Manejo da irrigação do algodoeiro

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Crédito: Amipa

Thayssa Ramos Quintiliano Lima

Graduanda em Engenharia Agrícola

Débora Costa Camargo

Engenheira agrônoma, mestra e PhD em Ciência e Engenharia Agrária – Universidad de Castilla-La Mancha

debora.camargo@santacolomba.com.br

A cotonicultura é uma atividade agrícola de alto valor no Brasil, e apesar do cenário pandêmico, a cultura apresentou resultados recordes no ano de 2020, tornando o país o quinto maior produtor de algodão em pluma do mundo e o segundo maior exportador deste produto.

Este avanço é resultado direto do constante investimento em tecnologias que trazem para o mercado variedades de algodão resistentes a pragas e doenças, com alto potencial produtivo e qualidade de fibra.

No entanto, não basta escolher a variedade e a biotecnologia que será empregada. É preciso ter certeza que o material selecionado terá condições de expressar todo seu potencial tecnológico no campo. Para que isto aconteça e o cotonicultor tenha sucesso no cultivo, o manejo da cultura deve estar alinhado às demandas da variedade.

Irrigação é aliada da produtividade

No cultivo do algodão em regiões onde há má distribuição ou escassez de chuvas, a irrigação se apresenta como prática indispensável para a garantia de elevadas produtividades. Como exemplo, podemos citar o Estado da Bahia, que na safra 2019/20 cultivou uma área de 50.787,20 hectares de algodão irrigado, representando um total de 16,2% da área plantada.

A produtividade média alcançada neste sistema foi de 327,0 arrobas por hectare, um resultado 6% maior que o observado no sequeiro. Este resultado aponta para o uso da irrigação como estratégia promissora no aumento da produtividade da cultura.

Além disso, a adoção do sistema de irrigação na cotonicultura também apresenta como vantagens a melhoria na qualidade da fibra, a possibilidade de produção de fibras especiais (fibra longa e extralonga) e a garantia de produção a cada ano, facilitando a comercialização do produto.

Apesar disso, para que estes benefícios sejam observados no campo, conhecimentos sobre o sistema de irrigação adotado, o manejo da irrigação adequado e a necessidade hídrica da cultura são indispensáveis. A falta de atenção a estes fatores é a principal causa de sistemas irrigados pouco produtivos e/ou de baixa qualidade.

Hora de escolher

A escolha do sistema de irrigação utilizado no cultivo do algodoeiro depende de diversos fatores, tais como as condições do solo, clima, topografia, disponibilidade hídrica e do aporte financeiro e tecnológico do produtor.

De forma geral, o sistema de irrigação comumente utilizado e que melhor se adapta à cultura é por aspersão, sendo em sua maioria pivô central. No Oeste da Bahia, os equipamentos de irrigação ocupam 147.087 hectares, cerca de 2,5% da área total destinada à agricultura na região.

Além de escolher o sistema mais adequado à sua realidade, o produtor também deve fazer um bom projeto de disponibilidade hídrica e energética, e estar atento ao bom funcionamento e manutenção dos equipamentos, de forma a não afetar a uniformidade de aplicação e eficiência da irrigação.

O manejo da irrigação é a etapa mais importante e a que deve receber maior atenção do cotonicultor. Por meio de um manejo eficiente, determina-se o momento correto de realizar a irrigação e a quantidade de água adequada, garantindo o bom desenvolvimento da cultura, o uso sustentável da água e energia e a viabilidade e lucratividade de áreas irrigadas.

Na hora certa

Determinar quanto e quando irrigar não é uma tarefa fácil. Normalmente, a maioria dos produtores realiza a irrigação baseado na sua experiência e/ou na observação de sintomas de deficiência de água presentes na planta ou solo. Esta atitude, em boa parte dos casos, tem como consequência o suprimento inadequado de água para planta, gerando perdas na produtividade e uso ineficiente da água.

Um manejo da irrigação eficiente depende da avaliação de características do solo (tipo de solo e sua capacidade de armazenamento de água), da planta (necessidade hídrica por fase de desenvolvimento) e do clima (temperatura, regime de chuvas, entre outros). A partir da análise desses fatores, determina-se o método de manejo mais adequado para cada cenário.

Manejo

Como métodos para o manejo da irrigação tem-se o manejo via solo e via clima. O manejo via solo tem como base o monitoramento da umidade do solo, enquanto o manejo via clima é baseado na determinação da evapotranspiração da cultura, que pode ser determinada pelo produto entre a evapotranspiração de referência (ET0) e o coeficiente de cultivo (Kc).

A metodologia permite avaliar o volume de água que foi consumindo, sendo possível determinar a quantidade a ser reposta e o momento oportuno para esta reposição. Atualmente, existem no mercado diversos softwares de gerenciamento e manejo que auxiliam na tomada de decisão sobre a irrigação.

A inserção dessa tecnologia no campo contribui para a substituição dos métodos empíricos por técnicas precisas, garantindo assertividade no manejo.

Conhecer a quantidade de água requerida pela cultura durante o seu ciclo produtivo também é um fator essencial na irrigação. Apesar de ser uma cultura reconhecida pela resistência à seca, o algodoeiro apresenta uma demanda hídrica de 400 a 700 mm por ciclo, podendo este volume variar de acordo com as fases de desenvolvimento da planta (inicial, vegetativo e reprodutivo), as condições de clima e solo da região em que a lavoura está instalada.

Além disso, deve ser adotado um manejo de irrigação adequado às necessidades hídricas da cultivar selecionada. Os diferentes materiais presentes no mercado possuem características particulares de crescimento e potencial produtivo, o que torna o manejo de irrigação específico para cada variedade uma estratégia satisfatória na obtenção de resultados de produtividade acima do padrão de mercado.

Testes

Em pesquisa realizada com variedade de algodão herbáceo na região oeste da Bahia, concluiu-se que a cultivar obteve respostas diferentes de produtividade de acordo com o manejo de irrigação aplicado durante o ciclo e que a irrigação em déficit garantiu o melhor resultado.

Foram testados quatro manejos de irrigação, sendo esses correspondentes a lâminas totais aplicadas de 304,82(A), 321,68(B), 344,52(C) e 371,52(D) mm, calculadas com base na evapotranspiração da cultura. O tratamento C foi utilizado como referência, recebendo lâmina correspondente à evapotranspiração da cultura, enquanto os tratamentos A e B receberam lâminas em déficit e o tratamento D, lâmina em excesso.

O volume total de chuva para o período do estudo foi de 444,0 mm, concentrados entre os meses de janeiro e abril. Na figura 1 é possível observar que a maior produtividade foi alcançada no manejo B com lâmina em déficit, em que foi obtido um rendimento médio de 475 arrobas por hectare.

Figura 1. Produtividade média obtida por manejo de irrigação.

O estudo demonstra que, para a cultivar de algodão analisada, o manejo de irrigação com economia de água é viável e proporciona a melhor resposta de produtividade. Comparado ao manejo de referência utilizado na cultivar (manejo C), houve uma redução de 6,8% no custo total da energia e um aumento de 22% no lucro.

Isto significa que aplicando o manejo adequado e orientado para as características da cultivar, foi possível elevar a produtividade gastando menos em água e energia.

Referência

A cotonicultura irrigada é referência em produtividade no oeste baiano e uma ferramenta promissora na produção de algodão em diversas regiões do País. Aliando as variedades tecnológicas presentes no mercado ao manejo da irrigação eficiente, o cotonicultor aumenta a produtividade e qualidade da sua lavoura, produzindo de forma rentável e sustentável.

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