Juliano Quarteroli Silva
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia e assistente agropecuário da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA/CATI EDR de Limeira)
A seringueira é principal fonte comercial de borracha natural no mundo, sendo esta considerada uma matéria-prima estratégica. A borracha natural apresenta grandes vantagens com relação à borracha sintética: é matéria-prima renovável e ecologicamente sustentável, além da grande importância na fabricação de produtos cirúrgicos, na indústria pneumática e de artefatos automobilÃsticos e de tantos outros setores. Estima-se mais de 40.000 produtos fabricados a partir da borracha natural.
Segundo as estatÃsticas mundiais, atualmente, 93% da produção global de borracha natural é proveniente do sudeste asiático, sendo a Tailândia, Indonésia e Malásia responsáveis por 66% do total.
O Brasil, que até a metade do século XX era o maior produtor de borracha natural, hoje responde por apenas 1,5% da produção mundial, o que corresponde a 171 mil toneladas, em 2012. Em contrapartida, neste período o país consumiu 3% do total de 11,3 milhões de toneladas, significando um custo de mais de US$ 660 milhões nas importações brasileiras.
A produção nacional concentra-se em cinco estados: São Paulo, Mato Grosso, Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais, sendo a heveicultura paulista responsável por aproximadamente 54% da produção.
Versatilidade
Além do imenso mercado, a cultura apresenta inúmeras vantagens ambientais, principalmente pela fixação de carbono. Estudos sobre o potencial das espécies florestais em gerar projetos candidatos ao recebimento de certificados de emissões reduzidas (CER’s) mostram que a seringueira apresenta maior vantagem, seguida do plantio de pinus para resinagem e eucalipto para celulose.
Isso pode ser explicado pelo fato que, além da espécie fixar o carbono da atmosfera (CO2) para o crescimento e desenvolvimento, a borracha natural também funciona como um armazenador de carbono, pois aproximadamente 88% da sua composição é constituÃda deste elemento.
Além disso, a expansão do cultivo da seringueira pode levar a uma redução, sobretudo na exploração de petróleo e gás natural quando da fabricação de borracha sintética, proporcionando a chamada “emissão evitada“ de CO2.
Ainda, outros estudos mostram que os seringais aportam um grande estoque de carbono nos solos, por meio da matéria-orgânica, sendo os valores iguais ou até mesmo superiores quando comparados com os solos de florestas nativas. E, em se tratando de uma espécie perene que exige um menor uso de mecanização do solo, quando o seringal já estabelecido no campo, este estoque de CO2 praticamente não é alterado negativamente.
Mais vantagens
No contexto social, a seringueira fixa o homem ao campo, devido à operação principal de explotação do látex, popularmente conhecida como sangria, ser totalmente manual. Portanto, a seringueira é potencial absorvedora de mão de obra de outras atividades agrícolas, que vem disponibilizando trabalhadores com o advento da mecanização, como a cultura da cana-de-açúcar e outras espécies florestais.
Manejo
Na implantação de qualquer empreendimento agropecuário devem ser observados inúmeros fatores agronômicos, portanto, é sempre recomendável o acompanhamento técnico.
No caso específico da seringueira, o planejamento inicial é fundamental e se inicia pela escolha da região de plantio de acordo com o zoneamento agroecológico da cultura. Outros fatores locais são muito importantes e também devem ser analisados, como por exemplo: a frequência de geadas e a profundidade e drenagem do solo.
Após o estudo de viabilidade técnica de implantação da cultura, os próximos passos envolvem a definição do sistema de cultivo desejado (convencional, consorciado ou agroflorestal), com consequente escolha do espaçamento e densidade de plantio e a definição dos clones a serem utilizados, sendo estes recomendados para os diferentes ambientes e escalas de plantio.
A aquisição das mudas é outro ponto crucial, principalmente para garantir a qualidade genética, fisiológica e sanitária, o que refletirá na melhor uniformidade do seringal. Após a definição desses fatores, as próximas etapas envolvem técnicas específicas de preparo, práticas de conservação, correção e adubação do solo, marcação de linhas de plantio, plantio, controle de plantas invasoras, controle de pragas e doenças e a condução da seringueira.