Miguel Michereff Filho
Leonardo Boiteux
A partir do final da década de 1990 foram observadas elevadas populações da mosca-branca Bemisia tabaci biótipo B em plantações de tomate e outras hortaliças no Brasil. A presença de grandes populações desse inseto estava sempre associada com a ocorrência de amadurecimento irregular e “isoporização“ dos frutos do tomateiro, com o sintoma do prateamento das folhas das abóboras e de outras cucurbitáceas.
O biótipo B da mosca-branca coloniza um número maior de espécies de plantas, causa maiores danos no tomateiro e é um vetor mais eficiente das geminiviroses.
Estratégias de controle da mosca-branca
O controle da mosca-branca depende de uma série de fatores que, fundamentalmente, exigem a atenção dos produtores rurais. Para a obtenção de bons resultados no manejo da praga, é preciso aliar métodos de controle cultural, mecânico e químico.
Um exemplo é a utilização de ferramentas de monitoramento populacional da praga, tais como armadilhas adesivas, que atraem as moscas-brancas adultas pela cor. As armadilhas adesivas amarelas prestam um grande serviço ao monitoramento desse inseto.
Podem ser usadas cartolinas, lonas, plásticos ou etiquetas, de coloração amarela, untadas com óleo ou cola entomológica. Atualmente, essas armadilhas são comercializadas por diferentes empresas. O produtor deve colocar as armadilhas entre as fileiras de plantio, nas bordaduras da lavoura e na mesma altura das plantas de tomateiro.
Com isso, será possível monitorar a praga, detectar o momento de entrada dela na área e identificar os focos de infestação inicial.
Viveiros e isolamento físico eficiente
O isolamento físico tem sido preconizado como uma das principais medidas preventivas para minimizar a infestação de mosca-branca e a consequente exposição das plantas às geminiviroses.
O isolamento físico refere-se à produção de mudas em viveiros com pedilúvio (caixa com cal virgem), antecâmaras e cobertura com telas (com malha máxima de 0,239 mm).
Os viveiros devem ser preferencialmente instalados longe dos plantios comerciais de tomate. Nos viveiros, devem-se utilizar apenas os inseticidas registrados para a cultura. O inseticida deve ser aplicado nas mudas, antes do transplante.
A infecção precoce das mudas com geminivírus é o objetivo a ser alcançado. Quanto mais cedo ocorrer a infecção das plantas com as geminiviroses, mais danos serão observados, com a consequente redução da produção. Estudos indicam que infecção precoce do vírus em mudas de tomateiro reduz em 60-70% a produtividade de cultivares suscetíveis.
Deste modo, as mudas devem, sempre que possível, ser protegidas ainda na sementeira e nos primeiros 40 dias após o transplante. Mudas que foram levadas a campo e que não forem utilizadas não devem, de forma alguma, retornar aos viveiros.
Práticas recomendadas durante o cultivo
Evitar, em uma mesma área, o escalonamento de plantio. Quando não for possível o plantio em uma só etapa, recomenda-se fazer o segundo plantio com menos de 60 dias.
É importante a manutenção da lavoura no limpo, eliminando as plantas daninhas potenciais hospedeiras de viroses antes do plantio e nos primeiros dias do estabelecimento da lavoura. Espécies de geminivírus similares às encontradas no tomateiro têm sido detectadas em diversas plantas daninhas.
Outra medida preventiva é o uso de barreiras vivas, que visam impedir ou retardar a entrada de adultos de mosca-branca na lavoura. As barreiras devem ser perpendiculares à direção predominante do vento e rodear a lavoura. Podem ser utilizadas plantas como capim elefante “Napier“, milheto, girassol mexicano e cana-de-açúcar.
Por ocasião do transplante do tomateiro, as plantas usadas como barreiras devem estar com, no mÃnimo, 1,0 m de altura.
Eliminação de restos culturais e o vazio sanitário
Outra estratégia importante de ser adotada é a completa eliminação de restos culturais. Uma Instrução Normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ” Nº. 24, de 15/04/03, tornou obrigatória a eliminação de restos culturais (restos de colheita e frutos podres) até 10 dias após a colheita de cada talhão.
Entende-se por talhão a área de tomateiro plantada contÃgua e colhida ao mesmo tempo. As lavouras abandonadas ou com ciclo interrompido deverão ser destruÃdas imediatamente, pois são as principais fontes de infestação para as novas lavouras.
Inicialmente, deve ser estabelecido um calendário de plantio anual, definindo um período mÃnimo entre 60 a 120 dias consecutivos livres de cultivo de tomate, conforme as peculiaridades de cada microrregião (Instrução Normativa do MAPA Nº. 24, de 15/04/03).
Controle químico
Os cultivos devem ser vistoriados pelo menos uma vez por semana, visando adotar, em momento oportuno, as medidas de controle e, com isso, reduzir a expansão das geminiviroses no cultivo, principalmente na fase mais crÃtica da cultura (entre 30 a 45 dias após o transplante).
Nesse período, um ataque severo de geminiviroses pode inviabilizar toda a plantação. O monitoramento da mosca-branca é feito com o auxÃlio das armadilhas descritas acima. Após o surgimento dos primeiros adultos dessa praga, o produtor também deve inspecionar periodicamente a face inferior das folhas na busca de ovos e ninfas da mosca-branca.
Existem inseticidas eficazes contra a praga e pouco nocivos à saúde humana e ao meio ambiente, entretanto, estes benefícios são alcançados somente se os produtos forem utilizados de forma correta e no momento ideal. Utilizar apenas produtos registrados para a cultura do tomateiro, e, sempre que possível, de baixa toxicidade (classes III ” faixa azul e IV ” faixa verde).
Produtos para diferentes fases do ciclo da mosca-branca
Para infestações iniciais, quando apenas insetos adultos forem encontrados na plantação, é recomendado o uso de inseticidas que interfiram na alimentação (ex. Piridina azometina) ou que matem eficazmente os adultos (ex. neonicotinoides, piretroides e fosforados).
Quando também forem encontrados ovos e ninfas de B. tabaci nas folhas do tomateiro, além do inseticida adulticida, devem ser pulverizados produtos que atuem sobre essas fases da vida do inseto (ex. inibidores da síntese de quitina, juvenoides, etc.).
Como alternativas aos inseticidas químicos sintéticos, são utilizados óleos (origem vegetal e mineral) e detergentes neutros em baixa concentração na calda de pulverização (máximo de 0,5% do volume). Esses produtos interferem no metabolismo e na respiração do inseto, além de provocar mudanças na estrutura química da folha e ter efeito repelente.
Os efeitos diretos sobre a mosca-branca são a redução na oviposição e transtornos no desenvolvimento larval, especialmente no primeiro estádio, em que as ninfas não se alimentam na superfície tratada com óleo e morrem desidratadas.
Resistência a inseticidas
A mosca-branca tem a capacidade de desenvolver rapidamente resistência aos diversos princípios ativos presentes nos inseticidas. Dessa forma, a adoção de um rodÃzio de produtos de diferentes grupos químicos e modos de ação é uma estratégia recomendada.
Por isso, recomenda-se utilizar um mesmo produto (princÃpio ativo) por no máximo três semanas seguidas. Nas semanas seguintes (4ª, 5ª e 6ª semana) utilizar outro produto (de outro grupo químico), procedendo desta maneira até a colheita.
É importante reforçar ao produtor que não tenha apenas o controle químico como única forma de combate da mosca-branca e das geminiviroses. O uso de inseticidas deve, sempre que possível, estar associado a métodos de controle cultural (já mencionados anteriormente) e de resistência genética.
Tecnologia de aplicação dos inseticidas
Outras medidas também devem ser rigorosamente adotadas para que se alcance a eficiência de controle desejada com os inseticidas. Por exemplo, direcionar o jato de pulverização de baixo para cima. A mosca-branca coloniza a face inferior das folhas.
 Como a maioria dos produtos químicos (inclusive detergentes e óleos) atua por contato com a mosca-branca, é importante que a calda cubra de maneira homogênea a parte inferior da folhagem. Realizar as pulverizações entre 6 h e 10 h ou a partir das 16 h para evitar a rápida evaporação da água e a degradação dos produtos pela radiação solar.
Usar a dosagem indicada pelo fabricante (ler com atenção o rótulo do produto) e a quantidade de água adequada, em geral 400-600 l/ha, com pH 5,0. Não utilizar subdosagens.
Sempre utilizar espalhante adesivo. Evitar a aplicação de mistura de pesticidas (mistura de diferentes inseticidas ou inseticidas + fungicidas). Manter os equipamentos em boas condições de trabalho (pressão de aspersão recomendada, bicos adequados e bem regulados), para proporcionar a aplicação do produto na dosagem correta.
Utilizar bicos de pulverização adequados para distribuição uniforme de gotas finas (menos de 0,05 mm de diâmetro). Quando possível, empregar um atomizador ou nebulizador para diminuir o tamanho das gotas e garantir a melhor penetração das mesmas na folhagem do tomateiro.