva. Muitas dos resultados relatados anteriormente nesse artigo foram obtidos em campo e cultivos comerciais já vêm empregando esses bioestimulantes de maneira economicamente viável.

Cultivares estudadas

Pesquisas com as cultivares IAC 364 e BRS Gramirim demonstraram que a aplicação do extrato da alga Ascophyllum nodosum incrementou o número de espigas, mas não teve influência na massa dos grãos.

Já a pulverização foliar de extrato da alga Kappaphycus alvarezii aumentou não só o número de espigas da cultivar GW 322, mas também a massa dos grãos.

As cultivares TBIO Itaipu e IPR Catuara respondem positivamente ao tratamento de sementes, apresentando maior comprimento da raiz inicial, maior taxa de germinação e plântulas mais bem desenvolvidas.

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