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Ferrugem asiática: Diagnóstico e manejo equivocado são os vilões

Autores

Jéssica Caroline Coppo
Doutoranda em Agronomia – Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Jussara Carla Frontti
Alfredo Alves Neto
Doutorandos em Agronomia – Unioeste
Mariele Zucchi
Engenheira agrônoma – PUC
Leandro Rampim
Doutor em Agronomia e professor – Unicentro
rampimleandro@hotmail.com

Crédito: Ana Maria Diniz

A ferrugem na soja pode ser denominada como ferrugem americana (P. meibomiae), ou ainda ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), duas espécies de fungo do gênero Phakopsora que causam a doença. Esta última é extremamente agressiva e pode chegar a ocasionar perdas de até 80% na produtividade, dependendo do estádio da cultura, da infestação e do grau de severidade do fungo.

 Dentre as medidas de controle da doença, o uso de fungicida é a mais utilizada, mas ainda há entrave que impede o maior controle da doença. Ao contrário de muitas doenças de humanos e animais, o dano causado em plantas não é eliminado, mesmo que o patógeno seja eliminado.

Atenção!

Em dezembro de 2016, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) suspendeu a recomendação de uso no Brasil de 63 fungicidas utilizados no controle da ferrugem asiática na cultura da soja, por não ter mais eficiência para controle da doença. Porém, algumas embalagens ainda não tiveram seus rótulos alterados e continuam com informação de que o fungicida é recomendado para o controle da doença, o que muitas vezes induz o produtor aplicar o produto, mas sem eficiência, necessitando de um número excessivo de aplicações.

Classificação

Os fungicidas podem ser classificados quanto à sua função na proteção (preventivos ou curativos), natureza química (inorgânico ou orgânico), ao modo e quanto ao espectro de ação: sítio-específico ou múltissítio. Fungicidas sítio-específicos contêm ativos contra um único ponto da via metabólica de um patógeno ou contra uma única enzima ou proteína necessária para o fungo.

O contrário acontece com os fungicidas multissítios, que agem em mais de um sitio bioquímico na célula do fungo e interagem com um número maior de genes, diminuindo a chance de surgimento de resistência.

A maioria dos fungicidas desenvolvidos atualmente tem o modo de ação sítio-específicos, porque estão associados ao baixo potencial de impacto negativo ao meio ambiente. Coincidentemente, este grupo de fungicida tem alto risco para o desenvolvimento de resistência em relação aos fungicidas de multissítios, pois com pequenas alterações no gene o patógeno pode se tornar resistente.

Associado a esse fato e à veracidade da doença, uma vez no campo a ferrugem é um entrave para que a cultura possa expressar seu máximo potencial produtivo.

Condições para a ferrugem

As plantas de soja estão mais propensas quando se encontram no estádio reprodutivo da cultura, ou seja, a partir e durante o estádio R1. Nesta fase da cultura, o índice de área foliar é maior, permitindo que o hospedeiro fique protegido no baixeiro da planta, além do fato de as folhas permanecerem úmidas por mais tempo.

Assim, um fato que dificulta o controle da doença na fase inicial são os sintomas iniciais aparecem nas folhas mais baixas do dossel. As pústulas, que são as urédias, são formadas nas lesões, principalmente na face inferior das folhas, e podem produzir grande massa de uredósporos. 

Epidemias podem rapidamente se desenvolver a partir de poucas pústulas, pois a produção de esporos ocorre em apenas sete a 10 dias após a infecção e cada pústula pode produzir centenas de uredósporos.

Experimentos

Nesse sentido, desenvolveu-se o presente experimento com o objetivo de quantificar os danos causados por efeito do atraso no controle da doença e a eficiência de fungicida multissítios formados por uma pré-mistura de ação preventiva e curativa no controle da doença.

O experimento foi instalado no município de Toledo (PR). Utilizou-se a cultivar BMX Potência RR e o controle químico da doença foi feito por fungicida sistêmico Azoxystrobin + ciproconazole.

Foram realizados oito tratamentos com quatro repetições, totalizando 32 unidades experimentais. Os tratamentos foram aplicados de maneira que o controle fosse efetuado com atrasos crescentes. O menor atraso no controle foi com o primeiro tratamento (tratamento preventivo), que no momento em que o primeiro propágulo do fungo se depositou sobre as folhas, estas já se encontravam protegidas, (tratamento com 0% de incidência da doença), que corresponde a 0 dias de atraso no controle.

O próximo tratamento foi aplicado um dia após a detecção das primeiras lesões, correspondente a um dia de atraso no controle, assim sucessivamente até 35 dias no atraso do controle, conforme Tabela 1. Após a primeira aplicação de fungicida nos devidos tratamentos, novas aplicações foram realizadas com intervalos entre 15 e 20 dias, até as plantas apresentarem 70% de desfolha. A dose utilizada foi de 300 mL do produto comercial ha-1 aplicada com pulverizador costal manual com bico cônico.

Tabela 1. Descrição dos tratamentos visando o controle da ferrugem asiática da soja com fungicida após sua detecção

Tratamentos Descrição
T1 Aplicação preventiva (0 dia de atraso)
T2 Aplicação 1 dia após a detecção da doença
T3 Aplicação 7 dias após a detecção da doença
T4 Aplicação 14 dias após a detecção da doença
T5 Aplicação 21 dias após a detecção da doença
T6 Aplicação 28 dias após a detecção da doença
T7 Aplicação 35 dias após a detecção da doença
T8 Testemunha (Sem tratamento químico)

Para a quantificação da incidência e severidade foram selecionadas 15 plantas ao acaso, as quais foram marcadas e avaliadas semanalmente para verificar o número de plantas com presença da doença, valores estes convertidos em percentual (incidência) e o grau de infestação (severidade).

A severidade nos folíolos centrais foi avaliada adotando-se a escala diagramática para avaliação da ferrugem da soja (Figura 1) proposta por Godoy, Koga e Canteri (2006).

No presente experimento houve redução na produtividade entre o tratamento preventivo e a testemunha, que foi de 1.767,17 kg ha-1, ou seja, 44,82% (Figura 2). O fungo promove redução na atividade fotossintética, pois destrói tecido foliar seguido de desfolha precoce da planta de soja, e assim causa danos no rendimento por afetar o enchimento de grão.

Por meio do índice de severidade (Figura 3 A), foi possível quantificar o percentual da área foliar que apresenta sintomas da infecção. A perspectiva para o tratamento preventivo era de que permanecesse totalmente livre da doença, mas isto não foi observado.

Ainda que de forma reduzida, houve incidência e severidade da ferrugem (Figuras 3 A e B), provavelmente por conta do alto índice de pluviosidade durante o desenvolvimento da cultura (1.020,64 mm).

A aplicação de forma preventiva não apresentou efeito erradicante, no entanto, o fungicida reduziu a severidade da doença e a viabilidade dos uredósporos. Esse resultado também se deve ao fato de que a resposta da cultura a aplicação de fungicida pode variar devido à capacidade fisiológica de resposta ao controle químico de cada cultivar.

Resultados

Nas condições do presente experimento, atrasar o controle da doença em um dia não causou danos significativo a cultura, porém, iniciar o controle após o sétimo dia de detecção dos sintomas pode tornar o custo com o controle inviável. Após 35 dias de atraso, a redução na produtividade foi de 65% com um índice de severidade de 4,56%.

Em relação ao índice de incidência (Figura 3 B), o qual demostra em percentual a quantidade de plantas que são infestadas pela doença, o tratamento preventivo se mostrou superior, apresentando menor índice de incidência (13%).

Ao atrasar a aplicação de fungicida em sete dias após o aparecimento dos sintomas a incidência da doença aumentou 12,75% em relação à aplicação do fungicida de forma preventiva (T1). Isso ocorre porque quando esporos se depositam na superfície do hospedeiro suscetível e as condições forem ideais para o seu desenvolvimento, altas temperaturas e período de molhamento de até 12 horas, ocorrerá a infecção. Lesões e pústulas com uredósporos aparecerão em aproximadamente sete dias.

Além disso, a quantidade de chuva registrada explica a alta incidência e severidade, uma vez que as gotas de chuva exercem o papel de liberar os esporos, seja por efeito do “splash” ou pelo efeito do impacto que causam nas folhas. Nesse sentido, o desafio do produtor de soja no manejo da ferrugem é a identificação das áreas infectadas com baixo índice de severidade.

Apesar do fungicida utilizado ser pré-mistura de triazol com estrobilurina, quando aplicado o fungicida sete dias após a detecção da doença, 40% das plantas apresentavam sintomas (Figura 3 B).

Fungicidas do grupo estrobilurinas são derivados de um composto natural antifúngico, produzido por certos cogumelos, que inibem a respiração mitocondrial do patógeno e é absorvido pela cutícula, agindo como fungicida protetor. Mas, este grupo de fungicida protetor tem reduzido efeito no desenvolvimento da doença, uma vez que a infecção já tenha ocorrido.

Já fungicidas do grupo dos triazóis são absorvidos e translocados na planta e possuem função de controlar fungo na planta e prevenir formação de pústulas e esporos.

 Diante do exposto, é possível concluir que o aumento no índice de incidência e severidade da doença é diretamente proporcional ao aumento no atraso da aplicação de fungicidas. Mesmo utilizando um fungicida de função curativa, se a doença for detectada com mais de sete dias de atraso o fungicida não será capaz de impedir excessivos danos causados pela ferrugem, e ocorrerá perdas na produtividade.

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