Carlos Antônio dos Santos
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia ” Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Margarida Goréte Ferreira do Carmo
Engenheira agrônoma, doutora em Fitopatologia e professora – UFRRJ
Caio Soares Diniz
Estudante de Agronomia – UFRRJ
A produção de grãos orgânicos, tais como o feijão, visa alcançar um novo nicho de mercado e atender a demanda de consumidores conscientes que valorizam o uso de boas práticas de produção e sistemas de produção sustentáveis,de baixo impacto ao meio ambiente.
Segundo informações divulgadas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a produção orgânica nacional vem crescendo mais de 20% ao ano.
Além dos tradicionais feijões do tipo Carioca ou Preto, cultivados sob manejo orgânico, outra possibilidade em ascensão tem sido a produção e comercialização de feijões especiais, que são portadores de tegumento com cores diferenciadas como branco, amarelo, vermelho, creme e com grãos de maior tamanho e/ou formato distintos.
A produção desses produtos diferenciados, atrelado ao cultivo sob manejo orgânico, pode conquistar maior valor agregado e com grande potencialidade para a exportação. Além disso, outro mercado importante de feijão orgânico é o próprio governo via programas como a aquisição de alimentos da agricultura familiar (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), os quais pagam até 30% a mais por alimentos produzidos em sistema orgânico.
Produtividade
Assim como para os demais cultivos orgânicos, nos sistemas de produção do feijão orgânico o uso de cultivares adaptadas, aliado a um manejo adequado, é a chave para o sucesso. Nesse contexto, devem ser consideradas cultivares com grãos de boa aceitação comercial, boa adaptabilidade, rusticidade e portadoras de resistência ou tolerância às principais doenças que ocorrem na região de cultivo.
Diante disso, nos últimos anos diversos estudos têm sido realizados com o objetivo de avaliar cultivares em sistemas orgânicos. Um exemplo são os estudos realizados na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz“- USP/ESALQ, por Araújo (2008), com cultivares do grupo Preto e Carioca, que obtiveram resultados muito bons e uma produtividade média de 3.655,42 kg/ha.
Este resultado, quando comparado com o parâmetro de uma boa produção em um sistema convencional (2.500 a 3.500 kg/ha) é muito positivo, mostrando que a produtividade do feijão no sistema orgânico pode ser igual ou superior à obtida em sistema convencional.
Em outro estudo, que foi desenvolvido em Dourados (MS) por Padovan et al. (2007), foram avaliadas 12 cultivares de feijão. As plantas foram adubadas com uma mistura de composto orgânico, termofosfato magnesiano e cinza de lenha, tendo complementação com biofertilizantes. Os rendimentos obtidos chegaram a alcançar 2.651 kg/ha.
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Exigências do feijoeiro orgânico
No Brasil, a produção de grãos orgânicos é regulamentada pela Lei Federal nº 10.831 de 23 de dezembro de 2003, que dispõe sobre a agricultura orgânica, e por Instruções Normativas (IN) como a IN 46/2011 e IN 17/2014, do Ministério da Agricultura.
Com isso, a título de exemplo, são proibidos nesse sistema a utilização de fertilizantes sintéticos, de agrotóxicos e sementes transgênicas. No entanto, existem alternativas que podem ser utilizadas, aliadas a práticas preventivas, que viabilizam o correto manejo da fertilidade do solo e de pragas e doenças nos sistemas orgânicos.
O produtor que deseja ingressar nesse segmento deve estar ciente que a legislação brasileira também estabelece um período de transição das áreas de cultivo convencional para o cultivo orgânico, que no caso do feijão e demais culturas anuais é de 12 meses.
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Cuidados
Além da escolha de cultivares adaptadas e resistentes a doenças, é importante destacar que o feijoeiro é uma planta exigente em nutrientes, devido ao seu sistema radicular pouco profundo. Os nutrientes mais requeridos pela cultura são o nitrogênio, potássio, cálcio, magnésio, enxofre e fósforo.
É de extrema importância que sejamrealizadas práticas que levam à diversificação do sistema, como o cultivo intercalado de diferentes cultivares, adubação verde, rotação com outras culturas, especialmente gramÃneas como a aveia, milho e braquiária, por exemplo; consórcios; práticas que estimulem inimigos naturais, e a escolha adequada da época de semeadura e adubação equilibrada, isso porque plantas bem nutridas são mais tolerantes a pragas e doenças.
O manejo fitossanitário na produção de feijão orgânico deve ser visto de forma sistêmica e considerando as diferentes interações entre as plantas e o ambiente, além do próprio patógeno.
Deve-se, ainda, atentar para o espaçamento, evitando plantios adensados, usar água de qualidade e isenta de contaminação e o manejo correto da irrigação, evitando excessos, períodos prolongados de molhamento foliar e escoamentos superficiais de água.
O uso de biofungicidas, agentes de controle biológico de fungos, também pode ser feito. Hoje os produtos mais conhecidos são à base do fungo antagonista Trichoderma spp., preconizado para o controle de uma série de patógenos de solo como Pythium spp., Rhizoctoniasolani e Fusarium spp., por exemplo, e com resultados positivos.
A produção da cultura pode aumentar ao longo dos anos em função da melhoria nas condições de solo, por meio do fornecimento de adubos orgânicos, utilização de práticas conservacionistas e melhoria nos processos biológicos do sistema.
Ainda, tem-se observado o lançamento e validação de cultivares adaptadas e com potencial para o sistema orgânico, o que pode agregar na obtenção de bons rendimentos.
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