21.6 C
Uberlândia
quinta-feira, novembro 21, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosInovação no cultivo da bananeira evita uso de defensivos

Inovação no cultivo da bananeira evita uso de defensivos

Foto: Embrapa

Lucas Rozendo de Lima Silva
Engenheiro agrônomo – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
Sinara de N. Santana Brito
Engenheira agrônoma e mestra em Agronomia/Horticultura – na Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Harleson Sidney Almeida Monteiro
Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia/Horticultura – UNESP
harleson.sa.monteiro@unesp.br

A bananeira é uma planta cultivada por todo o Brasil, em todos os estados e no Distrito Federal e foi responsável por movimentar cerca de US$ 139 bilhões em 2023, com previsão de aumento substancial para os próximos anos.

As bananas podem ser classificadas em grupos, eles são: Cavendish, que engloba as bananas do tipo Nanica, Nanicão e Grande Naine, o grupo Prata, que compreende as bananas prata, prata-anã e Pioneira, o grupo Maçã, representado pelas variedades Maça, Enxerto, Caipira e Mysore e o grupo Terra, com as variedades Terra e Terrinha.

Fitossanidade

As plantações de banana encontram-se intrinsecamente vulneráveis a ataques de pragas e doenças, o que, por sua vez, intensifica a necessidade de empregar defensivos para garantir a manutenção da comercialização desses frutos no Brasil.

Este cenário complexo e desafiador ressalta a importância crítica de buscar soluções e práticas agrícolas inovadoras, que conciliem a produtividade econômica com a preservação ambiental, assegurando assim a sustentabilidade a longo prazo da bananicultura no país.

Os principais insetos nocivos à bananeira são: o moleque-da-bananeira ou broca-do-rizoma (Cosmopolites sordidus), a tripes-da-erupção-dos-frutos (Frankliniella spp.), a tripes-da-ferrugem-dos-frutos (Tryphacothrips lineatus, Caliothrips bicinctus e Chaethanaphotrips spp.), a traça-da-bananeira (Opogona sacchari), lagartas desfolhadoras (Caligo spp., Opsiphanes spp. e Antichloris spp.) e ácaros de teia (Tetranychus spp.).

Entre esses, os que atacam diretamente a fruta da bananeira são as tripes e a traça.

Os tripes-da-ferrugem-dos-frutos se alimentam da seiva dos frutos e causam graves danos estéticos ao produto, contudo, sem prejudicar a polpa, porém, causando diminuições significativas nas margens de lucro.

O tripes-da-erupção-dos-frutos, quando presente nos cachos da planta, mesmo que minimamente, causa a formação de pequenos pontos ásperos, tornando o fruto menos atraente para o consumidor, mesmo que também não cause danos à polpa.

A larvas da traça-da-bananeira, ao eclodirem, formam galerias na polpa, causando perda de produção por apodrecimento.

É por essa razão que se torna imperativo a realização de extensas pesquisas e dedicados esforços, visando impulsionar a inovação no cultivo consciente da bananeira.

Inovação

A parceria estabelecida entre a Unesp e o setor privado trouxe um mecanismo de polietileno livre de qualquer inseticida, que tem por finalidade proteger os cachos das bananeiras contra o ataque de pragas que frequentemente comprometem a qualidade das frutas.

Em meio a esse cenário desafiador, a Unesp realizou testes com a nova tecnologia e comprovou a eficiência do produto contra o temido tripes-da-erupção-dos-frutos. De modo bem simples, o invólucro é colocado ao redor do cacho inteiro da bananeira com a utilização de “sacadeira”, ou manualmente com o auxílio de uma escada, no início da floração.

O objetivo é impedir a ação dos insetos, pois possui aditivo anti-UV, que reflete o mesmo comprimento de onda da visão das tripes, fazendo-os sair do local de ataque.

Por serem livres de agrotóxicos, os plásticos não necessitam de mão de obra qualificada para instalação, facilitando o manejo dos produtores e, para além da proteção contra tripes, ainda impede possíveis “queimaduras” de sol no fruto.

É importante ressaltar que a utilização da tecnologia desenvolvida pelas empresas privadas e a Unesp em simultaneidade com sistemas de cultivo e estratégias sustentáveis como sistemas agroflorestais, variedades de bananeiras melhoradas e cultivos orgânicos são opções que podem contribuir ainda mais para a redução da utilização de defensivos.

Foto: Embrapa

Agrofloresta

Os sistemas agroflorestais são considerados uma estratégia sustentável de aproveitamento do solo em diferentes camadas espaciais, quando se fala de variadas escalas de tamanho das culturas e camadas temporais, ao se referir à espécies de plantas diversificadas em seus momentos de produção.

Os SAF’s têm o objetivo de simular florestas naturais produtivas por meio da utilização da dinâmica dos fenômenos naturais, como o consórcio de espécies, a sucessão natural e a ciclagem de nutrientes.

Esses sistemas funcionam com a implantação tanto de espécies nativas quanto de espécies exóticas. Variadas em tamanho, essas plantas podem ser de grande, médio e baixo porte, levando em consideração os seus arranjos espaciais, estágios de desenvolvimento e duração de ciclos.

Usualmente, a bananeira é uma ótima espécie para se utilizar em agroflorestas, visto que sua produção começa em um bom tempo, em cerca de um a dois anos dependendo do clima, reduzindo a insegurança alimentar e provendo lucros a curto prazo para os produtores.

Além disso, é uma ótima repositora de potássio e resíduos orgânicos, ao liberar sua palhada ao solo, melhorando características químicas, físicas e biológicas da área em que foi implantada.

Existem, ainda, alguns empecilhos para a implantação desse sistema de produção, entre os quais: a falta de adesão dos produtores ao sistema e o planejamento inadequado dos arranjos, sem levar em consideração as interações interespécies, preparos de área e manutenções. 

Questão de sustentabilidade

Mas, afinal, os sistemas agroflorestais contribuem, de fato, para a redução da utilização de agrotóxicos? Sim, os sistemas agroflorestais contribuem muito para a redução da utilização de defensivos agrícolas, pois ao favorecer a cobertura do solo, esses sistemas impedem a proliferação de plantas daninhas no ambiente.

Ainda, ao simular vegetação nativa e estimular a diversificação vegetal, os SAF’s oferecem alimentações alternativas para os seres que podem vir a se proliferar como pragas e parasitas da bananeira.

Assim, podem reduzir os desequilíbrios relacionados à monocultura, diminuir a incidência de ataques de doenças e pragas à cultura. Todos esses fatores, aliados ainda à proteção com o plástico anti-insetos, pode prover uma qualidade superior aos produtos resultados desse sistema.

Genética

Atualmente, as cultivares de bananeira resistentes a doenças e pragas já existem e são utilizadas em plantios. Como exemplos, pode-se citar as cultivares desenvolvidas pela Embrapa, como a ‘BRS Princesa’, um híbrido de banana “maçã” resistente ao fungo causador da murcha de fusarium, a ‘BRS Conquista’, que é resistente à sigatoka negra e amarela, à murcha de fusarium e é tolerante a nematoides.

A ‘BRS Tropical’ é resistente à murcha de fusarium e a ‘BRS Vitória’, resistente às sigatokas e à fusariose, além de também ser resistente à antracnose pós-colheita, com maior qualidade de fruto e tempo de prateleira.

Pesquisas comprovaram a eficiência da resistência de alguns genótipos, especialmente ao fungo da sigatoka negra. Entre esses genótipos, pode-se citar: ‘Farta Velhaco’, ‘Caipira’ e ‘BRS Garantida’.

Em 2024, o projeto de melhoramento de bananeira da Embrapa entra na sua terceira fase de desenvolvimento e encontra-se em andamento, com previsão de conclusão em 2025.

ARTIGOS RELACIONADOS

Micronutrientes quelatizados em banana

Micronutrientes quelatizados com aminoácidos: qualidade garantida na produção de bananas.

O cultivo e o mercado da manga

  Moacir Brito Oliveira Rafael Pereira Sales Irani Pereira Mangaclara " Consultoria e Serviços Especializados em Fruticultura mangaclara@nortecnet.com.br A fruticultura é um dos segmentos mais importantes da economia brasileira,...

Orgânicos – Mercado brasileiro fatura R$ 4 bilhões

O mercado brasileiro de orgânicos faturou no ano passado R$ 4 bilhões, resultado 20% maior do que o registrado em 2017, segundo o Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), que reúne cerca de 60 empresas do setor.

Nova cultivar de banana-da-terra: alta produtividade e qualidade alimentar

A BRS Terra-Anã produz mais amido resistente, considerado um alimento prebiótico, o que desperta o interesse do consumidor.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!