Glaucio da Cruz Genuncio
Doutor e professor de fruticultura – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
glauciogenuncio@gmail.com
De modo geral, existem duas formas de condução do maracujá doce, na forma de espaldadeira e de caramanchão. Para o maracujá azedo (Passiflora edulis), a mais utilizada é a de espaldadeira vertical com um fio (arame de cerca), distando do solo a 2,0 m por facilitar tanto aos tratos culturais quanto ao manejo fitossanitário.
Por outro lado, para o maracujá doce (Passiflora alata) há uma corrente que defende a condução por caramanchão. Considerando as desvantagens associadas, tais como dificuldade de acesso à cultura de forma mecanizada, a condução se dá, em sua maioria, na forma de espaldadeira.
Quanto ao sistema de irrigação, a recomendação é a utilização do gotejamento, em linhas duplas e com vazão de 8,0 L/h. Existe a viabilidade econômica para a utilização de fertirrigação e, para a aplicação de defensivos, recomenda-se a pulverização pneumática (atomizador).
Recomendações
O sistema de condução deve considerar de cinco a sete cortinas para cada ramo secundário, espaçamento simples de 2,0 a 4,0 m entre plantas e 3,0 m na rua (melhor espaçamento para as condições da baixada cuiabana (MT).
Em função da autoincompatibilidade floral, existe a necessidade de variabilidade genética, obtida pela aquisição de sementes de origem conhecida e polinização cruzada, que pode ser manual (com o uso de duas pessoas/dia/ha), realizada no período vespertino, considerando-se a viabilidade floral (curvatura do estilete x antese).
Polinização
O uso da polinização manual amplia o sucesso em taxas acima de 85%, em comparação à baixa polinização natural, realizada pelas mamangavas.
Assim, o aumento da população de polinizadores (mamangavas) pode ser um outro caminho para se aumentar a produtividade de 15,0 t/ha para até 60 t/ha. Cabe ressaltar que a presença de abelhas melíferas não é desejável no maracujazeiro, uma vez que elas afetam negativamente a taxa de polinização e, consequentemente, a produção e produtividade da cultura.
Importância das mamangavas
As mamangavas figuram como principal agente polinizador do maracujazeiro. Destacam-se pela variedade de espécies no Brasil, contendo mais de 50 espécies do gênero Xylocopa. Por ser uma abelha nativa, pode ser encontrada em todo o território nacional.
Por se abrigarem em galerias confeccionadas em madeiras velhas, a distribuição desta matéria-prima na área de plantio do maracujá é fundamental para o aumento populacional deste polinizador.
De acordo com a pesquisadora Betina Blochtein: “a presença de madeiras secas nos ambientes é de fundamental importância para evitar a perda dos recursos fundamentais para a vida da mamangava, que são ter onde morar e se alimentar”.
Estratégias eficazes
Além da distribuição de madeiras na forma de troncos para que as mamangavas habitem, o uso de plantas atrativas também é importante. São exemplos de plantas que podem ser utilizadas no entorno do maracujazeiro: Rotheca myricoides, Euphorbia pulcherrima, Bixa orellana, Tecoma stans, Solidago microglossa, Baccharis trimera, Baccharis articulata, Taraxacum officinale, Aloysia citrodora, Turnera ulmifolia, Stachytarpheta cayennensis, Hibiscus sabdariffa, Iboza riparia, Ocimum sp, Alternanthera brasiliana, Galinsoga parviflora, Bidens pilosa, Sonchus oleraceus, Tagetes erecta e Crotalaria spectabilis.
Assim, a adoção de plantios consorciados com as espécies supracitadas servirá como estratégia para incremento da população de mamangavas e, consequentemente, de aumento e produtividade do maracujazeiro.
Mais produtividade
Por ser o principal polinizador do maracujá, as estratégias de aumento desta população, objetivando aumentar a taxa de polinização de 15 a 20% para níveis superiores a 60%, é uma das principais vantagens para aumento da produtividade no maracujazeiro.
Importante investir em um plano de manejo para aumento populacional da mamangava em detrimento da utilização de mão de obra para este trato cultural.
Cabe ressaltar que o uso de várias espécies atrativas para a mamangava também potencializará o controle de pragas e doenças, como é o caso da Crotalaria para o combate de nematoides e a melhoria do aporte de N no solo.
“A mamangava aumenta a taxa de polinização de 15 a 20% para níveis superiores a 60%”