Não é de hoje que agricultores brasileiros, e do mundo todo, travam uma difícil batalha para controlar duas espécies de lagartas que atacam as lavouras: a Helicoverpa armigera e a Anticarsia gemmatalis. A primeira surgiu no país em 2013, mas já existia na Europa, Ásia, África e Oceania. A segunda é uma espécie que aparece no continente americano, vive bem nos ambientes tropical e subtropical, mas é considerada criptogênica, ou seja, até hoje os pesquisadores não sabem sua origem.
Ambas atacam diversas culturas, principalmente as leguminosas, causando grandes prejuízos e, por isso, são consideradas importantes pragas agrícolas. A A. gemmatalis é também conhecida como lagarta-da-soja por ser o principal inimigo dessa cultura. A H. armigera tem grande capacidade de dispersão e se alimenta de mais de 60 famílias de plantas.
Plantas no manejo integrado de pragas
Com o objetivo de controlar essas lagartas de maneira sustentável, pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente e da Embrapa Agrobiologia realizaram um estudo com óleos essenciais de nove plantas medicinais: laranja doce, gengibre, melaleuca, canela cássia, citronela, menta, orégano e manjericão.
Os resultados são muito promissores. De acordo com os responsáveis pelo projeto, esses óleos foram escolhidos porque estudos anteriores já haviam comprovado a bioatividade e o potencial de seus compostos como inseticida.
Os óleos são substâncias naturais extraídas de plantas medicinais, aromáticas e condimentares, com baixa ou nenhuma toxidez para o meio ambiente. Essa caraterística traz vantagem para a agricultura porque possibilita o controle das pragas de forma mais sustentável e este controle biológico pode ser utilizado no MIP – manejo integrado de pragas. “Com exceção da melaleuca e da citronela, os outros óleos são de plantas utilizadas na alimentação, sendo mais seguras para a administração, oferecendo menos riscos ao ambiente, animais, produtores e consumidores. Por isso, são compostos promissores para uso na agricultura”, explica a pesquisadora Jeanne Marinho Prado, da Embrapa Meio Ambiente.
Óleo essencial do manjericão
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Em laboratório, os pesquisadores identificaram os principais compostos presentes nos óleos que, depois, foram utilizados para avaliações biológicas e comportamentais das lagartas.
O manjericão-de-folha-larga (Ocimum basilicum L), também conhecido como basilicão ou alfavaca, foi um dos produtos mais eficientes no combate às duas lagartas. Em dez dias, o uso dos óleos de basilicão, canela e melaleuca provocaram a morte de metade das lagartas H. armigera, mas nenhum deles foi capaz de conter a alimentação voraz da praga.
Já na espécie A. gemmatalis, o basilicão causou a morte em 30% de lagartas e pupas (também chamado de crisálida – estágio intermediário entre a larva e o adulto). O tomilho causou 20% de mortes.
Diante desses resultados, e com a seleção dos compostos naturais mais eficazes, as moléculas serão avaliadas separadamente para saber quais têm maior potencial como inseticida. Depois, serão realizados testes em casas de vegetação – estufas para experimentos – e, na sequência, no campo. “A garantia da qualidade química dos óleos essenciais depende de boas práticas agronômicas, além da identificação da melhor época de plantio e colheita, aspectos como condições de solo, adubação e clima. Com base nesses dados de pesquisa, os produtores poderão ter acesso a esses óleos essenciais com segurança, já que essas plantas podem ser facilmente cultivadas em sua maioria”, diz a pesquisadora Lilia Salgado de Morais, da Embrapa Agrobiologia.