Veridiana Zocoler de Mendonça
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia – Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA/SP)
A água é indispensável à agricultura, seja por meio das chuvas e ou do aporte com irrigação. A distribuição irregular das chuvas pode acarretar em longos períodos de estiagem, ou seja, o déficit hídrico no solo causará estresse hídrico às plantas, gerando grandes quebras de produção.
O volume anual de chuvas é insuficiente para a necessidade da citricultura na maior parte do território brasileiro, tornando a irrigação uma ferramenta necessária para o incremento da produção.
Os citros compreendem um grupo de fruteiras dos mais importantes para a agricultura brasileira, não somente devido ao valor nutritivo dos frutos, diversidade de produtos para a indústria, mas também devido ao papel social e econômico que desempenha como produto de exportação.
Safra
Segundo dados da Fundecitrus, a estimativa da safra de laranja 2021/22 do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro (regiões de maior relevância da citricultura brasileira), é de um volume de 264,14 milhões de caixas de 40,8 kg. A área plantada e produção estimadas com laranja no Brasil é de 582.861 ha e 16.604.982 toneladas, respectivamente (IBGE, Janeiro de 2022).
O suco de laranja é o único produto brasileiro que detém mais de 50% da produção mundial, além de 85% das exportações. Outros produtos que compõem a pauta de exportações da cadeia citrícola incluem a laranja e lima ácida in natura, farelo de polpa cítrica e óleo essencial.
O Estado de São Paulo é líder na produção nacional de lima ácida tahiti, responsável por cerca de 70% do volume brasileiro dessa espécie cítrica. É uma das frutas mais exportadas do Brasil e uma das mais expressivas dentre as cítricas, destacando-se a região de Catanduva (SP) como produtora e exportadora desta variedade.
Necessidade hídrica
A necessidade de água dos citros varia conforme o estádio fenológico das plantas. Na brotação, emissão de botões florais, frutificação e início de desenvolvimento dos frutos há maior demanda de água e as plantas são muito sensíveis ao déficit hídrico, sendo que o aumento no tamanho dos frutos está altamente relacionado com a absorção de água.
O período mais crítico vai da brotação até o fruto atingir 2,5 cm de diâmetro, ou seja, se o déficit hídrico ocorrer no período de florescimento e pegamento dos frutos, a queda da produtividade será maior. Na fase de maturação, colheita e semi-dormência a demanda hídrica é menor.
A irrigação tem possibilitado a antecipação do florescimento e a manutenção da produtividade de pomares formados com porta-enxertos menos resistentes ao déficit hídrico.
Por onde começar
Um projeto de irrigação deve ser elaborado considerando-se situações críticas, que não ocorrem no dia-a-dia do citricultor. A quantidade de água a ser aplicada nas plantas não deve ser limitada a valores fixos e sim de parâmetros considerando a planta, o solo e o clima. O manejo da irrigação também envolve a tomada de decisão sobre quando irrigar e a quantidade de água a aplicar.
Na escolha do método, é necessário levar em conta sua eficiência no que diz respeito à economia de água e energia, sem comprometer a produtividade da cultura. Os sistemas de irrigação localizada, como gotejamento e microaspersão, são os mais utilizados mundialmente.
O gotejamento adapta-se muito bem à citricultura pela vantagem de ser permanente, utilizar pouca mão de obra, além de não molhar toda a superfície do terreno, apresentando eficiência de aplicação de 95% em zonas tropicais, principalmente quando os solos não são arenosos.
As principais vantagens são a alta eficiência de aplicação, baixa pressão, facilidade de operação, lâminas de irrigação menores e com menor intervalo e maior frequência de aplicação, além de bom controle sobre a umidade e aeração do solo.
Irrigação localizada
Os sistemas de irrigação localizada, diferente dos sistemas de irrigação por aspersão e superfície, não molham toda a superfície do terreno, portanto, um mínimo de área molhada deve ser garantido, para evitar redução na produção de frutos. Esse mínimo é representado pela percentagem de área média molhada pelo emissor em relação à área total da planta.
Em solos de textura média ou fina, é recomendada a irrigação por gotejamento para manter o solo molhado na região do sistema radicular. Indica-se instalar dois gotejadores por planta após o plantio, e pelo menos quatro gotejadores quando as plantas estiverem mais desenvolvidas. Em solos cuja textura é predominantemente arenosa, com rápida drenagem, a microaspersão é mais recomendada.
Já a irrigação por aspersão tem sido usada tanto como aspersão sobrecopa, incluindo o sistema autopropelido, quanto subcopa. Este método proporciona 100% de molhamento da área cultivada, não impondo, portanto, nenhuma limitação ao pleno desenvolvimento das raízes.
Nesse método não se deve esperar elevados coeficientes de uniformidade de distribuição de água e é importante ter cuidado no período de floração, quando o impacto da água dos aspersores pode provocar queda de flores e frutos jovens.
Cuidados, rumo à produtividade
Fatores como a velocidade do vento e a umidade relativa do ar elevados podem afetar a uniformidade da irrigação, por meio dos processos de arraste e evaporação, diminuindo a eficiência do sistema. A água usada em aspersão sobre-copa deve ser de boa qualidade, pois águas salinas, ainda que em baixas concentrações, podem causar prejuízo às folhas.
O aumento da produção de frutos nos pomares irrigados é da ordem de 30 a 75%, comparado aos pomares não-irrigados, gerando ganho econômico extra ao produtor. A irrigação assegura boa florada e pegamento, o que induz a produção de frutos de melhor qualidade.
Os incrementos de produtividade obtidos variam entre 7,0 e 30 t/ha, estando diretamente relacionados com a densidade de plantas por hectare, idade das plantas, assim como o estado de sanidade geral do pomar. Áreas com alto índice de falhas e replantadas, e incidência de doenças em níveis comprometedores dificilmente respondem imediatamente à irrigação, devendo passar por um período de adequação e recuperação.
Estudos
Em pesquisa realizada, contatou-se que o rendimento da laranja ‘Valência’ com a utilização de cinco gotejadores por planta, dispostos ao longo da linha lateral, foi maior quando comparado ao uso de três gotejadores por planta.
Em outro estudo, obteve-se aumento significativo no rendimento de colheita com a implementação de sistema tecnificado com irrigação no pomar de laranjeira Valência, em início de produção, com 2,9 anos de implantação.
Este aumento foi duas vezes maior em pomares adensados (727 plantas ha-1) e 1,45 vezes maior em pomar com adensamento médio (667 plantas ha-1) em comparação com o sistema convencional.
O uso da irrigação concomitante ao sistema tecnificado é conveniente, uma vez que resulta em frutos com maior tamanho. Esses frutos também apresentaram menores teores de sólidos solúveis e acidez titulável, independente do espaçamento utilizado.
Erros
Os erros mais frequentes estão relacionados à escolha do sistema de irrigação. Como frisado, informações sobre o tipo de solo, quantidade de plantas (adensamento), clima e variedade cultivada devem ser considerados na escolha do método e no cálculo da lâmina de água aplicada, bem como o estádio fisiológico correto para iniciar a irrigação.
Para tanto, o acompanhamento de um profissional é fundamental, de modo que o produtor obtenha o incremento de produtividade esperado e o retorno do capital investido.
Investimento
O custo de um projeto de irrigação é variável em função da região e do tipo de sistema a ser implementado. O custo de implantação de um projeto de irrigação em citros está diretamente relacionado com alguns fatores, como: declividade da área, distribuição de variedades e idades das plantas, sistema de irrigação adotado, qualidade da água, obras civis necessárias na captação de água e fonte de energia disponível.
Dentre os custos operacionais, estão englobados os gastos com energia, mão de obra, manutenção e mecanização, para operação dos sistemas de irrigação. Assim, cada projeto terá suas particularidades e custos específicos.
Influência direta
Diante do exposto, a disponibilidade e manejo da água influenciam a floração e frutificação dos citros, podendo afetar a queda e tamanho dos frutos, desenvolvimento da cultura, produtividade e composição físico-química dos frutos.
Portanto, o manejo e aporte de água em sistemas, quantidades e épocas adequadas à irrigação consistem em ferramenta importante para o incremento da produção na citricultura.