Rafael Simoni
Engenheiro agrônomo – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
rafaelsimoni@gmail.com
O El Niño é um fenômeno climático natural que ocorre quando as águas do Oceano Pacífico próximas ao Equador sofrem aumento anormal de temperatura. No Brasil, as temperaturas médias (incluindo máximas e mínimas) aumentam e também a distribuição das chuvas sofre alterações expressivas em boa parte do território.
Via de regra, na época de ocorrência do “El Niño” as chuvas aumentam sua intensidade na região sul e diminuem na região nordeste. A agricultura também sente os impactos desse evento climático, já que a atividade está intimamente ligada às condições (boas ou
más) impostas pelo clima.
Impactos na produção de alface
Os desafios impostos pela ocorrência deste fenômeno são maiores e mais intensos que algumas vantagens de ordem pontual.
Para os produtores de alface, os principais desafios estão ligados às questões de má distribuição das chuvas, aumento da temperatura, maior incidência de pragas e doenças, além da dificuldade de manter os padrões de qualidade do produto final.
A distribuição irregular das chuvas, quando estas diminuem, implica em aumento de custo com irrigação. Já em regiões onde ocorre aumento da precipitação, o acréscimo dos custos se dá em função do aumento da necessidade de aplicação de tossanitários, bem
como da maior necessidade de aplicação de fertilizantes, já que estes são levados pelo excesso de água no solo.
Vale destacar, ainda, que geralmente as chuvas ocorrem em eventos repentinos e intensos, o que pode causar injúrias físicas às plantas, comprometendo a qualidade, principalmente quando a produção é em campo aberto.
Consequências
O aumento de temperatura pode favorecer o surgimento de problemas de ordem fisiológica, já que a alface é uma cultura adaptada ao clima ameno.
Problemas como diminuição da taxa de crescimento, pendoamento precoce, queima de bordas e folhas mais fibrosas e de sabor amargo são comuns na maioria das cultivares submetidas a temperaturas elevadas.
A elevação da temperatura contribui diretamente para o aumento da incidência de pragas e doenças, representando um desafio adicional para os produtores. Com o clima mais quente, pragas conhecidas encontram condições favoráveis para proliferação, demandando um maior uso de defensivos, implicando em custos com mão de obra para pulverização e com aquisição de produtos.
Nas regiões onde as precipitações aumentam, ocorre uma maior lixiviação dos nutrientes, fazendo com que a adubação de nutrientes seja maior.
Variedades tolerantes
As variedades tolerantes às altas temperaturas desempenham um papel fundamental na mitigação dos efeitos do El Niño na produção, e é essencial que os produtores estejam sempre atentos aos testes e testes diferentes materiais para identificar aqueles mais adequados à época e região específicas.
A contínua pesquisa e desenvolvimento de novas variedades por empresas produtoras de sementes são cruciais para esse processo. Estas variedades são capazes de suportar temperaturas mais altas sem sofrer danos significativos, o que as torna mais adequadas para enfrentar os desafios do El Niño.
Geralmente são selecionadas por sua capacidade de manter um crescimento saudável e padrões que agradem ao consumidor, mesmo sob condições climáticas extremas. Além disso, ao cultivar variedades tolerantes às altas temperaturas os agricultores podem reduzir a dependência de práticas de manejo intensivas, como o uso excessivo de água, de controles fitossanitários e de manejo extra que a plantação exige em condições de extremo térmico, quando faz uso de variedades não adaptadas.
Características específicas
As principais características desejáveis são:
- Resistência ao estresse térmico por calor. A planta deve expressar seu máximo potencial de crescimento, mesmo sob condições extremas;
- Tolerância aos principais distúrbios fisiológicos, tais como murchamento, que diminui a absorção de nutrientes e, consequentemente, atrasa o ciclo de colheita; a queima de bordas, que embora comumente associada à deficiência de cálcio, pode ser também causada pelo excesso de calor, provocando necrose nas folhas e sua consequente inutilização para fins comerciais; e o pendoamento precoce, que ocorre pela aceleração demasiada dos processos metabólicos da planta;
- Maior resistência às principais doenças de verão, como oídio, murcha bacteriana e tombamento por Sclerotinia;
- Tolerância à seca, em que o fenômeno diminui as precipitações; tolerância ao aumento excessivo das chuvas.
- Tolerância e resistência mecânica em regiões sujeitas ao aumento excessivo das chuvas.
- Algumas características são específicas de cada região, como por exemplo, resistência a determinada doença, condição climática específica de uma micro-região ou até mesmo características exigidas pelo mercado consumidor local.
Estratégias
Vale destacar, ainda, que geralmente as chuvas ocorrem em eventos repentinos e intensos, o que pode causar injúrias físicas às plantas, comprometendo a qualidade, principalmente quando a produção é em campo aberto.
Consequências
Os produtores mais tecnificados utilizam, ainda, estratégias de manejo que maximizam o desempenho nos canteiros de cultivo, como o manejo da irrigação, realizando o molhamento em horários específicos do dia.
Embora existam casos de produtores que ligam a irrigação no horário mais quente do dia, o indicado é que seja feita pela manhã ou no fim da tarde.
Via de regra, na época de ocorrência de “El Niño” as chuvas aumentam sua intensidade na região Sul e diminuem na região Nordeste. A agricultura também sente os impactos desse evento climático, já que a atividade está intimamente ligada às condições (boas ou más) impostas pelo clima.
O parcelamento da adubação em intervalos e com doses menores aumenta o rendimento por porção de fertilizante utilizado, permite balancear a nutrição de acordo com o estágio de desenvolvimento da planta e gera um aumento na qualidade do produto final.
Porém, aumenta os custos com mão de obra para aplicação.
Outra estratégia de grande valia é o uso de mulching, a fim de melhorar a eficiência das irrigações, diminuir operações de capina e aplicação de herbicidas, além de otimizar a absorção dos nutrientes.
Ainda, muitos produtores utilizam de plantios em estufas ou telados. É uma técnica que permite controlar duas variantes climáticas de extremo efeito: as chuvas e a radiação solar.
Apesar de o custo de implantação ainda ser elevado, muitos produtores optam por essa técnica, pois os valores pagos pela alface em épocas quentes são significativamente maiores para produtos de boa qualidade.
Por fim, o uso da técnica da hidroponia tem se mostrado muito promissor nos últimos tempos. Ela permite ao agricultor ter um elevado grau de controle sobre as adversidades climáticas.
Além disso, as próprias produtoras de semente estão desenvolvendo variedades dessa folhosa voltadas para o sistema hidropônico.
Planejamento
Existem diversas estratégias que podem ser usadas de forma isolada, mas que têm um efeito proporcionalmente superior, quando usadas em conjunto, de maneira integrada.
Para uma boa safra, o ideal é fazer a análise e correção do solo de acordo com as recomendações técnicas específicas para a região. É sabido que um solo bem cuidado e manejado da maneira correta irá garantir um melhor ambiente para a planta, permitindo, assim, que ela cresça no menor tempo possível.
Quanto menor o tempo entre o transplante e a colheita, menores são os riscos de ataques de pragas e doenças, bem como diminui o tempo de exposição das plantas aos eventos climáticos indesejados.
Ainda na questão do solo, é importante avaliar o histórico de uso das parcelas de solo onde se pretende cultivar a safra de verão. Parcelas onde safras anteriores sofreram ataques de doenças, ou onde a produção foi relativamente menor, devem ser evitadas.
Outra estratégia é observar o calendário de zoneamento agroclimático da região. Atualmente, esses dados são prontamente disponibilizados nos sites das empresas de pesquisa agropecuárias de cada estado ou nos escritórios da secretaria de agricultura de cada município.
Dicas valiosas
Num cenário de constantes mudanças climáticas, é interessante diversificar o plantio com variedades que tenham algumas características diferentes, mas que não se distanciem da proposta de oferecer propriedades adaptadas às adversidades em questão.
Cada variedade pode apresentar uma resistência distinta.
Por fim, diante de um cenário de incerteza, é interessante ao produtor tentar, aos poucos, diversificar a produção e inserir outras variedades de folhosas, pois, infelizmente, existem regiões onde a produção realmente fica comprometida, mesmo com todo aparato tecnológico e de manejo que o produtor possa fazer uso, dada a intensidade dos efeitos que o “El Niño” provoca.
Oferta e demanda
Historicamente, durante o período de influência do El Niño, ocorrem perdas na maioria das áreas cultivadas, principalmente nas regiões sul e sudeste, devido, principalmente, ao aumento da ocorrência e intensidade das chuvas.
Com o aumento das temperaturas, aumenta também a procura por saladas e comidas frias, onde a alface é componente muito requisitado.
Essa pressão vinda dos dois lados da cadeia tende a fazer o preço da hortaliça subir em na maioria das regiões.
Do ponto de vista de infraestrutura, o produtor pode, dentro das possibilidades, investir em proteção do cultivo, como a construção de telados, estufas agrícolas, reservatórios de água para os períodos onde a chuva pode vir a faltar, entre outros.
A construção de câmaras frias também pode ser uma alternativa, pois esta permite, por exemplo, antecipar a colheita quando a meteorologia apontar a possibilidade de uma chuva intensa, ou mesmo granizo.
Há, também, as estratégias de mercado. Vários produtores têm obtido sucesso ao conseguir oferecer produtos de excelente qualidade, e com isso fidelizar o mercado por meio de uma marca que, mesmo vendendo mais caro que os concorrentes, consegue transmitir confiança e satisfação aos anseios do consumidor.
Como dito, é um processo que exige muita dedicação, emprego de técnicas agronômicas corretas, além da constante busca pelo conhecimento, para que o produto final tenha boa aceitação.
A diversificação de produtos também pode contribuir para a atividade agrícola se tornar viável. Em épocas onde o cultivo de determinada cultura é extremamente desafiador, a ampliação da cesta de produtos a ser oferecida pode vir a se tornar uma alternativa interessante.
Aliado a essas estratégias, existe também a possiblidade de o produtor se envolver em associações e cooperativas de
produtores. Assim, um produtor pode, por exemplo, atender à necessidade de outro em dado momento em que há sobras
na produção.
Geralmente, essas associações fortalecem a cadeia produtiva não só de uma, mas de várias espécies de hortaliças dentro
de uma determinada região.