A Ernest Milla Agrícola, uma empresa familiar que tem suas raízes fincadas na história da agricultura brasileira, é um exemplo de como a sustentabilidade pode ser integrada às práticas agrícolas de forma eficaz e duradoura.
Liderada pelos irmãos Egon Heinrich Milla e seus dois irmãos, Karl e Robert, a empresa recentemente passou por uma mudança significativa: seu nome foi alterado para homenagear o pai, Ernest Milla, fundador e um verdadeiro pioneiro no setor, que faleceu há 3 anos.
Os filhos expandiram as práticas de conservação do solo iniciadas por Ernest e incorporaram novas tecnologias. A rotação de culturas, especialmente, tornou-se fundamental na estratégia da família, com o milho sendo plantado a cada dois anos para enriquecer o solo.
O destaque veio com a vitória no Desafio Nacional de Máxima Produtividade da Soja na safra 2023/24, alcançando um rendimento histórico de 138,95 sacas por hectare na Fazenda Mariedda, em Candói (PR). “Atribuo esse sucesso aos anos de dedicação à agricultura de alta qualidade, focando na sustentabilidade e longevidade do agro”, explica Egon Milla.
A fazenda Mariedda conta com 5.681,72 hectares, dos quais 1.509,09 ha são destinados à cultura da soja, com produtividade média de 93,75 sc/ha. Durante a safra 2023/24, as precipitações observadas na área auditada totalizaram 933 mm, dos quais, 591 mm foram distribuídos durante o período vegetativo da soja e 342 mm durante a fase reprodutiva da cultura.
Onde tudo começou
Ernest, que imigrou da Europa ainda jovem, começou a trabalhar com agricultura no Brasil aos 12 anos, ao lado de seus irmãos. Desde os primeiros anos de sua trajetória, o manejo sustentável sempre foi uma prioridade. A topografia ondulada das áreas agrícolas apresentou desafios como a erosão e a baixa qualidade do solo, o que motivou Ernest a adotar práticas que valorizassem a proteção e melhoria do solo.
“Desde os anos 60 e 70, a preocupação com a colocação de palha no sistema pré-cultura se tornou uma prática fundamental para nós”, explica Egon. “Ao longo do tempo, diversas pré-culturas foram testadas, algumas se consolidaram e outras continuam em experimentação. Mas o princípio de proteger o solo, evitando a erosão e aportando matéria orgânica, sempre foi uma constante em nosso trabalho”, conta.
Base forte
Este manejo beneficia não apenas na proteção contra a erosão, mas também na manutenção da umidade do solo e na supressão de ervas daninhas. A palhada, especialmente quando densa e saudável, desempenha um papel crucial nesse sistema. “Consideramos isso bastante sustentável, pois otimiza o uso da água e otimiza as condições para um solo rico em microrganismos, o que é essencial para a produção agrícola a longo prazo”, destaca Egon.
Outro ponto importante é que o sistema radicular dessas coberturas, ao longo do tempo, melhora o perfil do solo, levando nutrientes para além da superfície, além de ajudar discretamente na descompactação.
“Em nossas fazendas do Paraná (são duas, na região de Guarapuava), além da preocupação com uma boa pré-cultura, praticamos uma rotação não muito comum: há uns 12 anos, plantamos milho em 50% das propriedades. Essa prática melhora a saúde e o perfil do solo, a sanidade da soja e entrega uma boa quantidade de palhada. Essa rotação não apenas melhora a eficiência técnica, mas também aumenta a sustentabilidade da nossa agricultura”, afirma Egon.
A presença de palha no solo tem outro benefício importante: a supressão de plantas daninhas resistentes a herbicidas, um problema crescente na agricultura moderna. “A palha ajuda a suprimir o crescimento dessas plantas, que permanecem em estágios iniciais até o momento da aplicação dos herbicidas”, explica Egon.
Um passo à frente
Atualmente, fala-se muito em práticas agrícolas sustentáveis, com baixo impacto ambiental e redução de emissões de carbono. Egon destaca que, há décadas, a maioria dos agricultores, especialmente na região em que ele atua, já adota métodos sustentáveis. “A preocupação com a conservação do solo levou a práticas sustentáveis, e boa parte dos agricultores brasileiros têm essa consciência, e já a têm há muitos anos. Se hoje procura-se premiar boas práticas fazendo cálculos de créditos de carbono, esses agricultores que já fazem seu dever de casa há décadas, pouco poderão acrescentar no seu manejo, pois já se faz muito. Isso deve ser um ponto de atenção nas formas que se pretende premiar ou punir propriedades, pois a referência pode estar distorcida!”
Ele acrescenta que a conservação do solo é sua preocupação fundamental. “Sabemos que a agricultura sustentável não é apenas uma moda, mas uma necessidade e uma responsabilidade que devemos assumir para zelar do nosso bem mais precioso, que é o nosso solo”, ressalta Egon. “Os bons resultados de produtividade são consequência.”
Com propriedades no Paraná, Piauí e Maranhão, a Ernest Milla Agrícola continua a liderar pelo exemplo, mostrando que a tradição e a inovação podem andar de mãos dadas na busca por uma agricultura mais sustentável e responsável.