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Fósforo: conheça seu ciclo no sistema solo-planta

Crédito: Daniel Vieira

Marina Scalioni Vilela
Doutora em Fitotecnia (UFLA), pesquisadora e professora visitante – Ifsuldeminas/Embrapii Agroindústria do Café
marina.vilela@ifsuldeminas.edu.br
Gabriela Ribeiro Gontijo
Doutoranda em Agronomia/Fitotecnia (UFLA)
gabriela.gontijo2@estudante.ufla.br
Alisson André Vicente Campos
Doutor em Fitotecnia (UFLA), coordenador de pesquisa e consultor em cafeicultura – Fronterra
alissonvcampos@yahoo.com.br

O fósforo (P) é considerado um elemento essencial às plantas devido às suas funções vitais no desenvolvimento das mesmas, independente das condições às quais estão submetidas. Devido à quantidade extraída pelas plantas comerciais durante seu ciclo, ele é caracterizado como um dos três macronutrientes primários, ao lado do nitrogênio e potássio.

Levando em consideração sua baixa eficiência e alta relevância, é fundamental que se conheça os manejos adequados para maior aproveitamento das fontes fosfatadas voltadas à agricultura.

Importância do fósforo para o desenvolvimento do cafeeiro

O fósforo (P) participa de processos importantes no metabolismo da planta, como a fotossíntese e a respiração, devido ao seu papel fundamental na transferência de energia na forma de ATP (adenosina trifosfato).

Além disso, participa da síntese de ácidos nucleicos, glicose, síntese e estabilidade de membrana, ativação enzimática e metabolismo de carboidratos. A deficiência de P pode reduzir o crescimento da parte aérea e, quando prolongada, também pode prejudicar o desenvolvimento radicular.

Ao se tratar da implantação da lavoura, falhas no manejo nutricional com P já no início da cultura poderão comprometer não só o crescimento inicial, mas também as futuras safras.

No caso da cultura perene, como o cafeeiro, as deficiências no longo prazo resultam em redução de produção e sanidade do cafeeiro, visto que o equilíbrio nutricional é necessário para o estabelecimento do cafeeiro sadio e produtivo.

Mobilidade vegetal

Apesar de ser pouco móvel no solo, este nutriente possui alta mobilidade na planta, com sintomas de deficiência em folhas velhas, que ficam arroxeadas devido ao acúmulo de um pigmento denominado antocianina.

O aparecimento de deficiências é o estádio mais avançado das falhas na adubação, podendo ser mais difícil contornar danos mais críticos na cultura. Além disso, plantas C3, como é o caso do cafeeiro, têm crescimento mais sensível à falta de P.

Por isso, é necessário se atentar para o manejo e fornecimento equilibrado do P para evitar prejuízos na cultura.

Disponibilidade de fósforo no solo

O P é requerido em quantidades inferiores ao K e N pelas plantas, porém, é fornecido em maiores quantidades via adubação, com uma eficiência de uso inferior a 20%.

O P é o nutriente disponível em menor quantidade na rizosfera, pois a maior parte deste nutriente se encontra indisponível às plantas devido à adsorção do fosfato nos óxidos de ferro (Fe) e alumínio (Al), predominantes em nossos solos tropicais com alto grau de intemperismo.

Essa adsorção se torna um fator limitante para que a planta seja eficiente no uso do P fornecido via adubação. A acidez natural desses solos também prejudica a disponibilização do P devido ao predomínio de cargas positivas, as quais contribuem para a fixação do P no solo.

Outro fator que pode ocorrer em cafezais é o excesso de calcário em camadas superficiais (até 5,0 cm de profundidade) devido à não incorporação deste insumo. Isso também pode limitar a disponibilidade do P devido a interações com o Ca, que resultam na precipitação e indisponibilidade do fosfato.

Manejo visando o café

O solo pode ser manejado para aumentar a disponibilidade de P por meio da redução de sua fixação nos óxidos de Fe e Al. A calagem para a correção do pH é um fator importante para melhorar a disponibilidade do nutriente.

Além disso, como parte da construção da fertilidade do solo, o manejo da matéria orgânica (MOS) se destaca como uma das principais formas de elevar a CTC e disponibilizar P para as plantas em solos tropicais.

Os radicais carboxílicos e fenólicos presentes na MOS ocupam os sítios de adsorção de P nos solos, fazendo com que o nutriente fique prontamente disponível para as plantas. Portanto, o uso de plantas de cobertura, como a braquiária na entrelinha do café, além de contribuir com o aumento de MOS, também pode melhorar a atividade de enzimas relacionadas à ciclagem de P no solo, aumentando a eficiência do uso de fertilizantes fosfatados, com incrementos em produtividade.

Outras plantas de cobertura que possuam a característica de ciclar P também podem contribuir para o aumento deste nutriente no solo, como o milheto e o tremoço branco. Este último também pode contribuir para a solubilização de P adsorvido devido ao ácido cítrico presente nas raízes dele.

As adubações orgânicas, composto orgânico, desde que não possua nenhum elemento tóxico em sua composição, e o retorno da casca de café para a lavoura também contribuem para o aumento da MOS e, consequentemente, maior teor de P disponível.

Crédito: Marcelo Linhares

As bactérias solubilizadoras de P e fungos micorrízicos também possuem papel de importância no manejo do P no solo, com foco em aumentar a eficiência do uso deste nutriente na cultura do café.

Fontes de fósforo recomendadas

O fósforo apresenta diferentes fontes, sendo recomendadas em determinado estádio fenológico da lavoura, investimento da tecnologia e disponibilidade. O fósforo apresenta 20% de eficiência de uso.

Assim, no plantio utilizam-se fontes com disponibilidades mais lentas, como os fertilizantes organominerais ou fontes de disponibilidade média, como o superfosfato simples ou triplo.

Também há, no mercado, os fertilizantes de liberação lenta ou controlada. Para lavouras adultas que demandam disponibilidade mais rápida, podemos utilizar o fosfato monoamônico (MAP) ou fosfato diamônico (DAP), que liberam os nutrientes de forma mais rápida.

Papel da rotação de culturas

O fósforo é um elemento muito dinâmico no solo, sendo característica sua adsorção nos solos brasileiros, muito intemperizados, predominando óxidos de Fe e Al. Uma forma de aproveitar a utilização de fósforo do solo é com a implantação de plantas de cobertura da entrelinha do cafeeiro, principalmente a braquiária.

Em um trabalho publicado pela Esalq, o pesquisador Baptistella identificou que esta gramínea é capaz de acessar o fósforo em profundidades superiores a 2,0 m e mobiliza-lo e disponibiliza-lo para o cafeeiro por ações da fosfatase ácida.

Papel da fertilização

A escolha de boas fontes de fósforo é fundamental para o uso eficiente do nutriente nas lavouras cafeeiras. Optar por fontes de alta solubilidade, como o superfosfato triplo e fosfato monoamônico, e realizar a aplicação desses produtos de forma localizada, próxima às raízes, pode aumentar a disponibilidade do nutriente para a planta.

Além disso, utilizar fertirrigação em sistemas de irrigação por gotejamento ou aspersão é uma alternativa que contribui para uma distribuição uniforme e precisa do fósforo na área.

Diversos métodos de fertilização podem melhorar a estrutura física do solo, ciclar nutrientes e aumentar a disponibilidade de fósforo ao longo do tempo. Um exemplo é a adubação verde com a utilização de plantas de cobertura, e a aplicação de compostos orgânicos.

Além disso, o uso de fertilizantes que contenham microrganismos solubilizadores de fósforo em sua composição, alinhado a uma correção adequada do pH do solo, por meio da calagem, também favorece a disponibilidade do nutriente.

Solos muito ácidos ou muito alcalinos reduzem a disponibilidade de fósforo, portanto, a manutenção do pH é essencial para a obtenção de bons resultados com a aplicação de fósforo.

Desafios

A gestão do fósforo na lavoura representa grande desafio para o cafeicultor. Um ponto crítico é o elevado custo dos fertilizantes. Para superar este obstáculo, o produtor e o engenheiro agrônomo devem realizar análises foliares e de solo para traçar um diagnóstico da necessidade real da lavoura.

Esta atitude previne práticas de fertilização inadequadas, o que acaba otimizando a aplicação de fósforo e reduzindo os custos de produção.

Outro desafio é a fixação do nutriente no solo, o que o torna indisponível para as plantas. Por isso, é fundamental que a calagem seja bem feita para a correção adequada do pH do solo.

A erosão e a degradação da qualidade do solo podem levar à perda de fertilizantes e reduzir a capacidade de retenção de fósforo. Para evitar que isso ocorra, o produtor deve implementar em sua propriedade boas práticas de conservação do solo, como o uso de cobertura vegetal e práticas de adubação verde.

Outra estratégia importante que deve ser considerada é o uso de tecnologias como a fertirrigação, que proporciona uma distribuição mais uniforme e precisa dos fertilizantes, e a incorporação de compostos orgânicos, que colaboram na estrutura do solo e aumentam a disponibilidade do nutriente.

Implementar essas estratégias pode auxiliar o cafeicultor a superar os desafios e a promover uma gestão mais eficiente e sustentável do fósforo em suas lavouras.

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