Harleson Sidney Almeida Monteiro
Engenheiro agrônomo, pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Mestre e doutorando em agronomia/horticultura, na Universidade Estadual Paulista (UNESP)
harleson.sa.monteiro@unesp.br
Sinara de N. Santana Brito
sinara.santana@unesp.br
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Agronomia/Horticultura – UNESP
Antonia B. da Silva Bronze
Doutora em Ciências Agrárias, pró-reitora de extensão e docente de Fruticultura e Olericultura – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
antonia.silva@ufra.edu.br
A produção de plantas frutíferas é crucial, tanto do ponto de vista produtivo quanto econômico, evidenciada pelo seu expressivo valor socioeconômico e impacto significativo na economia nacional.
A variedade dessas plantas contribui de maneira significativa para a segurança alimentar, além de gerar empregos e renda no setor agrícola. Adicionalmente, o mercado de frutas desempenha um papel de relevância nas exportações, fortalecendo a balança comercial do país.
A implementação de práticas agrícolas sustentáveis é fundamental para garantir a produtividade a longo e médio prazos, promovendo a resiliência do setor frente aos desafios ambientais. A pesquisa contínua na área de produção de culturas frutíferas é essencial para inovações que impulsionem a eficiência e a qualidade.
Propagação de fruteiras
Uma das formas de propagar as espécies frutíferas é via assexuada, utilizando partes vegetativas de plantas já existentes, que apresentem características desejáveis quanto à botânica e sistemática da espécie, genética, adaptação, produção e produtividade desejada.
Esta é uma forma de propagação que garante a conservação das características da planta-mãe (matriz).
A propagação assexuada compreende o procedimento de multiplicação que se efetua por meio de mecanismos de divisão e diferenciação celular, por meio da regeneração de partes do tecido proveniente da planta-mãe, podendo ser conduzida por meio de diversas técnicas, como:
Objetivos
A utilização da propagação assexuada se dá quando o intuito é realizar a propagação de cultivares que não produzem sementes viáveis e para realizar a perpetuação clonal de copa e porta-enxerto.
A técnica de propagação e produção de plantas frutíferas mais utilizada comercialmente é a enxertia, que se destaca como uma técnica amplamente empregada na propagação e produção de plantas frutíferas adaptadas aos climas tropical, subtropical e temperado.
Nesse método, ocorre a combinação de diferentes partes de plantas da mesma espécie, estimulando a regeneração de tecidos de forma a criar um único indivíduo (Figura 1).
Figura 1. Ilustração de enxertia do tipo garfagem (A) e do tipo encostia (B) realizada em plantas frutíferas.
Ilustração: Harleson Monteiro, 2024
Para a fruticultura
A enxertia aplicada à fruticultura se tornou uma técnica bastante difundida nas mais diversas partes do mundo. É o principal método de obtenção de mudas para formação de pomares comerciais, podendo ser empregada em um elevado número de espécies, devido a possibilitar a combinação de características desejadas de diferentes variedades, promovendo a obtenção de plantas mais resistentes, produtivas e adaptadas às condições específicas de cultivo.
Ressalta-se que a enxertia deve ser empregada exclusivamente em plantas que apresentam características em comum, como ser da mesma família, possuir analogia no porte e folhas persistentes ou cadentes.
Além disso, a enxertia é uma ferramenta valiosa para a reprodução de variedades específicas, contribuindo para a diversidade genética e a preservação das características agronômicas desejadas, com o intuito de melhorar e acelerar o desenvolvimento de cultivares.
Opções
A enxertia pode ser realizada de três formas: borbulhia, garfagem e encostia. A enxertia do tipo borbulhia é comumente empregada em frutíferas como citros (Figura 2-A), gravioleira (Annona muricata) e cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum).
Já a enxertia do tipo garfagem tem sido amplamente utilizada em espécies frutíferas como mangueira (Mangifera indica), cupuaçuzeiro e cacaueiro (Theobroma cacao) (Figura 2-B). E também a enxertia do tipo encostia.
O que esperar da enxertia
A enxertia permite diversos benefícios, como os supracitados, que são notórios em plantas frutíferas. Sua aplicação tem sido largamente empregada em espécies, além das já citadas, como: videira (Vitis vinífera), taperebazeiro ou cajazeiro (Spondias mombin), abacateiro (Persea americana), goiabeira (Psidium guajava), aceroleira ou cerejeira-do-Pará (Malpighia emarginata), biribazeiro (Annona mucosa), cajueiro (Anacardium occidentale), castanheira-do-brasil (Bertholletia excelsa), frutíferas nativas e entre outras espécies.
A principal forma de se estabelecer um pomar comercial de citros e videira, na atualidade, tem sido por meio do emprego da enxertia, que ocorre na etapa da obtenção e produção de mudas, respectivamente, nas mais diversas regiões do Brasil.
É importante levar em consideração a melhor época do ano para realizar o processo, a fim de obter melhor pegamento do enxerto e plantas com qualidade.
Caminho sem volta
De acordo com a Embrapa, a enxertia em frutíferas comerciais tem sido a principal técnica para ter o pomar estabelecido e rentável a curto prazo, pois se alcança precocidade na produção (transferência de maturidade).
Observa-se, também, redução no porte da planta (facilita tratos culturais); viabiliza o cultivo de espécies ou variedades suscetíveis a problemas fitossanitários e /ou ambientais; assegura/expande características desejáveis segregadas por mutações naturais ou induzidas; preserva/multiplica variedades nobres (em qualidade e produtividade); evita segregações indesejáveis; renova pomares em declínio e permite a substituição de plantas pouco produtivas, assim como restaura plantas injuriadas.
A obtenção bem-sucedida na aplicação da enxertia está embasada na compatibilidade entre o enxerto e o porta-enxerto, na utilização de ferramentas nítidas e livres de contaminação (exigindo a higienização prévia das ferramentas a serem empregadas).
Cuidados
É essencial garantir a saúde, tanto do enxerto quanto do porta-enxerto, realizar a técnica na época apropriada, levando em consideração as particularidades de cada região onde o pomar será estabelecido e a cultura a ser utilizada. Um amarrio preciso é crucial para assegurar a qualidade na cicatrização da futura planta.
Além disso, é fundamental contar sempre com um enxertador habilitado e capacitado para realizar a técnica, assegurando expertise na execução do procedimento e maximizando as chances de êxito na produção de plantas saudáveis e produtivas.
A técnica de enxertia, ao ser aplicada corretamente, tem o potencial de aprimorar a qualidade das frutas, conferindo-lhes maior resistência e uma aparência visual superior, a partir da seleção de plantas que apresentam qualidade e aparência desejadas de frutos que atendam a padrões elevados de qualidade.
Contribui, assim, para a satisfação do produtor e atende às demandas do mercado consumidor, além de resultar em plantas com maior resistência a determinadas doenças e pragas e que sejam mais tolerantes ao calor e frio, assim como ao estresse hídrico.
Financeiramente falando
Do ponto de vista econômico, a enxertia desempenha um papel crucial na diminuição dos custos iniciais para estabelecer um pomar, tornando-o economicamente viável a partir do terceiro ano.
Esse benefício é especialmente evidente em plantas frutíferas perenes, que possuem um ciclo de produção mais tardio em comparação com pomares nos quais a técnica não é empregada.
Permite, também, a diversificação da produção a partir do cultivo de espécies em regiões onde comumente não haveria aptidão para o plantio, devido a fatores edafoclimáticos e fitossanitários, impactando positivamente na redução de custos com o estabelecimento e produção do pomar, trazendo retorno financeiro para o produtor.