Os cultivos agrícolas podem promover grandes ganhos com a geração de energia renovável, principalmente em regiões de origem tropical e subtropical, devido à grande disponibilidade de energia solar, bem como de terras agricultáveis e recursos hídricos, condições encontradas no Brasil
Um efeito didático e positivo da crise que assola o Brasil, na atualidade, é o fato de os produtores poderem economizar e gerar sua própria energia. Os altos preços pagos pela energia elétrica, hoje, têm motivado os produtores rurais e a indústria a serem autogeradores, e até mesmo geradores independentes de energia elétrica para vender, despachando na rede.
Segundo dados da ABE Eólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), publicados no boletim de julho de 2015, a matriz elétrica brasileira apresenta uma configuração renovável-térmica, e tem participação de 4,9% de fonte eólica. Contamos atualmente com 270 usinas instaladas no Brasil e capacidade eólica instalada de 6,8 GW. Devido a essa parcela de fonte de energia eólica, já houve a redução de emissão de 12.036.013 toneladas ao ano de CO2.
Nada é novidade, porém, José Dilcio Rocha, engenheiro químico, doutor e pesquisador da Embrapa Agroenergia, avalia que o que antes não era rentável e atrativo está se tornando cada dia mais questão de sobrevivência do negócio. “Além da inovação em busca da minimização dos custos e dos riscos, existe a clara necessidade de redução da conta de energia e, principalmente, da segurança energética e a garantia da manutenção da produção“, pontua.
No caso específico dos produtores rurais que demandam energia elétrica para acionar suas máquinas e motores, sistemas de irrigação, ordenhadeiras, resfriadores, etc., merece uma análise rigorosa de viabilidade quanto a investir na geração própria.
A pergunta é…
Os produtores rurais estão se perguntando: “como posso gerar minha própria energia?“ José Dilcio responde que existe um variado cardápio de tecnologias baseado no aproveitamento energético de fontes renováveis.
As opções vão desde energia solar fotovoltaica, eólica de baixa potência, pequena e microcentrais hidrelétricas (PCH e MCH), além da bioenergia. Essa última se refere ao uso da biomassa, que pode ser gerada a partir de resíduos de culturas agrícolas, como, por exemplo, a queima do bagaço de cana, processo largamente usado no País, a queima de resíduos florestais, uso de biogás, entre outros. A Embrapa Agroenergia se dedica a desenvolver e estudar tecnologias nessas áreas.
Uma situação exposta pelo pesquisador é a dos pecuaristas, confinadores, leiteiros, suinocultores e avicultores, os quais podem pensar na proposta do biogás, citado anteriormente, para a cogeração de energia elétrica e térmica. Essa produção de biogás pode ser complementada com o plantio de milho ou mesmo sorgo direcionados para alimentar o biodigestor e usado em sinergia com os resíduos dos estábulos.
O caso do biodigestor
O frigorÃfico Cowpig, instalado em uma propriedade de 250 hectares, na cidade de Boituva (SP), investe em nova tecnologia com a adoção de um biodigestor revestido com geomembranas de PVC produzidas pela fabricante de revestimentos sintéticos de Cerquilho (SP).
Idealizado pelos irmãos Sebatiani, fundadores do Cowpig, o projeto é inovador ao reduzir impactos ambientais, possibilitar 20% a mais em geração de biogás e reduzir gastos com a manutenção do equipamento em cerca de 50%.
Enquanto o biodigestor tradicional recebe apenas restos de alimentos e dejetos dos animais, o instalado no Cowpig, além destes resíduos, também faz o tratamento das águas das linhas verde e vermelha do frigorÃfico, que estão relacionadas à lavagem das vÃsceras, rúmen e sangue de bovinos, suÃnos, ovinos e búfalos.
Outro diferencial é a estrutura interna, que conta com bombas e encanamentos para evitar o acúmulo de sólidos no fundo do equipamento, evitando a manutenção frequente.
O equipamento tem 50 metros de comprimento, 17 metros de largura e cinco metros de profundidade. O biodigestor é uma câmara totalmente fechada, onde os resíduos dos animais entram em processo de fermentação anaeróbia. Dessa forma, é possível reaproveitar detritos para gerar adubo e gás, também chamados de biofertilizantes e biogás.
Energia sustentável
O gás pode ser utilizado como fonte de energia. Com a estrutura interna utilizada no equipamento do Cowpig a geração de biogás consegue ser ainda mais eficiente. Devido à função de agitação, o sistema produz cerca de 20% a mais de biogás em comparação com o biodigestor tradicional.
O biogás proveniente do equipamento é utilizado para alimentar as caldeiras e produzir vapor para o abatedouro do Cowpig. A instalação do biodigestor garante à propriedade uma economia entre R$ 20 mil e R$ 30 mil por mês com energia, além de representar grande melhoria à natureza, aos criadores, abatedouros e frigorÃficos.
O projeto do equipamento permite receber resíduos das linhas verde e vermelha e representa um grande avanço no que diz respeito ao meio ambiente, ao evitar a contaminação do solo, lençol freático e afluentes, além de reduzir a emissão de gases nocivos à atmosfera.