Jade Cristynne Franco Bezerra
Doutoranda em Proteção Florestal – Unesp
jade.bezerra@unesp.br
Fellipe Kennedy Alves Cantareli
Doutorando em Agronomia – Universidade Federal de Goiás (UFG)
cantareli@discente.ufg.br
Bruna Ferreira dos Anjos
Doutoranda em Proteção de plantas – Unesp
bruna.anjos@unesp.br
A disseminação da gomose nos pomares brasileiros tem gerado prejuízos expressivos, com perdas que afetam tanto pequenos produtores quanto grandes indústrias citrícolas. Por ser um fungo beneficiado por condições climáticas específicas, especialmente de regiões de clima subtropical e tropical, com alta umidade e temperaturas amenas, o controle do fungo Phytophthora spp é dificultado em diversas regiões produtoras do país.
A doença é responsável por altas taxas de mortalidade em pomares, especialmente quando mudas contaminadas são utilizadas. Além disso, a necessidade de controles químicos, preventivos e curativos, aumenta os custos de manejo para os produtores.
Impactos econômicos da gomose em citros
A infecção causada por Phytophthora spp. provoca lesões no tronco e nas raízes, limitando a circulação de água e nutrientes, o que resulta em menor desenvolvimento vegetativo e redução na produção de frutos. Em casos severos, a gomose pode levar à morte das árvores, aumentando os custos de reposição e replantio.
Há gastos elevados com fungicidas, manejo cultural e medidas de recuperação, além do risco de sanções comerciais em regiões onde o patógeno é quarentenário. Os frutos de plantas afetadas tendem a ser menores e de menor qualidade, afetando o valor comercial.
Reduções na produtividade e qualidade comprometem a capacidade de atender às demandas do mercado interno e externo.
Sintomas
A gommose cítrica, causada por Phytophthora spp., apresenta sintomas distintos que permitem sua identificação precoce nos pomares, sendo essa etapa essencial para o manejo eficaz e a prevenção de sua disseminação.
O sintoma mais característico é a exsudação de goma de coloração âmbar, proveniente de bolhas no tronco e nos galhos. Além disso, as áreas infectadas frequentemente exibem descoloração da casca e dos tecidos subjacentes, indicando danos significativos.
Fissuras longitudinais também podem surgir, permitindo a exsudação da seiva, o que pode levar ao anelamento e à morte da árvore. Galhos afetados frequentemente apresentam necrose, contribuindo para o declínio da planta.
Pesquisas em campo
Pesquisas sistemáticas em pomares são essenciais para identificar árvores sintomáticas de forma antecipada. Por exemplo, um estudo realizado na Etiópia avaliou 300 árvores, identificando uma prevalência de 90% dos sintomas de gomose.
Observou-se, também, uma correlação entre períodos de alta umidade e chuvas, especialmente de agosto a setembro, com o aumento da incidência da doença. Apesar da importância da identificação precoce, é fundamental considerar que os sintomas podem se sobrepor aos de outras doenças, exigindo uma diferenciação cuidadosa para evitar erros no manejo.
Disseminação
Os fungos responsáveis pela gomose nas árvores se espalham principalmente por meio de feridas e condições ambientais favoráveis ao seu crescimento. A alta umidade e temperaturas entre 25 e 30°C promovem tanto o desenvolvimento quanto a esporulação dos fungos.
Além disso, o estresse hídrico pode enfraquecer as árvores, tornando-as mais vulneráveis a infecções fúngicas. Patógenos da família Botryosphaeriaceae frequentemente invadem as árvores por meio de lesões físicas, causando sintomas como exsudação de goma e necrose.
Murchamento
Fungos como Lasiodiplodia theobromae e Fusarium equiseti infectam os tecidos das árvores, resultando em sintomas como murchamento. Espécies como Heterobasidion abietinum criam lacunas nas florestas ao matar árvores, facilitando a disseminação de esporos para árvores saudáveis nas proximidades.
A entrada dos fungos ocorre principalmente através de feridas causadas por poda, danos mecânicos ou atividade de insetos. Além disso, mudas infectadas e materiais propagativos contaminados representam fontes adicionais de disseminação dos patógenos.
Manejo eficaz
O controle eficaz da gomose em pomares cítricos requer uma combinação de práticas inovadoras que integram tratamentos químicos, biológicos e técnicas agrícolas avançadas, visando mitigar o impacto de patógenos como Phytophthora spp.. Pesquisas recentes destacam as melhores práticas para o manejo dessa doença.
Entre os tratamentos químicos, a aplicação de fosfito de potássio mostrou resultados significativos, reduzindo a incidência da doença em até 84% quando utilizado em concentrações ideais.
Além disso, a combinação de fungicidas, como Dimetomorfo e Mancozeb, demonstrou eficácia na redução da secreção das lesões e no aumento da produção de frutas.
Onde entram os biológicos
No controle biológico, cepas nativas de Trichoderma apresentaram alta atividade antagônica contra a gomose, com uma cepa específica reduzindo o tamanho das lesões em 95,67%, além de melhorar a densidade radicular e a produção de frutos.
Outro avanço promissor é o uso de nanopartículas biogênicas de óxido de cobre, que têm mostrado potencial significativo no manejo da gomose, indicando o crescente papel da nanotecnologia na agricultura.
Práticas agrícolas, como a incorporação de compostos orgânicos e agentes biológicos no manejo do solo, também podem fortalecer os mecanismos de defesa das plantas contra a Phytophthora.
Porta-enxertos resistentes
Adicionalmente, programas de melhoramento genético focados no desenvolvimento de porta-enxertos resistentes, utilizando biotecnologia moderna, oferecem soluções de longo prazo para o controle da gomose.
Embora essas abordagens sejam promissoras, é crucial considerar o risco de desenvolvimento de resistência pelos patógenos e a necessidade de pesquisas contínuas para refinar e adaptar as estratégias de manejo, garantindo sua eficácia e sustentabilidade ao longo do tempo.
Soluções efetivas
Diversos fungicidas têm sido avaliados quanto à eficácia no controle da gomose, sendo que o momento da aplicação desempenha um papel crucial no aumento de sua eficiência. O Metalaxil destacou-se como o mais eficaz no controle de patógenos de Oomycota, reduzindo em 94,75% o crescimento micelial.
Outros fungicidas também apresentaram resultados promissores, como Cimoxanil e Propamocarbo, com reduções de 94,62% e 91,13%, respectivamente.
O Fosetyl-Al se mostrou altamente eficaz na redução da mortalidade e colonização radicular, especialmente quando aplicado antes ou no momento da inoculação do patógeno. Além disso, a combinação de Procloraz e Hexaconazol, em proporções específicas de 1:4 a 1:8, demonstrou efeitos sinérgicos no controle da gomose de pêssego.
Aplicação
Especificamente, a aplicação do Fosetyl-Al sete dias antes da exposição ao patógeno potencializa seus efeitos protetores, reduzindo significativamente a mortalidade e a colonização radicular. Para o Metalaxil, a aplicação em forma de tinta de tronco revelou-se mais eficiente na redução da expansão de lesões em comparação aos sprays foliares.
Apesar da eficácia comprovada desses fungicidas, a dependência exclusiva de tratamentos químicos levanta preocupações sobre o desenvolvimento de resistência aos patógenos e os impactos ambientais adversos.
Esse cenário ressalta a importância de integrar estratégias sustentáveis no manejo da gomose, combinando fungicidas com outras práticas de controle.
Alternativas
Para combater a gomose de forma sustentável, estratégias de manejo integrado de pragas (MIP), além de fungicidas, podem ser empregadas. Essas estratégias abrangem uma variedade de abordagens que melhoram a saúde e a resiliência das plantas e, ao mesmo tempo, minimizam o impacto ambiental.
Práticas como a rotação de culturas e a irrigação adequada desempenham um papel crucial na redução da prevalência de patógenos e na melhoria da saúde do solo. Essas estratégias ajudam a criar um ambiente menos favorável ao desenvolvimento de organismos causadores de gomose.
A remoção regular de detritos vegetais infectados é uma prática fundamental para prevenir a propagação de patógenos. O saneamento adequado reduz significativamente os focos de infecção no pomar, contribuindo para o manejo integrado da doença.
Microrganismos benéficos e variedades resisstentes
A utilização de microrganismos benéficos, como cepas de Bacillus e Pseudomonas, além de espécies de Trichoderma, têm demonstrado eficácia na supressão de patógenos por meio de mecanismos como competição, antibiose e resistência sistêmica induzida.
Tratamentos combinados, que integram agentes de biocontrole com fungicidas tradicionais, têm se mostrado promissores, pois potencializam a eficácia no manejo da doença, reduzindo simultaneamente a dependência exclusiva de produtos químicos.
O desenvolvimento e uso de variedades de culturas resistentes à gomose representam uma solução sustentável de longo prazo. Plantar variedades com resistência natural reduz significativamente a incidência da doença, tornando o manejo mais eficiente e menos dependente de insumos químicos.
Essas estratégias integradas não apenas controlam a gomose de forma mais sustentável, mas também promovem a saúde geral do pomar, minimizando riscos ambientais e econômicos.
Poda e manejo do sistema radicular
O uso da poda faz parte das medidas de programas de manejo, promovendo o balanço entre a parte aérea e o sistema radicular e levando a melhores produções. Melhora a circulação de ar e reduz a umidade no dossel das plantas, criando um ambiente menos favorável ao fungo.
A necessidade de poda depende de vários fatores: das combinações copa porta-enxerto utilizadas, das condições nutricionais do solo e do clima, do espaçamento de plantio e do manejo conduzido no pomar. Estes fatores influenciam o vigor e o hábito de crescimento das plantas.
A drenagem do solo e o manejo adequado da irrigação são essenciais para evitar encharcamentos, que favorecem a germinação de esporos do fungo. Promover a aeração do solo e evitar o compactamento melhora a saúde radicular, aumentando a resistência da planta a infecções.
Resistência à Phytophthora spp
O uso de porta-enxertos tolerantes ou resistentes à Phytophthora spp. é uma das medidas mais importantes no manejo do sistema radicular. Além disso, a aplicação de matéria orgânica estabiliza e melhora a microbiota do solo.
Quando a prática da poda é sistemática e periódica, as plantas se mantêm sadias e produtivas, diminuindo a competição entre as copas. Quando não é realizada de forma adequada, a planta cresce excessivamente em altura e, portanto, dificulta o trabalho do manejo do pomar.
Quando isso ocorre, os problemas fitossanitários aumentam e, aliado a uma má aplicação de defensivos, pode levar à redução gradual da produtividade dos citros.
A poda é uma prática cultural de grande importância, principalmente quando se faz uso do cultivo adensado, como está ocorrendo atualmente no Brasil. Neste cenário, a técnica assume um papel fundamental no controle do crescimento vegetativo das plantas, na melhoria da qualidade dos frutos e na eficiência de utilização dos nutrientes.